Ressurreição - Capítulo 04: A Verdade

[Edward]

Fiquei por um bom tempo, imóvel sobre a cama, enquanto chegava o crepúsculo, o fim de mais um dia. Meu coração doendo de saudades de Bella. Que vida mais sem sentido. Que vida mais sem propósitos. Uma vida sem Bella era o ápice da loucura, do fim de um mundo.

Enquanto eu imergia na minha dor, pude ouvir as risadas de Kate, a alegria do aventureiro Garret, os aplausos de Tanya e a voz calma e tranquila do chefe do Clã, Eleazar. Não esperei que viessem até mim.

Desci em uma fração de segundos. Quando os encontrei, parecia que, de repente, o clima ficara tenso. Não. Tanya ficou tensa. Ela estava se sentindo culpada por seu comportamento na noite anterior.

- Olá, pessoal - disse-lhes afavelmente - mando-lhes meus cumprimentos por parte de Carlisle. Cheguei faz pouco tempo, vim passar uns dias com vocês. Perdoem-me pela maneira que cheguei, sem avisar. É que as circunstâncias meio que não me deram muita opção. ( Rosalie não havia me dado opção - ela havia tirado a minha paz, como se houvesse um pouco paz...sem a Bella ).

- Sinta-se em casa - respondeu -me Eleazar. Sua voz calma e cortante tinha poder de nos fazer sentir em casa - Somos também a sua família. Bem, Eu e Carmem fomos caçar, mas Kate e Garret nos acompanharam só até a metade do caminho. No meio, mudaram de idéia - disse ele, arqueando uma sobrancelha e lançando um olhar de desaprovação para os dois jovenzinhos felizes.

Kate e Garret eram o mais novo casal de vampiros de Denali. Kate fora um dia desafiada por Garret, que julgara ser impossível ser derrubado por uma mulher. Bem, Kate não só o derrubou - ela o eletrocutou. E desde então nunca mais se separaram. Olhar para eles me fazia lembrar de como é bonito quando encontramos nosso destino. De como tudo passa a fazer sentido, quando encontramos aquela pessoa que é para nós. " Bella "... Pensei e suspirei.

- E isso é um convite para caçar?? - Redargui, adiantando-me aos pensamentos de Eleazar, que estava sugerindo uma caça com os dois pombinhos. Que ótimo.

Olhei em direção a Kate, inquirindo.

- Sim, - disse-me ela - Agora mesmo! Vamos caçar um urso da montanha! - Aplaudiu ela, a voz de sinos soando dura nos meus ouvidos, lembrando-me da Alegria de Bella, do olhar de Bella...da voz de minha amada... Bella...Bellla...Era tudo o que eu podia pensar. Era tudo o que eu podia querer.

Eu não tinha vontade nenhuma de caçar, por mim poderia morrer seco. Mas como sentir sede colocaria os humanos de Denali em risco de morte comigo - se um deles cruzasse meu caminho...

Suspirei - e aquiesci, fazendo um gesto com a cabeça para irmos. Corri porta a fora, sendo seguido por Tanya, Kate e Garret. Tânya cantarolava uma música desconhecida, então pensei que ela estivesse evitando que eu lesse lesse seus pensamentos - o que me aliviou. Eu precisava de paz. Como eu tinha vantagem na velocidade, corri à frente de todos os outros. Até que inspirei profundamente e senti uma doce fragância, no meio da floresta, vindo do Leste. Cheiro de Humanos. Mas era um cheiro forte demais para ser simplesmente de alguém passeando pela trilha. Era o cheiro de alguém cujo sangue estaria sendo derramado, cheiro de alguém cujo sangue deveria estar jorrando de seu corpo. Era um cheiro pulsante, um cheiro fresco, quente, bom...

Corri na direção do cheiro, querendo chegar antes de meus amigos Denalis. Corri, como se estivesse revivendo a cena em que o sangue de Bella era derramado por James. Meu coração doeu ao lembrar como a minha pequena esteve tão perto da morte.

Claro - Vampiros. Havia vampiros sedentos de sangue no bosque. Alimentando-se desse humano cujo sangue eu conseguira rastrear.

Deveria deixá-los e fingir que nada aconteceu? O que Bella faria? Ri por dentro ao me fazer essa pergunta. Ela era defensora dos humanos. Com certeza ela arrancaria a cabeça de qualquer vampiro que ousasse matar um humano enquanto ela estivesse por perto.

Por Bella- Eu faria o mesmo. Eu salvaria esse humano. Essa sensação de querer salvar esse humano, fez eu me sentir como se Bella estivesse ali, como se ela nunca tivesse partido. Corri ainda mais rápido, ávido pela aprovação de Bella, até que me deparei com 3 vampiros debruçados sobre um rapaz que não deveria ter mais que 25 anos. Logo que notaram minha presença, 2 deles levantaram-se rapidamente, rosnando furiosos, defendendo suas presas, vindo na minha direção.

Eu rosnei para eles, furiosamente, em resposta.

Kate e os outros chegaram logo depois, e posicionaram em linha reta à minha esquerda, rosnando, agachando-se e preparando-se para atacar.

O primeiro vampiro era forte, que parecia ser o líder, tinha um dom de persuassão, mas os instintos dele estavam focados na presa e na sede. Ele não cederia. Alto, moreno, olhos vermelhos-sangue, os olhos arroxeados ao redor do pescoço. O segundo vampiro, era um recém-criado, não possuía ainda um dom definido, estava sedento de sangue, sua íris girava loucamente, tudo o que ele via era o sangue de sua presa, para o qual queria voltar. Seus cabelos curtos eram pretos, e não devia ter mais que 13 anos. Por ser tão novo, ele me fez lembrar do meu encontro a guarda dos Volturi, a guerra contra Victória.

Sussurrei para p/ Kate, Garret e Tanya.

- Eles estão ávidos de sede, não negociarão. Vou tentar, mas preparem-se para atacar - avisei-os - Quero salvar este humano.

Encarei furiosamente, a sua face hostil. O líder desses vampiros, cujo nome descobri, por seus pensamentos, ser Trevor, e o do menor que estava ali para lutar era Stuart .

- Sim, - respondeu Kate - Lutaremos com você. Isso vai ser fácil,- falou ela, com prazer.

- Trevor - supliquei, enquanto me preparava - queremos lhe pedir que vá caçar em outras terras. Deixe esse humano conosco. Partam em paz. Ou nós teremos de matá-los. - Falei, colocando um tom ameaçador na voz.

Trevor avançou um passo, gritando.

- Não! Quem são vocês para nos dizerem o que fazer? - E seu corpo agachou-se para lutar.

Eles avançaram. Stuart foi em direção de Kate, mas quando tentou agarrá-la, caiu, eletrocutado, debatendo-se no chão. Garret foi rápido, avançando sobre ele, desmembrando cada pedaço de seu corpo, até que os gritos estridentes começaram a cessar.

Trevor veio na minha direção, e eu podia ver os movimentos que ele pensava em dar, assim eu me desviava com facilidade. Aproveitando uma distração dele, dei um salto mortal em direção a ele, derrubando o no chão com os pés e mãos empurrando-o. Arranquei sua cabeça em um movimento rápido e eficaz. Ele não era um lutador.

Tanya correu até o outro recém-criado, que segurava avidamente sua presa, o jovem rapaz que olhava tudo com olhos apavorados, sem forças para se mexer. Ela aproximou-se, rosnando para ele, pelos flancos, e o imobilizou, embora o garoto ainda não soltasse o rapaz. Vi, pelo olhar dela, que ela detestava matar gente jovem. Ela tentou convencer o rapaz a repensar seu estilo de vida, mas ele estava obstinado demais por sua sede. Ela desistiu de tentar, soltou um suspiro e acabou com aquilo.

- Tanya, Kate - falei, com voz urgente - levem o humano para Eleazar. Eu e Garret faremos uma fogueira aqui, para queimarmos os restos.

Enquanto pegávamos a lenha, e os restos mortais e atirávamos na fogueira crepitante, cujas chamas iam alto na noite, iluminando as trevas escuras, eu ouvi um pensamento familiar.

Eu ouvi os pensamentos de Jasper.

Mas não ouvi os de Alice. Alice não estava com ele.

Ali na escuridão, a pele pálida brilhou sob a lua.

Jasper fitava-me nos olhos. Olhos cheios de pavor.

Eu senti a fúria subir pelo meu corpo, enquanto eu lia os pensamentos de Jasper.

Bella não havia me deixado.

Alice não viajara com Jasper.

Elas haviam ido aos Volturi. Sozinhas.

Eu comecei a enxergar tudo em vermelho. A raiva sem lógica, sempre controlada dentro de mim inundou todo o meu corpo. Senti o seu gosto - gosto amargo de fel na boca.

Eu confiara em Alice. E Jasper... Jasper a apoiara nesse plano louco, nessa idéia idiota e imbecil que só poderia ser da Bella.

Eu não queria saber de mais nada. Eu só queria colocar minhas mãos em Jasper. Eu estava sentindo um ódio mortal por ele ter permitido que as duas partissem sem meu apoio, frágeis aos meus olhos imortais, diretamente para o covil de Aro!

Senti uma onda de paz inundar meu ser. Jasper estava manipulando meus sentimentos. Mas mesmo sentindo paz, eu iria dar uma sova nele.

Agachei-me e com um impulso feroz, ataquei Jasper, lançando-me na direção dele.

A luta mortal havia começado.

- Como você permitiu isso, seu ignorante? - rosnei, minha voz soando estridente e letal.

- Eu não tive escolha- sussurrou ele, pacificador - Você sabe como Bella é! Ela teria ido sozinha de qualquer jeito, e tivemos sorte que Alice convenceu ela a a levá-la junto! - suplicou ele, com a voz cortante, macia, compreensiva. - E Alice viu que não haveria perigo!

- Jasper, você sabe melhor que eu que as visões da Alice são subjetivas, uma decisão e o futuro muda! Aposto que Bella não lhes disse que pressentiu o perigo! Agora as duas estão lá...

Fechei os olhos tentando digerir a idéia. Meu corpo todo, cego pela raiva que queimava-me por dentro, lutando contra a paz que emanava de Jasper, em um instinto rápido e veloz -mortal até - Havia voado na direção de Jasper. Meus dentes fecharam-se com fúria na sua clavícula,arrancando dele um grito feroz e angustiante de dor.

Mas Jasper era um lutador há mais tempo do que eu. Com um movimento que eu, cego de raiva - não previ - ele me girou e colocou-me no chão, prendendo seu braço ao redor de meu pescoço. Eu estava imobilizado. A paz e a calma foram ficando mais fortes, e eu comecei a pensar com mais clareza.

Jasper era meu irmão. Havia feito o achava certo. Enquanto eu lia os seus pensamentos, eu pude entender, Ele havia dado um tempo para me procurar para que juntos as seguíssemos até Volterra.

Jasper notou quando relaxei meu corpo, sentindo minhas emoções. Entendimento e convicção.

Convicção: Porque eu iria para Volterra. Eu iria atrás de Bella.

Levantei-me assim que Jasper saiu de cima de mim. eu o havia machucado, meu veneno pinicava no lugar em que havia o mordido. Mas ele parecia não se importar. Ele parecia grato -aliviado por ter tirado um peso dos ombros.

- Jasper, teremos de ir o quanto antes. Você tem como arrumar as passagens?

" Já as arrumei, estão comigo " - disse-me ele em pensamento.

Nem pensei muito, corri com Garret, que olhava-me como se eu estivesse louco, pronto para interferir se a coisa ficasse mesmo grave. Jasper veio atrás.

Quando cheguei na casa de Eleazar, vi que a transformação do jovem que salvamos já começara. Tanya o olhava de forma diferente... Cuidadosa, ansiosa... apaixonada.

Ela encontrara aquele que seria seu amor.

Hartz, como se chamava o jovem, a seguiria aonde quer que fosse. No meio de seus gritos estridentes e torturantes, enquanto Tanya lhe explicava o que estava acontecendo, ele a chamava de " anjo ", e suplicava-lhe que não o deixasse.

Eu me sentia grato aos céus por essa providência. Tanya seria feliz, afinal.

Chamei Eleazar e disse que a ele que partiria pela manhã atrás de Bella, com Jasper. Kate e Garret se prontificaram a ir conosco, mas os dispensei.

Eu não estava indo para a guerra.

Eu estava indo em busca de Bella.

Em busca de minha razão de viver.