Nascer do Sol - Capítulo 21: A Pequena Bisbilhoteira

- Só isso? – Edward me perguntou enquanto eu caçava meu segundo alce.

- Se você não reparou – eu dizia, enquanto enxugava o resto de sangue da minha boca, tomando cuidado para não sujar as minhas roupas – eu sou bem menor do que você. Não preciso de tanto sangue para me saciar. Mais um coelho e estarei satisfeita. – ele riu. Reparei que ele já estava com os olhos bastante dourados. – No entanto, você vai ficar com uma bela pança. – eu disse, rindo. Ele já devia estar no seu quarto alce, procurando por um leão da montanha.

- Preciso estar seguro, Alice. Não quero fazer mal nenhum à Bella. – ele disse. Eu sabia que ele não queria. Eu sabia que ele não faria, mesmo sem ter visto.

- Você realmente a ama, não é?

- Mais do que qualquer coisa. Mais do que tudo eu quero estar sempre ao lado dela, protegendo de qualquer coisa de ruim que possa acontecer...

- O que não é tão improvável. Ela é muito desastrada. – eu ri. Ele deu um pequeno sorriso.

- Nós a divertimos? - Ele se aproximou.

- Eu vi. Nem pense em me sujar de lama. – eu disse. Nós dois rimos. Às vezes, estar na presença de meu irmão era estar na infância perdida. A infância que eu não lembro. - O que pretende fazer?

- Não seja sínica, Alice. – ele deu uma gargalhada. – Você sabe muito melhor do que eu o que eu planejo fazer.

- Eu sei, mas soa muito mais legal quando você conta. – eu disse, sentando em cima de um galho.

- Bem, hoje eu pretendo mostrar a ela como somos à luz do sol.

- Sabe que eu não consigo prever o que ela vai achar, não é mesmo? Ela não decidiu.

- Sabe o que ela está fazendo agora. – ele disse, sentando ao meu lado.

- Agora... Não... Mas em poucos instantes ela vai tomar remédios para dormir.

- Ela vai... Mas... Por quê? – ele questionou.

- Ela está muito ansiosa em ver de novo um vampirinho enxerido que pede para a irmã dele bisbilhotar a vida dela. – eu disse, enquanto bagunçava seu topete. Ele deu um grande sorriso. Ele com certeza ficou muito feliz com a notícia. Mas seu sorriso desapareceu e um ar de dúvida pairou sobre sua face.

- Por que ela se me aceitou? Eu não a compreendo. É tão frustrante não saber o que ela pensa...

- Ela te aceitou pois viu o que há de bom em você.

- Um monstro. – ele disse, colocando as mãos no rosto.

- Um ser que tem um coração. – eu disse, afastando suas mãos, fazendo com que olhasse para mim. – E mesmo que este não pulse mais, ele sente, ele sofre... Agora ele ama também.

- Eu já amava minha família. – ele tentou se defender.

- Agora é diferente. – ele falou. – Fico feliz de você estar amando. Você precisava disso.

- É, eu também estou. – ele sorriu. – Pronta pra ir para casa?



Sim, eu estava. Eu precisava ir para casa. Não conseguia ficar tanto tempo longe de Jasper e também precisava arrumá-lo. Eu sabia o que Bella vestiria e queria que o primeiro encontro deles fosse especial.



- Sabe, você está parecendo a mãe de Elizabeth Bennet, arrumando-me para conseguir um bom partido. – ele riu, enquanto pegava o suéter da minha mão e entrando em seu quarto.

- Não compare Bella a Sr. Darcy, por favor. – eu disse. Esse papel é todo seu, você é o teimoso da relação. Eu pensei.

- Ha ha, muito engraçada. – ouvi sua voz com ar de deboche. Ele abriu a porta do quarto. – Como estou?

- É a primeira vez que você pede minha opinião sobre uma roupa, sabia?

- Esta é uma ocasião especial. Não se acostume.

- Eu sei, eu sei. Você está perfeito para um primeiro encontro.

- Obrigado. Vou indo... Disse que estaria lá bem cedo. E, Alice?

- Sim! – eu respondi, já prevendo o que aconteceria.

- Não bisbilhote. É feio.

- Pode deixar. – eu disse, dando uma piscadinha. Ele revirou os olhos e sorriu.

- Até parece que eu confio em você.

- Ainda bem que você sabe. – eu disse, empurrando-o para fora de casa.

Fui procurar Jasper para avisar que já havia chegado. Fiquei um pouco com ele, antes da minha primeira visão. Corri para a cozinha, onde Esme estava mais uma vez treinando a culinária.

- Hora do show. – eu disse a ela, sentando na cadeira.

- Querida, não é educado bisbilhotar o que seu irmão está fazendo. – ela disse, colocando suas mãos delicadamente em sua cintura. Logo, abriu um grande sorriso. – Então, conte-me, o que eles estão fazendo. – Eu sabia que ela estava curiosa para saber o que aconteceria com Edward.

- Eles estão indo para a trilha que Edward mencionou. Aquela onde ele vai sempre quando quer pensar sobre a vida.

- Ah, sim. O que ele pretende?

- Mostrar como somos na luz do sol.



- E o que ela vai pensar?

- Não tenho certeza ainda. Ela não faz idéia de como é. Mas ela está decidida a ser o mais gentil e não demonstrar medo.

- Que gentileza da parte dela. – Esme suspirou. Sabia que Bella já havia conquistado Esme, sem ao menos conhecê-la.

Então, ele mostrou.

- Ela está encantada. – eu disse, sorrindo. – Mas, Edward sabe estragar o momento. Ele vai mostrar o quanto ele é forte e rápido.

- Homens são homens em qualquer espécie, querida. – ela sorriu. – Ele deve estar se exibindo para ela.

- Não é típico de Edward. – eu disse em sua defesa. Mas sabia que Esme estava certa. Apesar da intenção de Edward alertá-la de como era, acho que havia uma ponta de vaidade nisso. Ele era mais forte, mais ágil e mais bonito que qualquer outro menino da escola. Até mais do que Mike Newton. – Sim, agora é típico de Edward.

- O que mais? – Esme perguntou.

- Ela o quer. Não quer que ele vá embora. Não o quer longe dela. – fiz uma longa pausa para ver o que aconteceria. – Ele contará a ela que planejava matá-la.

- Isso é um pouco rude. E cruel. – Esme disse com um semblante assustado.

- Mas é a verdade. – eu disse com sinceridade. – Bella precisa saber dos riscos.

- Mas Edward não planeja...

- Isso não significa que ela deva baixar a guarda também. – Eu lembrei. Ela acenou com a cabeça. Entendeu o que eu quis dizer. Edward não queria ser perigoso, mas era. Ele não pretendia matar Bella, mas ele teria que ser muito forte para conseguir. – Ele está ouvindo o bater do seu coração. – Eu disse, sorrindo. Era muito bonito ver aquela cena.

- Gostaria de poder ver isso. – Esme sorriu, olhando fixo para a parede.

A próxima visão me fez gargalhar muito. Tive uma crise de risos antes que Rosalie e Emmett entrassem porta adentro e me perguntassem o que acontecia.

- Edward vai correr na floresta com Bella montada em suas costas. – eu ri. Esme abafou uma risada e Emmett deu uma grande gargalhada. Edward era o mais rápido de nós, com certeza, e Bella não estava acostumada com isso. – Ela ficará atordoada com a sensação.

- Agora ele é seu pônei particular? – Rosalie disse, enfurecida.

- Rosalie, eu... – comecei a dizer, mas a minha próxima visão atrapalhou meu raciocínio. Eu não acreditei quando eu vi. – Ai meu Deus, ai meu Deus. Edward vai beijá-la.

- O quê?! – Rosalie levantou da cadeira.

- Ha ha. O garoto está louco. Muito bem, irmãozinho. – Emmett disse. Sabia que Emmett não era mais contra o relacionamento dos dois, se isso deixava Edward feliz. Edward era seu irmão preferido.

- Ele vai beijá-la? Que bom! Ele precisa de experiências humanas. – Esme sorriu. – Agora vamos dar privacidade a eles.

- Ah, Esme, eu queria ver...

- Alice, já chega. Bisbilhotamos a vida de Edward demais por um dia. Isso não é educado. – Ela disse, voltando a cortar cubos de chocolate.

Droga. E agora, o que eu vou fazer?

Saí andando pela casa. Vi a cara emburrada de Rose, Emmett numa queda de braço lá fora com Jasper e Esme ainda continuava cozinhando. Sabia que era uma questão de tempo para Bella vir.

Carlisle estava em seu escritório quando bati a sua porta.

- Entre Alice, querida. – ele me disse, sorrindo, abrindo os braços para um abraço. – Sabe, apesar de conseguir distinguir vocês pelo cheiro, eu saberia quem é cada um pela batida que vocês tão na minha porta.

- É? – eu perguntei, curiosa.

- Sim. Você dá três batidinhas leves, Esme duas. Rosalie bate um pouco mais forte, duas vezes com um intervalo entre as duas. Jasper bate três vezes também, mas um pouco mais forte que você. Edward dá apenas uma batida.

- E Emmett?

- Emmett entra sem bater. – ele sorriu.

- Ah, claro. – eu também sorri. Típico do meu grande irmão bobo. – Estava pensando...

- Sim?

- Han... sobre o meu passado. – eu disse a ele. Conversei sobre meu passado antes, uma vez com Edward, mas não entrei em detalhes. – Eu nunca contei isso antes, só Jasper e Edward sabem...

- Sim, querida.

- É sobre uma carta. Uma carta que eu tinha antes de encontrar Jasper.

- Uma carta? De quem? – ele perguntou.

- De alguém que assinava como Caro amigo.

- Lembra do conteúdo?

- Li tantas vezes que decorei. – eu sorri. – Mas não continha informações sobre minha antiga vida. Apenas instruções. Um pequeno manual de como ser vampira.

Ele parou pensativo.

- Que bom que esta criatura se preocupou em deixar instruções, não é mesmo.

- Sim... É verdade. – eu disse, pensativa. – Gostaria de tê-la ainda. Era reconfortante saber que alguém sabia quem eu sou. Talvez eu encontre esta pessoa, este ser que me conhecia.

- Receio que esta conversa deva ficar para depois, querida. Ligaram do hospital. A senhora Newton passou mal esta noite e o médico plantonista fraturou o braço. Nós falaremos disso depois, eu prometo. – ele disse, dando um beijo na minha testa. Se não conhecesse bem meu pai, eu diria que estava tentando fugir do assunto.

- Tudo bem. – eu disse. – Até mais, pai.

Ele levantou e saiu. Continuei por um momento em seu escritório. Olhei o quatro na parede das quatro figuras brancas e impecavelmente perfeitas. Apesar de aparentarem ser mais velhos, os Volturi eram muito bonitos, mas me davam arrepios. Apesar de não conhecê-los pessoalmente, sabia que eram criaturas que eu não queria conhecer.

- Será que é por isso que o Caro Amigo não queria que eu fosse à Europa? – eu disse em voz alta.

Minha visão atrapalhou meu raciocínio. Edward estava chegando com notícias. Bella viria nos conhecer no dia seguinte.