Meia-Noite Envenenada - Capítulo 8: Névoa No Oceano

Eu não sabia descrever as sensações que percorriam pelo meu corpo naquele instante; nunca tinha vivenciado essa experiência antes. Queimando… Sim, eu estava definitivamente queimando. Mas, não era o mesmo fogo incansável e sombrio que o de ser transformada – muito longe disso – era simplesmente pior. Era o fogo da fúria que ardia aceso dentro das minhas veias e o fogo do ódio precipitando a batalha… O fim chegaria á um de nós naquela tarde nebulosa. “Em breve ele não passará de uma vaga memória dos Volturi…” Layla havia prometido. E então, eu olhei intensamente nos olhos vermelhos dele. Não havia mais a Bella, nós éramos apenas vampiros.

Eles eram nove – dois que eu particularmente conhecia de longa data e outros que não me interessavam – e a única coisa que meu corpo desesperado ansiava eram os meus dentes encravados no pescoço deles. Nós também éramos nove… O que nos diferenciava da guarda dos Volturi que agora nos ameaçava eram a raiva e a loucura nos olhares – os nossos de certa forma ainda mais intensos – e então, havia também a confiança percorrendo entre nós. Tudo daria certo e sabíamos disso. Layla – eu não pude conter a admiração que tingiu a minha voz ao pensar nela – estaria sempre nos protegendo. Nem a distância não era capaz de separar a minha família… Nunca.

Eu não conseguia sentir medo – nem sequer havia vestígio de receio entre os meus pensamentos –, eu me sentia muito mais preparada agora para essa batalha do que há dez anos… Nessie estava muito bem protegida e Edward estava comigo.

Os meus olhos ainda estavam fiéis observando Felix – desviá-los demonstraria uma covardia que não existia – mas mesmo assim eu sabia que Edward ao meu lado estava como sempre. Glorioso e perfeito; com a atenção completamente para todos os aspectos do imóvel e sorridente Demetri. Alice estava ao seu lado e na companhia de Jasper. Eu entendia agora porque ela nunca esteve em mais risco do que os outros apesar de sua aparência tão pequena, mas era impossível eu vê-la de maneira frágil quando conseguia sentir a rigidez no meu corpo. E Jasper estaria protegendo-a.

A névoa estava densa no verde apagado da clareira que estávamos – ao norte e distante das montanhas do Olympic – mas era inegável que o tom sombrio parecia perfeitamente ajustado para aquele momento. Lentamente eu fechei os meus dedos no pulso instigando e então eu senti o olhar de Edward queimando no meu rosto. A minha concentração rapidamente seria dilacerada assim que eu me virasse para ele, mas era impossível resistir ao desejo de ver mais uma vez o encanto dourado em seu olhar intenso. Eu faria de tudo pra protegê-lo – ninguém poderia nos separar – e não poderia ser tão ruim se estivéssemos juntos. O meu escudo recuou; o suficiente.

Eu amo você… Apenas um último pensamento enquanto eu encontrava com a ferocidade em seu rosto cedendo lugar ao deslumbre. Os meus dedos se suavizaram instintivamente com o toque de Edward no meu pulso e a sua mão então se apertou calorosa na minha. Em algum lugar Carlisle, Esme, Rose e Emmett esperavam por nós e o coração de minha filha batia suavemente impulsionado pela minha promessa. Eu havia dito que voltaria, mas jamais iria para um lugar em que ele não estivesse.

Mesmo que não fosse o momento mais ideal para isso, eu também não podia deixar de pensar no que estaria acontecendo com minha família e nossos amigos. Eu queria desesperadamente que Felix estivesse queimando para que pudéssemos ver o que teria acontecido á aqueles que amávamos e – apesar da promessa de uma safira com olhos profundamente azuis de que os protegeria – eu não podia deixar de temer pela segurança deles. Será que perderíamos alguém dessa vez? Apenas pensar nessa possibilidade era muito doloroso… Layla conseguiria então? Ela devia conseguir.

