Ressurreição - Capítulo 05: Lembranças

[Bella]

Eu fiquei ali, deitada, no alto da montanha, curtindo sozinha cada fagulha de dor que se acendia queimando sem me matar. A dor da separação. Era difícil para mim apagar de minha mente a imagem que ficou gravada, de Edward com as mãos estendidas na minha direção, os olhos suplicantes, enquanto eu de maneira fria, o deixava.

A chuva torrencial começou a cair. Fiquei completamente ensopada.. mas isso não importava, isso não era nada. Mas mas impressionante ainda, é que eu sentia frio. O frio de estar sozinha. O frio de estar sem Edward. O frio gelado como os ventos do Alasca, cortavam a minha alma em zumbidos ferozes e implacáveis, fazendo-me tremer.

Eu ainda tinha algum tempo para chegar ao Aeroporto, onde Alice me esperava. Logo que pensei nisso, meu corpo em uma fração de segundos, seguiu o desejo de correr. Corri, veloz, desimpedida, enquanto a chuva caía, em direção à minha garagem, perto da residência dos Cullens, onde meu Mercedes estava estacionado.

Eu não queria ter de explicar minha partida a ninguém, então entrei no carro, liguei o motor, e o arranquei, cantando pneus. O mais rápido que pude. O mais rápido que era possível.

Dirigindo assim a 170 km/h, lembrei-me de quando eu morria de medo dessa velocidade. Como se ainda fosse possível, como se ainda existisse um brilho de alegria, eu sorri. Eu já não tinha mais medo da velocidade, nem mesmo da morte. A única coisa que era capaz de tirar a minha paz, me incomodar, me deixar paralisada, me fazendo sentir esse medo humano - era perder Edward.

Tão rápido que dirigi, já estava no Aeroporto. Estacionei o carro, ignorando os olhares dirigidos a mim. Uma garota de moletom e jeans saindo de um Mercedes blindado, seria no mínimo, intrigante. Andei rapidamente entre as pessoas, desviando-me delas, até chegar ao lugar em que deveríamos passar pelo Check-in. Alice estava ali. Quando meus olhos bateram naquela figurinha pequena, saltitante e impossivelmente alegre, não pude deixar de me sentir reconfortada. Estar com Alice, era mais ou menos como estar com Edward, era a prova de que eu logo voltaria Era o elo entre a razão e a loucura, que me permitia ter certeza de que logo tudo acabaria.

E eu voltaria para os braços de meu anjo glorioso.

Alice quicava impacientemente. Observei que ao seu lado estavam um monte de malas - as dela e as minhas, com cujo bom gosto ela certamente contara ao arrumá-las. Gemi ao pensar no que encontraria ali dentro.

- Oi Alice - sussurrei, quase sem voz - Desculpe pela minha demora. Foi difícil me despedir de Edward - o pouco que restava de minha voz morreu.

Alice me olhou com desaprovação.

- Você nem precisava ter feito esse circo todo - redarguiu, ela - Eu ja lhe disse que tudo ficará bem. E você bem que podia ter colocado pelo menos uma roupa mais decente, né Bella?? Não vai querer visitar os Volturi usando moleton e jeans!! - Acrescentou, ela, toda apavorada, levando a mão à testa.

- Alice, não há problema nenhum com minhas roupas - resmunguei - embora eu concorde que precise de algo mais formal. Mas - ressaltei - EU e não você escolherei a roupa quando chegarmos ao hotel.

- Que Hotel, bella? - e sua voz voltou a cantar alegre, musicada, como sinos. Quando o assunto em pauta não eram roupas, eu amava ouví-la. - Não vamos parar em lugar nenhum. Vamos direto para a mansão de Aro e depois, compras!!! - os olhinhos dela pareciam dois diamantes, cintilando, entusiasmados.

Era difícil encorajá-la.

Após passarmos pelo Check-in, e entrarmos no avião, Alice não esperou mais. Me puxou pela mão até o banheiro, tagarelando enquanto me arrastava.

- Vem cá, vem, vamos dar um trato nesse visual, antes que o avião levante vôo. Você desse jeito é um insulto à beleza dos vampiros. E voltou-se para mim, fazendo um gesto com as mãos, mostrando minha roupa.

Vi que ela estava com um embrulho nas mãos, e me passou. Lembraca-me vagamente de vê-la futricando nas malas enquanto eu fazia o meu check in... " mau sinal - pensei.

- Coloca isso logo. - falou, me empurrando para dentro do banheiro, com o que eu tinha certeza que deveria ser uma roupa mais-que-chocante.

Peguei o embrulho de má vontade e fechei a porta. Não sem antes revirar os olhos para ela, claro. Tinha que manifestar minha vontade. