Eternamente Dourado - Capítulo 11: Teoria

“Posso fazer só mais uma?” ela pediu enquanto eu acelerei pela rua silenciosa. Eu suspirei.

Por um lado, eu estava bem consciente de que se educamente entrasse no jogo, eu teria uma maior chance de conseguir a verdade dela. Por outro lado… posso ter sido virtuoso, mas eu não era paciente. Mas eu podia ser… dentro dos limites. Eu não tinha certeza de quanto mais eu podia estender meu já limitado controle, considerando que eu estava preso em um carro com a presa mais deliciosa que eu já havia encontrado. Empurrei o monstro na minha cabeça para um canto, determinado a vê-la como a mulher por quem eu me apaixonei e não como uma refeição.

“Uma, ” eu permiti, e em seguida fiquei tenso e desconfiado.

“Bem… você disse que sabia que eu não tinha entrado na livraria, e que eu tinha ido para o sul. Eu só estava me perguntando como você sabia disso.”

Olhei para o lado, deliberando. Ela já sabia sobre minhas habilidades de ler mentes então eu sabia que não era isso que ela estava perguntando. Ela queria saber minha natureza verdadeira e eu não estava disposto a revelar nada até ouvir sua última teoria.

“Eu pensei que não estávamos mais sendo evasivos.” , ela resmungou.

Eu quase sorri. Bem, eu não precisava entrar em detalhes, mas eu poderia dar a ela algumas informações…

“Tudo bem, então. Eu segui o seu cheiro.” Olhei para a estrada. Havia alguma coisa sbre seu dce rosto que me fazia dizer muito mais do que eu tinha pretendido. Eu não tinha outra escolha senão olhar para o lado.

“E você também não respondeu uma das minhas primeira perguntas…” ela hesitou no final.

Olhei para ela com desaprovação. “Qual?” Essas perguntas não iriam terminar nunca? Quando ela iria me contar sua teoria?

“Como funciona – essa coisa de ler mentes? Você pode ler a mente de qualquer um, em qualquer lugar? Como você faz isso? O resto da sua família pode… ?”

“Isso é mais que uma”, eu ressaltei. Era estranho como ela continuava a perguntar exatamente as questões que eu não podia responder sem revelar minha natureza verdadeira. Ela caiu em silêncio e simplesmente esperou por uma resposta. Decidi que meu “talento” era um assunto inocente o suficiente, então entrei em detalhes.

“Não, apenas eu. E eu não consigo ouvir qualquer um, em qualquer lugar. Eu tenho que estar razoavelmente perto. Quanto mais familiar é a… ‘voz’ de alguém, de mais longe eu posso ouví-la. Mas ainda assim, não mais distante do que alguns quilômetros. ” Pausei, tentando encontrar a descrição correta.” É como estar num corredor enorme e cheio de gente, todos falando ao mesmo tempo. É apenas um ruido- um zumbido de vozes no fundo. Até que me concentro em uma dessas vozes, e aí o que ela está pensando se torna claro.”

“Na maioria das vezes eu desligo todas- se não eu posso me distrair demais. E então fica mais fácil parecer normal” – franzi a testa quando disse a palavra, normal não era uma descrição adequada para um monstro como eu – “Isso quando eu não estou respondendo acidentalmente ao pensamento das pessoas ao invés de suas palavras. ”

“Por que será que você não pode me ouvir?” ela perguntou com curiosidade.

Olhei para ela e novamente sua mente estava fechada para mim.

“Eu não sei”, murmurei.” A única suposição é que talvez a sua mente não trabalhe da forma como o resto das pessoas trabalha. Como se os seus pensamentos estivessem na frequência AM e eu só estou captando Fm”, sorri, achando graça da minha analogia e surpreso que eu não tinha pensado nisso dessa forma antes.

“Minha mente não trabalha direito? Eu sou uma aberração?” ela disse apreensiva.

“Eu ouço vozes na minha cabeça e você está preocupada que você é a aberração”, eu ri.” Não se preocupe, é apenas uma teoria…” E falando em teorias…” O que nos leva de volta a você.”