Eu olhei para Zafrina ao meu lado – sua postura vagamente selvagem de uma forma que me lembrava Layla – e então para os Denali logo em seguida – o corpo de Garrett posicionado desnecessariamente protetor na frente de Kate; os choques dela seriam capazes de mantê-la segura – e enfim, voltei mais uma vez pra Alice e Jasper. Não ficaria surpresa se alguém retribuísse o olhar á minha observação nada discreta – como Alice tinha feito – mas, o que me deixou verdadeiramente inconformada ao vê-la olhando para mim era o sorriso malicioso em seu rosto… Ansiando o confronto tanto quanto eu também. Então, voltei com a atenção para o norte da clareira.

Aconteceu tudo muito rápido. Antes que eu ao menos conseguisse focalizar os nove vampiros muito distantes de nós eu vi Edward se posicionar protetoramente na minha frente quando Felix saltou para nossa direção – a sua corrida ferina e violenta. Não havia mais ninguém com ele – os outros continuaram perfeitamente imóveis em suas posições agachadas e ansiosas para segui-lo – e então o veneno ardeu na minha boca. Eu estava com sede… Muita sede. Era certamente fácil imaginar o alvo dele – o seu olhar furioso não saia do meu rosto descarado aberto em um sorriso – e eu nem ao menos conseguia descrever as sensações dentro do meu corpo… Queimando.

A minha voz estava rouca com o grosso rosnado enquanto que meus dedos se enroscavam na camisa de Edward – se pra me conter ou contê-lo eu não sabia – e eu notei que seu corpo estava tremendo com a ansiedade assim como os dedos de Kate se dobravam como se estivessem faiscando. Felix continuava se aproximando em um incansável segundo com o perceptível tom de glória no rosto e então eu esperei. As minhas mãos presa em Edward sentiram os seus músculos enrijecerem prontos para confrontá-lo e quando eu me preparava pra segui-lo algo imprevisto aconteceu.

Assim que faltavam apenas alguns poucos metros para nos alcançar, Felix fora atirado violentadamente pelo ar – parecia mais que ele estava voando desgovernado – e então jogado aos pés dos outros vampiros que o acompanhavam. Mesmo que ele tivesse rapidamente se levantado de forma que poderia tentar outro ataque até nós – aproveitando o perceptível assombro e o choque que tinha nos feito incapazes de reagirmos –, Felix não o fez. Em seu rosto maliciosamente sorridente eu percebi que não havia a mesma surpresa que estava na expressão de minha família – nem sequer no rosto de seus companheiros – e então, me veio a rápida compreensão de que em oposto de nós… Eles pareciam perfeitamente conscientes do que havia ocorrido.

Eu teria facilmente continuado a pensar em inúmeras explicações se não fosse a claridade estranha que agora estava pairando ao ar no meio da clareira – entre nós e eles – porém, mais perto de nós. Aquela delicada e fraca luz formava uma pequena – e curiosa – e fina parede exatamente de onde Felix havia sido jogado e então, após um breve segundo ela havia desaparecido. Não havia som na clareira que não fosse a respiração agitada dos que estavam ao meu redor – apenas olhares completamente intrigados… Perturbados – e minha atenção continuava ainda fielmente onde aquele brilho tinha sumido. Vagamente me lembrava uma barreira… Um escudo. Layla.

Se eu não estivesse suficientemente concentrada nos nove vampiros ao norte então teria perdido o andar veloz – furioso – e ainda assim claramente gracioso com que eles se aproximavam novamente para nos atacar. A imensa onda de adrenalina no meu corpo se intensificou apesar de saber que agora nada poderia chegar até nós e então meus dedos se dobraram mais uma vez na camisa de Edward. Não havia sido como da primeira vez – quando Felix chocou-se contra o escudo e fora atirado longe – dessa vez, eles simplesmente saltaram um pouco antes de onde surgiu aquela fraca luz e então se jogaram contra a barreira. Os passos pareciam coreografados tamanha era a elegância com que eles se movimentavam; como se voassem sobre o verde.