Ela suspirou.

“Nós não deixamos de ser evasivos?”, eu a lembrei gentilmente.

Ela desviou o olhar de mim e eu não pude sequer ler seus olhos. Eu sabia que não poderia intimidá-la a falar ou ela jamais diria outra palavra a mim novamente.

“Minha nossa!” ela subitamente exclamou.” Vá mais devagar!”

“Qual é o problema?”, perguntei alarmado.

“Você está indo a quase duzentos por hora!” Ela ainda estava gritando. Ela lançou um olhar de pânico pela janela.

“Relaxe, Bella.” Revirei meus olhos, ainda não diminuindo. Muito raramente eu tenho a oportunidade de me mover a uma velocidade vampírica mais apropriada, dirigir depressa me permite fazer isso.

“Você está tentando nos matar?” ela exigiu.

“Nós não vamos bater.” De todas as coisas absurdas para se preocupar… ela escolhe meu modo de dirigir.

“Por que você está com tanta pressa?” Sua voz diminuiu um pouco, mas o pânico ainda estava claro.

“Eu sempre dirijo assim.” Me virei para sorrir torto para ela.

“Mantenha os olhos na estrada!”

“Eu nunca sofri um acidente, Bella – eu nunca sequer levei uma multa.” Sorri e dei um tapinha na minha testa.” Detector de radar embutido.”

“Muito engraçado”, ela falou brava.” Charlie é policial, lembra? Eu fui criada para obedecer as leis de trânsito. Além do mais, se você bater e nos transformar em uma sanfona de Volvo ao redor de um tronco de árvore, provavelmente você apenas pode se levantar e sair dele.”

“Provavelmente”, eu concordei com uma risada curta e dura. Sanfona de Volvo, certamente.” Mas você não.” Suspirei e deixei o ponteiro do velocímetro gradualmente cair para oitenta.” Feliz?”

“Quase.”

“Eu odeio dirigir devagar”, eu murmurei.

“Isso é devagar?”

“Chega de comentários sobre como dirijo.” , eu disparei, perdendo o resto da minha paciência.” Eu ainda estou esperando pela sua última teoria. ”

Ela mordeu seu lábio. Olhei para baixo e me dirigi a ela com gentileza.

“Eu não vou rir.” , prometi, tentando encorajá-la.

“Eu estou com mais medo que você fique com raiva de mim.”

“É assim tão ruim?”

“Em grande parte, sim.”

Esperei. Ela estava olhando baixo, para suas mãos.

“Vá em frente.” , mantive minha voz calma.

“Eu não sei como começar.” , ela admitu.

“Porque você não começa pelo princípio… Você disse que não foi você quem criou essa teoria.”

“Não.”

“Onde você a encontrou- num livro? Um filme?” indiquei. No passado era usualmente um livro que levantava as suspeitas sobre minha família. Nos tempos mais modernos era geralmente um filme.

“Não – foi sábado, na praia.”

Fiquei confuso. Não fazia sentido nenhum. Ela olhou para mim cautelosa.

“Eu encontrei com um amigo antigo da família- Jacob Black, ” ela continuou.” O pai dele e Charlie são amigos desde que eu era bebê.”

Eu ainda estava confuso.

“O pai dele é um dos anciãos Quileute.”

Eu congelei, imaginando o que aqueles irritantes Quileutes poderiam ter feito agora.

“Nós fomos dar uma volta”, ela pausou e eu sabia que havia alguma coisa que ela não estava me dizendo, “E ele estava me contando umas lendas antigas- tentando me assustar, eu acho. Ele me contou uma…” ela hesitou.

“Vá em frente”, eu disse, mantendo minha calma.

“Sobre vampiros”, ela sussurrou.

Meus dedos apertaram convulsivamente no volante. Eu não podia acreditar que ela ousava dizer a palavra em voz alta, enquanto estava em um carro exatamente com a criatura da qual ela estava falando. Mas, novamente, ela não tinha dito explicitamente que eu era um vampiro, ainda não. Eu tinha que ter certeza…

“E você imediatamente pensou em mim?” Minha voz se manteve firme.

“Não. Ele… mencionou sua família.”

Eu fiquei em silêncio, encarando a estrada. Minha família. É claro. Então, Bella sabia. A humana por quem eu havia me apaixonado sabia o meu terrível segredo, algo sobre o qual ela jamais deveria saber. E minha família… o que eles fariam agora que um humano sabia?

Jasper seria protetor, claro, trazendo de volta seus antigos instintos de batalha. Sem dúvida, Emmett felizmente ficaria do seu lado, assim como Rosalie. Alice, todavia, tinha suas visões nas quais ela se apoiava desesperadamente. Eu não podia dizer se ela precisava provar que estava certa, ou se simplesmente queria uma nova adição à nossa família.

Meus pais apoiariam, é claro. Entretanto, eu sabia que eles apoiariam mais em nos manter longe da exposição. Tudo se resumia a uma escolha, a morte de Bella ou sua transformação. Eu não podia concordar com nenhuma das escolhas. Eu jurei, então, lutar pela vida de Bella não importa o que aconteça. Eu morreria felizmente por ela…

“Ele só achava que era uma superstição boba.” , ela disse rapidamente. Era algo estranho de se dizer, ela disse tão de repente que eu me encontrei distraído dos meus pensamentos sombrios.” Ele não esperava que eu pensasse nada dela.” Sua voz diminuiu novamente e um toque de vergonha coloriu seu tom.” Foi minha culpa, eu forcei ele a me dizer.”

Forçou-o? Por que ela já sabia ou por que queria confirmação? “Por quê?”

“Lauren disse uma coisa sobre você – ela estava tentando me provocar. E um garoto mais velho da tribo disse que sua família não ia até a reserva, só que pra mim pareceu que ele quis dizer outra coisa diferente. Então eu fiquei sozinha com Jacob e tirei a verdade dele.” , ela admitiu, deixando sua cabeça cair.

Risadas explodiram de mim. Bella Swan poderia muito bem ser mais perigosa do que eu era.

“Tirou a verdade como?”, eu perguntei.

“Eu tentei flertar com ele – e funcionou melhor do que eu imaginava que funcionaria”, ela disse com descrença.

“Eu gostaria de ter visto isso.” , eu ri obscuramente.” E você me acusando de deslumbrar as pessoas – pobre Jacob Black.”

Ela corou e olhou pela janela, para a noite.

“E o que você fez depois?”, perguntei depois de um minuto. Ela contou aos Quileutes que conhecia seus inimigos mortais?

“Eu fiz algumas pesquisas na Internet.”

“E isso te convenceu?” eu disse em um tom pouco interessado embora ainda estivesse tenso. Havia inúmeros sites ridículos dedicados a vampiros. Se Bella acreditou em alguma coisa daquilo, ela não saberia da minha verdadeira natureza.

“Não. Nada se encaixava. A maioria das coisas era meio boba. E então…” ela parou.

“O quê?” Meu Deus, a maneira como ela editava era pura tortura!

“Eu decidi que não importava”, ela cochichou.

“Não importava?” eu disse incrédulo.

“Não”, ela disse suavemente.” Pra mim não importa o que você é.”

Minha voz me traiu nesse momento. A imagem de um cordeiro e do assassino voltou à minha mente. E eu me odiei.” Você não se importa se eu sou um mostro? Se eu não sou humano!” Se eu te matasse e drenasse todo o seu sangue?!

“Não.”

Fiquei em silencio novamente, olhando direto para a frente. Não importa, ela tinha dito, as palavras ricocheteando na minha cabeça como bolas psicóticas. O pequeno e feliz cordeiro me diz que não se importa se sua vida está nas mãos de um monstro? Ela estava fora de seu juizo.

E se… não importasse que eu estava apaixonado por minha própria presa?

“Você está com raiva.” , ela suspirou.” Eu não devia ter dito nada.”

“Não”, eu disse, incapaz de fazer minha voz soar tão suave quanto as minhas palavras.” Eu prefiro saber o que você está pensando – mesmo se o que você estiver pensando for uma loucura.”

“Então eu estou errada de novo?” ela desafiou.

“Não era a isso a que eu me referia. ‘Não importa’!” eu citei amargamente.

“Eu estou certa?” ela gaguejou.

“Isso importa?”

Ela respirou fundo.

“Na verdade não.” , ela pausou.” Mas eu estou curiosa.”

Não importava mais, suas palavras se tornaram as minhas. Deixe os dados rolareme cairem onde devem, eu tinha dito para ela antes. Eu era tão idiota. Eu desisti, mais uma vez. Sua beleza e poder sobre mim eram grandes demais.

“Você está curiosa sobre o que?” eu suspirei.

“Quantos anos você tem?”

“Dezessete, ” respondi automaticamente, um hábito muito muito antigo.

“Há quanto tempo você tem dezessete?”

Lutei contra um sorriso enquanto encarava a estrada.” Há algum tempo.” admiti finalmente.

“Ok”, ela sorriu, soando satisfeita. Olhei fixamente para ela, a observando com cuidado. Sua reação me preocupou. Eu imaginei que conseguiria parar o carro rápido o suficiente para que ela pudesse sair correndo e gritando para longe de mim, como ela já deveria ter feito. Então ela sorriu mais largamente e apenas me confundiu ainda mais. Ela queria que eu parasse o carro agora? Ela era completamente louca? Eu só podia franzir a testa para ela.

“Não ria de mim – mas como é que você consegue sair durante o dia?”

Eu ri de todo jeito.” Mito.” , eu respondi, achando graça de ela ter mencionado os estereótipos de Hollywood.

“Você queima no sol?”

“Mito.”

“Dorme em caixões?”

“Mito.” Hesitei por um momento, lembrando de todas as vezes que a observei dormir como… uma humana.” Eu não posso dormir.”

Ela pausou por um minuto inteiro.” Nunca?”

“Nunca”, eu sussurrei. Me virei para olhar para ela melancólico. Ela sabia quanta sorte ela tinha de ser humana? Ela me encarou de volta até eu desviar o olhar.

Bella Swan sabia que eu era um vampiro. Mas eu não senti que ela sabia o suficiente dos detalhes, ela ainda estava calma demais. Ela precisava saber o quão perigoso eu era.

“Você ainda não perguntou a coisa mais importante.” Me arrependi de ter que sequer discutir esse aspecto de minha natureza, mas pelo bem de sua segurança, era necessário. Virei meus olhos para ela novamente, bem peparado para a iminente rejeição .

Ela piscou.” E qual é?”

“Você não está preocupada sobre a minha dieta?”, perguntei sarcasticamente.

“Oh”, ela murmurou, “isso.”

“Sim, isso.” Eu sabia que minha voz estava sombria. Se algum detalhe causaria repulsa nela, seria esse.” Você não quer saber se eu bebo sangue?”

Ela vacilou.” Bem, Jacob me disse algo sobre isso.”

“O que Jacob disse?”, perguntei monótono.

“Ele disse que vocês não… caçavam pessoas. Ele disse que sua família supostamente não era para ser perigosa porque vocês só caçam animais.”

“Ele disse que não éramos perigosos?” Eu estava profundamente incrédulo.

“Não exatamente. Ele disse que vocês supostamente não deviam ser perigosos. Mas os Quileutes ainda não queriam vocês nas terras deles, só por precaução.”

Olhei para a frente, olhando intensamente para a noite. Eu podia me lembrar do primeiro dia que eu encontrei o chefe dos Quileutes em claros detalhes. Me lembrei de Ephrarim Black me contando suas histórias. Era incrível que eles conseguissem passar essas histórias de geração a geração, por anos. Carlisle e eu acreditávamos que, desde que a linha de lobos morreu, suas histórias também.

“Então ele estava certo? Sobre não caçar pessoas?” ela perguntou.

“Os Quileutes têm uma boa memória”, eu sussurrei.

Pelo canto do meu olho eu a vi nítidamente relaxar e sorrir.

“Porém, não deixe isso te enganar”, eu a avisei.” Eles estavam certos em manter distância de nós. Ainda somos perigosos.”

“Eu não entendo.”

“Nós tentamos”, eu expliquei lentanente.” Geralmente somos muito bons no que fazemos. Às vezes cometemos erros. Eu, por exemplo, me permitindo ficar sozinho com você.”

“Iso é um erro?” ela perguntou com tristeza. Eu não queria que ela ficasse triste, mas eu tinha que ser claro.

“Um erro muito perigoso.” , eu murmurei.

Ficamos ambos em silênco então. Eu sabia que estávamos nos aproximando da casa dela e em ebreve eu teria que deixá-la. Possivelmente para sempre.

“Me conte mais.” Ela de repente pediu, desesperadamente.

Olhei para ela rapidamente, surpreso com a mudança em seu tom.” O que mais você quer saber?”

“Me diga porque você caça animais ao invés de pessoas”, ela sugeriu, sua voz ainda tingida de desespero. Seus olhos brilharam, muito parecido como quando ela olhou para as correntes de neve em sua pickup naquela manhã fatídica.

“Eu não quero ser um monstro”, eu disse, como uma forma de pedido de desculpa.

“Mas animais não são o suficiente?”

Eu pausei, tentando pensar em uma analogia apropriada.” Eu não posso ter certeza, é claro, mas eu acho que é como viver a base de tofu e leite de soja; nós nos chamamos de vegetarianos, nossa piadinha particular. Não sacia a fome por completo – ou melhor dizendo, a sede. Mas nos mantêm fortes o suficiente para resistir. Na maioria das vezes. ” O tom da minha voz mudou, saindo como um aviso.” Algumas vezes são mais difíceis que outras.”

“Está muito difícil para você agora?”, ela perguntou.

Eu suspirei.” Sim.”

Ela não tinha a menor ideia. Durante toda a viagem no carro, o monstro em minha cabeça estava literalmente babando enquanto eu sentia seu luxoso aroma. Se eu não fosse cuidadodo, mesmo por um segundo, o monstro pularia à frente e eu afundaria meus dentes em sua pele macia. E eu beberia… e continuaria bebendo… e beberia mais… Silenciosamente rangi meus dentes.

“Mas você não está com fome agora.” Ela disse confiante – afirmando, não perguntando.

“Por que você acha isso?”

“Seus olhos. Eu disse que tinha uma teoria. Eu percebi que as pessoas – homens em particular – são mais mal humorados quando estão com fome.”

Eu ri.” Você é muito observadora, não é?”

Ela não respondeu, apenas permaneceu sentanda ali, sorrindo para mim.

“Você estava caçando com Emmett esse fim de semana?” ela perguntou quando estava silêncio novamente.

“Sim.” , pausei, tentando decidir se contava ou não o quanto meu sentimento por ela era profundo.” Eu não queria ir embora, mas foi necessário. É um pouco mais fácil ficar perto de você quando eu não estou com sede.”

“Por que você não queria ir?”

“Me deixa… ansioso… ficar longe de você. ” Eu pensei sobre ela gentilmente, percebendo que eu não ficava ansioso somente por ficar longe dela, ansioso em relação à sua segurança, mas eu também sentia saudades dela.” Eu não estava brincando quando te disse pra ficar longe do oceano ou sobre ser atropelada na quinta. Eu estava distraído durante o fim de semana inteiro, preocupado com você. E depois do que aconteceu hoje à noite, eu estou surpreso que você tenha sobrevivido ao fim de semana sem nenhum arranhão.” Balancei a cabeça, relembrando os arranhões que percebi em suas mãos quando seus dedos me tocaram no restaurante.” Bem, não exatamente sem um arranhão.”

“O quê?”

“Suas mãos.” lembrei-a. Ela olhou para baixo, para as palmas de suas mãos.

“Eu caí.” , ela suspirou.

“Foi o que eu pensei.” , eu sorri.” Eu acho que, sendo você, podia ter sido bem pior – e essa possibilidade me atormentou o tempo inteiro em que estive fora. Foram três dias bem longos. Eu realmente deixei o Emmett louco.” , sorri para ela pesaroso.

“Três dias? Vocês não voltaram apenas hoje?”

“Não, nós voltamos no domingo.”

“Então porque nenhum de vocês foi para a escola?”, ela pareceu frustrada, quase brava, por alguma razão estranha.

“Bem, você perguntou se o sol me machuca, e não machuca. Mas eu não posso sair na luz do sol – pelo menos não onde alguém pode ver.” .

“Por que não?”

“Te mostrarei alguma hora dessas.” , eu prometi ousado, sabendo muito bem que essa era uma promessa que não sabia se poderia cumprir.

Ela pausou.” Você podia ter me ligado.” , ela decidiu.

Por que afinal eu iria ligar para ela? “Mas eu sabia que você estava em segurança”.

“Mas eu não sabia onde você estava. Eu…” . Ela hesitou, deixando seus olhos cairem.

“O quê?”

“Eu não gostei. De não te ver. Me deixa ansiosa também.” , ela corou.

Oh… oh minha querida Bella… ela não deveria… ela não pode… o que eu tinha feito?

“Ah”, gemi baixinho.” Isso é errado”.

“O que foi que eu disse?” ela disse confusa.

“Será que você não vê, Bella? Uma coisa é eu me miserável. Outra completamente diferente é você estar tão envolvida.” Virei meus olhos para a estrada. Eu me segurei pelo o que eu estava prestes a fazer — abrir mão dela. “É errado. Não é seguro. Eu sou perigoso, Bella – por favor, compreenda isso.”

“Não. ”, ela disse teimosa.

“Eu estou falando sério.” Eu grunhi.

“Eu também. Eu te disse, não importa o que você é. É tarde demais.”

Disparei para ela, “Nunca diga isso.”

Ela mordeu seu lábio e olhou fixamente para a estrada.

“Em que você está pensando?”, eu perguntei, minha voz ainda seca. Ela não respondeu e só balançou a cabeça, mantendo os olhos para frente. Então eu vi as lágrimas deslizarem por suas bochechas.

“Você está chorando?”, eu perguntei, pasmo.

“Não.” Ela disse, mas sua voz vacilou.

Me virei em sua direção, hesitante e sem pensar, com minha mão direita. Eu queria secar todas aquelas lágrimas, eu queria tomar de volta minhas palavras. Mas eu não fiz isso. Lentamente coloquei minha mão de volta no volante.

“Me desculpe.” Arrependimento me queimava até o fundo. Arrependimento pelas palavras, arrependimento por trazer essa humana inocente para dentro do meu mundo por causa dos meus desejos egoístas. Arrependimento era realmente uma palavra atroz, um verdadeira maldição em si.

Eu teria que deixá-la, era a única escolha que restava naquele momento. A ideia me causou uma dor sem fim. Era uma ideia horrível, ter que observá-la de longe, vê-la crescer e viver sua vida humana inteira. Mas apenas era horrível para mim. Então eu pensei na possibilidade de Bella vivendo uma vida completa. Considerando quantos acidentes parecem persegui-la, de repente eu já não tinha tanta certeza.

“Me diga uma coisa.” Eu perguntei enquanto me esforçava para usar um tom mais suave.

“Sim?”

“No que você estava pensando hoje à noite, pouco antes de eu virar a a esquina? Eu não conseguia entender a sua expressão – você não parecia tão assustada, parecia que você estava se concentrando bastante em alguma coisa.”

“Eu estava pensando em como incapacitar um atacante – você sabe, auto-defesa. Eu ia enfiar o nariz dele dentro de seu cérebro.”

“Você ia lutar com eles?” Ela jamais venceria uma briga como aquela, era muito angustiante sequer pensar sobre isso.” Você não pensou em correr?”

“Eu caio muito quando corro”, ela admitiu.

“E quanto a gritar por ajuda?”

“Eu estava chegando nessa parte”. Eu balancei minha cabeça.

“Você estava certa- eu definitivamente estou lutando contra o destino tentando manter você viva. ”

Não, eu decidi bem ali e naquele momento, eu não iria simplesmente observá-la de longe. Eu ficaria ao seu lado, todos os dias. A morte seria a única coisa que me pararia.

Ela suspirou. Eu diminiui a velocidade quando passamos pelos limites de Forks.

“Eu vou ver você amanhã?” ela exigiu.

“Sim. ”, e cada dia depois, “Eu também tenho um trabalho para entregar.” Respondi, relembrando como linda ela estava se esforçando em fazer seu trabalho no domingo passado.” Eu vou guardar um lugar pra você no almoço. ” Eu prometi. Essa promessa, pelo menos, eu podia cumprir.

Estávaos ambos em frente à casa de seu pai. Eu parei o carro.

“Você promete que vai estar lá amanhã?”

“Eu prometo.”

Ela pausou, parecendo estar pensando sobre as minhas palavras, em seguida acenou com a cabeça. Ela tirou meu casaco, pressionando seu nariz contra o couro enquanto o tirava.

“Você pode ficar com ele – você não tem uma jaqueta para usar amanhã.” , a lembrei . O que era verdade, mas eu também não tinha certeza se ter o casaco por perto era seguro, considerando que agora ele tinha o cheiro de Bella.

Ela me entregou de volta.” Eu não quero ter que explicar ao Charlie.”

“Oh, certo.” Eu sorri.

Ela hesitou, sua mão na maçaneta da porta. Durante essa breve pausa minha mente correu, considerando todas as possibilidades de não vê-la até a manhã seguinte. Ela precisava estar segura, eu jamais poderia viver comigo mesmo se alguma coisa acontecesse com ela quando eu virasse as costas.

“Bella?” eu perguntei em um tom diferente – sério, mas hesitante.

“Sim?” ela se virou de volta para mim avidamente.

“Me promete uma coisa?”

“Sim”, ela respondeu automaticamente, mas seus olhos ficaram subitamente alarmados. Eu decidi fazer meu pedido simples.

“Não vá na floresta sozinha.”

Ela me encarou confusa.” Por quê?”

Eu franzi a testa e olhei fixamente através da janela.

“Nem sempre sou a coisa mais perigosa lá fora. Vamos deixar assim.”

Ela se encolheu levemente com a súbita inexpressão em minha voz, mas o alarme deixou meus olhos.” Como você quiser.”

“Te vejo amanhã.” , eu suspirei. Me senti péssimo por ter que deixá-la, mas eu tinha sido exposto ao seu cheiro por tempo demais.

“Até amanhã, então.” Ela abriu a porta sem vontade.

Não… espere…

“Bella?” Ela se virou e eu estava inclinando em sua direção, meu rosto a apenas polegadas do dela. Inalei seu glorioso aroma. O monstro grunhiu na minha cabeça mas eu não me importei. Então ouvi seu coração parar de bater.

“Durma bem.” , eu disse. Aproveite sua humanidade por mais uma noite, minha doce Bella.

Ela piscou e seus olhos reluziram. Eu sorri para mim mesmo por finalmente entender. Deslumbrar. Eu me inclinei de volta, eu não queria exagerar no “deslumbre” nem inalar demais do seu cheiro.

Levou um tempo para ela se mover, então ela saiu do carro estranhamente, tendo que usar a lateral como apoio. Eu ri comigo mesmo, observando-a ficar… deslumbrada. Esperei até que ela chegasse à porta da frente, e então liguei o carro.

Foi o maior tempo que tinha passado com um humano em um lugar tão pequeno e fechado. O queimar em minha garganta tinha sido bem doloroso, mas depois se tornou uma dor leve. Eu esfreguei meu peito, imaginando por que a dor iria estar bem ali. De repente, me ocorreu que eu já sentia falta dela.

Pela primeira vez em noventa anos, eu de fato me sentia muito aquecido.