Suaves e pequenas claridades surgiram novamente quando eles atingiram em lugares afastados o escudo que nos protegia – maior do que eu havia imaginado – e então com certa leveza voltaram a pousar graciosamente em pé após serem jogados ao longe. Apesar do claro fracasso que havia sido a tentativa inútil de nos atingirem, eles estavam sorrindo em nossa direção – algo naquelas expressões me dizia que não havia acabado ainda – mas, a única coisa que percorreu o meu corpo naquele exato momento era satisfação – diversão – com a decorrência. Eu sorri deliciada á eles.

- Há anos que eu espero essa oportunidade… – a voz maliciosa de Felix soou na clareira pela primeira vez depois do intenso silêncio. –Anos que eu espero para revê-la… Se você acha que o escudo de sua pedra preciosa será o suficiente, está enganada! – as palavras de Felix eram claramente uma ameaça, mas então o sorriso cresceu no meu rosto, completamente divertida. – Você sabe, Bella… Scarlet estava ansiosa para conhecê-la especialmente… – eu senti Edward tremer em minhas mãos com o furioso rosnado que saia de seu peito. Felix o ignorou. – Eu gastei muito tempo convencendo-a de que você era minha, para que a deixasse pra mim… Eu sonho com essa chance!

Ótimo. Isso faz de nós, dois, então… A minha mente estava enlouquecida pela raiva e eu sentia que meu corpo não agüentaria mais uma provocação. Felix dirigiu o seu olhar – intenso e significativo – brevemente pra um dos vampiros desconhecidos ao seu lado e então, voltou com a sua atenção á nós. O infalível sorriso no rosto.

- Victtore tem um poder muito… Intrigante! Acredito que o seu colega e Eleazar saibam muito bem disso e talvez, até a nossa adorável Alice… – eu não me importava com as ameaças sujas de Felix, mas quando ele falou o nome de minha irmã favorita eu senti a necessidadede despedaçar á sua jugular. Jasper soltou um rosnado áspero e muito bem audível. – Entretanto, seu irmão Alighiero… – Felix apontou pro vampiro logo ao lado do tal Victtore. – É tão talentoso quanto! Juntos eles são capazes de fazer coisas grandiosas e extraordinárias… Incríveis! – havia certa reverência na sua voz.

Os dois vampiros ao lado de Felix tinham a aparência tão sombria quanto toda a guarda dos Volturi – mantos absurdamente pretos e olhares vermelhos famintos – mas havia também algo mais em seus traços. Um inquestionável tom de autoridade os deixava ainda mais assustadores – eu estive tão concentrada apenas em Demetri e Felix antes que não os tinha notado até então – e, as olheiras roxas quase pretas na pele branca de mármore lhe davam a graça de serem velhos apesar dos quase trinta anos que dissimulavam. Eu não fazia a menor idéia de qual deveria ser o poder deles, mas, um rápido pensamento me fez compreender que eles deviam ser perigosos.

O tom ameaçador que eles representavam indicava facilmente isso, mas havia sido outra linha de raciocínio que me despertou. Até então Alec e Jane sempre foram a arma ofensiva dos Volturi então me surpreendia agora que eles não tivessem vindo – especialmente Jane; quem eu tinha certeza de que adoraria se juntar á Felix pra me destruir –, o que significava que esse tal Victtore e Alighiero deveriam ser piores.

Eu tinha que admitir… Eles realmente estavam preparados para o confronto.

- Você vê, Bella… Eu realmente sinto que tenha que acabar tão… Dolorosopara você, mas é o que deve acontecer! – Felix continuou após o breve silêncio. – Ah, claro, apenas uma última coisa á esclarecer antes… Alice, eu tenho permissão para oferecê-la se juntar á nós. Aro tem grandes planos para você. Acredito que possa te interessar!

O rosnado de Jasper estava enlouquecido – cego –, dominado pela fúria e meu olhar se endureceu com as palavras forçadamente gentis de Felix. O sorriso malicioso em seu rosto parecia me convidar cada vez mais. Eu estava sufocando com a vontade de acabar logo com isso. Apenas o que me impedia era Edward na minha frente.

- Não, obrigada! – o tom doce de Alice estava tranqüilo. – Não tenho interesse!

- Mas que pena… – Demetri falou pela primeira vez após muito nos observar. A sua voz continha o mesmo tom impecavelmente educado da qual eu me lembrava. – Então, devo acrescentar que nós também recebemos a ordem de levá-la conosco!

- Aro tem uma safira – Tanya disse o nome com um perceptível desprezo. – E se eu bem me lembro, elas podem absorver poderes! Os Volturi não precisam da Alice!

Uma divertida – baixa – risada soou maliciosa no sorriso educado de Demetri.

- Isso é irrelevante, Denali! Pense nisso como um valor sentimental… Há oitenta anos que Aro espera por Alice… que todos nós esperamos por ela. Vocês não deveriam achar que desistiríamos tão fácil de alguém tão especial para essa família…

- Vocês deveriam… – apesar do escárnio o tom de Kate estava endurecido.

- Bom, parece que fizeram suas escolhas… – Felix olhou significativamente em direção á Victtore ao seu lado por um breve segundo assim que a sua voz soou nosso veredicto. Os dois vampiros que antes eu desconhecia deram um passo á frente.

Eu não sabia muito bem o que esperar deles. Edward talvez soubesse – então por isso ainda não havia relaxado de sua posição ofensiva –, mas eu não perguntaria á ele demonstrando receio e a minha curiosidade na frente de Felix. Os meus olhos – apesar de muito atentos na forma que o vermelho queimando na pupila de Victtore e Alighiero dilatava – perceberam que os outros sete á suas costas estavam inquietos com o sorriso de antecipação. Antes que eu sequer pudesse pensar em alguma coisa – qualquer coisa – uma carregada e forte corrente de ar deslizou em meu corpo.

Então era isso. Foi simplesmente impossível conter minha expressão de horror quando me veio a compreensão do que estava acontecendo. Victtore ou Alighiero – eu não sabia dizer qual ou se os dois – estavam quebrando o escudo de Layla. Assim que os meus olhos souberam o que procurar e encontraram aquela camada de luz – bem fraca – se dissolvendo, o meu escudo expandiu-se livre da minha mente pra que protegesse os que estavam ao meu redor. Eu não sabia se ele funcionaria – enquanto o de Layla era físico o meu era mental; talvez então desse certo – mas essa era minha reação instintiva ao menor sinal de perigo á minha família… Tinha que funcionar.

Edward se virou para mim de repente – os seus olhos castanho-líquidos eram severos e um tanto preocupados – avaliando intensamente todo meu rosto como se estivesse esperando por alguma coisa. Certamente a expressão que me dominou era questionadora sobre a sua atitude, mas ele não respondeu e continuou com a rígida observação enquanto os seus dedos alcançaram a maça de minhas bochechas. Meus lábios se abriram apenas um pouco – muito confusos – e então, algo me atingiu.

Eu pude sentir assim que ela tocou o meu escudo – a névoa era densa e tinha um gosto azedo que saciava prazerosamente meu paladar cheio de veneno – mas tão pesada que parecia me pressionar contra o verde lívido da clareira, como se tivessem colocado uma enorme carga em minhas costas e eu ainda fosse aquela humana frágil de antes. Estava machucando. Eu fechei os meus olhos apenas brevemente tentando conter a dor que ameaçava espalhar pela minha expressão, mas Edward estava bem atento ás minhas reações e me conhecia mais do que o suficiente pra saber o que eu estava sentindo. Era excruciante.Agonizante. Estava me dilacerando por dentro.

- Bella? Bella, olhe para mim! – a voz era claramente preocupada e então notei que havia ficado com os olhos fechados por mais tempo do que queria. Rapidamente voltei á encará-lo, mas já não conseguia mais conter a dor no meu rosto. – Bella, você precisa parar! Deixe que o escudo recue. Você deve parar! – a sua voz estava intensa e muitos olhares então queimaram em mim. Alguns preocupados e outros divertidos.

Eu desejava ardentemente poder fazer o que suas palavras pediam – a minha garganta agora sufocava com o gosto azedo e a pressão tão severa no meu escudo – mas, eu não podia deixá-lo recuar. Ele era a única coisa que nos protegia agora – e á quem eu mais amava no mundo – então eu deveria ser forte. Eu tinha que resistir. Os meus lábios dormentes se abriram novamente, mas não havia som e nem o que dizer além da imensa vontade de gritar. Com um tremendo esforço, portanto, eu balancei a cabeça negando aos pedidos de sua voz aveludada e concentrei na dor viciosa.

- Você deve parar, Bella! – a voz de Edward endureceu com a minha petulância e seus dedos alisaram o meu rosto suplicantes. – Vocênão vai conseguir, apenas…

- Eu tenho que tentar, Edward! – a minha voz estava fraca, mas eu finalmente consegui falar alguma coisa que pudesse confortá-lo. A pressão se tornou mais forte no meu escudo então – os dedos da neblina em movimento se mexeram procurando uma forma de entrar com a minha resistência – e eu apertei os lábios, me contendo.

- Me escute… – havia muita dor no tom que Edward havia usado e algo muito diferente se apertou no meu coração. Uma nova agonia por vê-lo sofrendo comigo. – Eu prometo que tudo dará certo…– a sua voz queimava em sinceridade, mas eu tinha que resistir. –Bella, eu estou com você e prometo que tudo ficará bem, mas você deveparar… Apenas… Deixe que o escudo recue… Por favor! Eu sempre vou estar com você!

Uma enorme vontade de chorar percorreu o meu corpo – desespero e agonia dentro de mim – e então eu desviei os meus olhos para o norte da clareira onde nove vampiros nos encaravam com um profundo sorriso nos rostos. Uma deformidade na vista – pequena – me mostrava onde Victtore e Alighiero tentavam quebrar o escudo que a minha mente ainda resistia segurando-o fora. As palavras de Edward ecoaram mais uma vez nos meus pensamentos. Eu sempre vou estar com você! Sim, ele estaria comigo e Renesmee estaria segura. Me perdoe, filha.Esse seria o meu final feliz.

As minhas mãos alcançaram as de Edward ainda alisando o meu rosto e eu as segurei lá fechando os meus olhos por um breve momento. Então eu não queria mais abri-los… Eu temia o que veria no rosto de minha família se arriscasse olhá-los; como as suas expressões estariam carregadas por medo ou decepção. Os dedos de Edward se apertaram no meu rosto – implorativos – e eu senti uma última pontada da agonia que estava em todo o meu corpo antes de deixar que o escudo recuasse protegendo apenas minha mente. Eu não sentia mais a dor nem a pressão. E então esperei…

Um ensurdecedor e grosso ruído tomou conta da clareira – vindo da floresta á oeste que antes havia servido de entrada para nós – e aumentando tão rapidamente que o som nos atingiu antes mesmo que eu pudesse abrir os meus olhos. Eu procurei então – completamente alerta á qualquer sinal do que tinha se aproximado – mas a densa e imensa névoa que havia subitamente se formado na clareira era o que havia mudado. Ela compreendia exatamente o lugar onde os Volturi estavam – e os gritos e sons desesperadores se tornaram rapidamente audíveis indicando o quanto aquela batalha estava sendo destruidora. Algo estava causando aquilo… Era agonizante.

Eu senti o assombro que percorria entre a minha família ganhar mais potência conforme o silêncio ia conquistando espaço depois da tempestade ruidosa. Nós não sabíamos bem o que esperar e eu não tinha certeza se realmente queria descobrir o que teria acontecido. Mas, a névoa estava se dissolvendo – tão rapidamente quanto havia se formado –, e meus receios se acentuaram ao perceber que ela dava espaço ao abandono apenas. Não havia ninguém lá… Absolutamente ninguémconosco.

Ao norte da campina havia apenas uma fogueira. As chamas intensas com um tom meio arroxeado e a fumaça grossa que se curvava lentamente – parecendo mais sólida do que deveria – continuava o caminho incansável em direção ao céu. O cheiro pesado era exatamente como eu me lembrava – meio doce e desconfortável – o que eu particularmente conhecia muito bem osignificado. Edward deu um passo á frente enquanto procurava avidamente pelo que havia causado aquilo enquanto eu fazia o mesmo – e tinha certeza de que a minha família também –, mas não havia nada para encontrar. Os pensamentos estavam desorganizados – muito apressados – na minha mente tentando entender quem destruíra Felix… Demetri… Victtore, Alighiero

E então nesse momento eu a vi. Exatamente á beira da floreta á oeste – onde ouvimos o ruído extremamente altíssimo e grosseiro antes – os olhos intensamente azuis de Layla nos observava. Apesar de estar apenas com o rosto voltado para nós – o seu corpo parecia prestes á entrar nas árvores sombrias que aguardavam –, eu não pude conter a sensação de alívio e satisfação que percorreu todo meu corpo quando eu a vi conosco. Eu sorri – totalmente abobalhada – de felicidade… Mas ela não.

- Bella? Você está bem? – a voz de Alice estava preocupada e eu senti as suas mãos pequenas chacoalhando suavemente os meus ombros. O olhar de Edward veio em meu rosto assim que ela chamou o meu nome e então rapidamente ele avançou até que eu estivesse entre suas mãos de novo. O calor era muito confortável, mas eu o ignorei completamente aturdida por aquela imagem inesperada…

Eu não conseguia desgrudar minha atenção da expressão de Layla. Ela olhava para mim de certa forma ainda mais intensa do que os seus olhos azuis naturalmente proporcionavam e então, o sorriso no meu rosto desapareceu. Eu não fazia a mínima idéia do que ela estava tentando me dizer – e talvez tenha sido a minha avaliação tão severa e especulativa na sua expressão que mostrou a minha família o que as minhas palavras não disseram – mas, algo dentro de mim parecia entender a mensagem.

- Layla – a voz de Edward estava aquecida e então… Ela desapareceu.

Um novo ruído absolutamente grosseiro soou á oeste mais uma vez. Os meus olhos foram diretamente ao rosto inexpressivo do meu marido mais que perfeito e vi os seus músculos endurecerem. O coração eternamente adormecido se apertou no meu peito com dor. Alguma coisa havia acontecido. E assim, estávamos correndo.

Dessa vez a nossa corrida era muito mais agressiva – amedrontada – e então, em poucos minutos o cheiro de Forks se tornou reconhecível. Eu não permitia que os meus pensamentos vagassem na idéia de que Renesmee havia sido machucada – isso era o suficiente para me dilacerar – e, havia também o ponto de que, se alguma coisa tinha acontecido com ela, então significava que Scarlet conseguiu passar por Rose… Emmett… E Jacob… Eu não mais conseguia continuar pensando, precisava vê-la.

Um suave e perfeito som de pássaros ao longe brincou dentro do meu corpo – confortando-o – e então, a fraca claridade de um dia nublado surgindo na penumbra da floreta me fez ainda mais veloz. Edward estava fielmente ao meu lado – ele tinha também a urgência de chegar logo para os braços da nossa filha – mas, eu não sabia dizer onde estavam Alice, Jasper, Zafrina e os Denali… Em algum lugar atrás de nós.

Assim que a escuridão das árvores havia sido deixava para trás conforme nós entrávamos na clareira, os meus olhos procuraram esfomeados por Nessie. Eu senti o meu coração rapidamente se aquecer ao vê-la ainda entre os braços de Rose cercada por Emmett e Jacob – os pêlos castanho-avermelhados exaltado com sua respiração forçada – e então, rapidamente ganhei a sua atenção. Renesmee virou a cabeça com certa cautela e um pequeno sorriso se formou no meu rosto antecipando o momento em que o seu olhar me encontraria, mas então… A sua expressão me desarmou.

O rosto perfeito de minha adorável filha estava contorcido em um perceptível desespero e grande tristeza. Ela estava sofrendo – isso estava óbvio no modo que os seus olhos chocolate estavam cheios de água – mas, eu não sabia o motivo. Eu havia prometido que voltaria para ela com Edward e não queria vê-la preocupada daquela forma então, com certo esforço coloquei o sorriso no meu rosto de novo enquanto avançava mais um passo na sua direção. A mão de Edward se apertou na minha – me contendo – ao mesmo tempo em que Renesmee voltou a sua atenção ao norte.

O movimento dela rapidamente me despertou. Eu estive tão concentrada em minha filha que não havia percebido que ninguém mais estava nos olhando – sequer pareciam cientes de que estávamos na clareira –, os rostos de minha família estavam padronizados olhando na mesma direção que Nessie e eu reconheci o mesmo tom de dor e tristeza que havia visto naqueles inesquecíveis olhos chocolate antes. Mesmo o meu coração temendo por qual seria o motivo de tudo aquilo, eu segui com o olhar á direção que todos estavam intensamente – e agonizantemente – concentrados.

Uma safira de olhos azuis… Era Layla.

Não havia palavras para descrever as sensações que percorreram o meu corpo ao vê-la tão frágil. Delicada. Layla estava sentada no chão – seu corpo encurvado ao lado estava amparado sobre a perna esquerda – enquanto as suas mãos apoiadas na grama verde sustentavam o seu peito. Ela não parecia sequer ter forças para ficar em pé. Aquela imagem despertou a dor sufocante – aguda – excruciante no meu peito e agora mais do que nunca meu coração queimava em um profundo sofrimento.

Eu não conseguia entender o que havia acontecido nos poucos minutos que se passaram desde que havíamos visto a sua ferocidade destruir nove vampiros com um piscar de olhos e então, eu procurei pela clareira o que estava machucando-a. Estive tão concentrada anteriormente em encontrar Renesmee que não havia reparado na densa e massiva névoa cobrindo a clareira que começava logo aos pés de Layla – ela era muito mais forte e intrigante do que a formada antes… Soava mais perigosa.

Era simplesmente assustadora a maneira com que aquela bola branca imensa de ar espairecia muito lentamente e eu teria tido tempo de continuar observando-a curiosa se um pensamento não tivesse me ocorrido antes… Não havia mais ninguém conosco. Não havia mais os Volturi e nem Scarlet… Nós tínhamos vencido então? – eu não pude deixar de me sentir aliviada com isso. Mas… A que preço conseguimos?

Os meus olhos foram até Layla mais uma vez ainda debruçada sobre o verde – os músculos de suas costas era a única coisa indicando que ela ainda respirava – mas, eu sabia que havia o sofrimento, a dor… De alguma forma ela tinha se machucado.

Eu suspirei profundamente e fechei meus olhos por um momento tentando não demonstrar o tanto que me atormentava vê-la tão fraca e tão vulnerável… Hoje ela parecia muito mais com a adolescente de dezoito anos imortalizado no seu corpo de seda do que a safira que agora… Eu amava mais do que a minha própria vida.

1 comentários:

BellaCullen disse...

O que será que aconteceu com Layla?

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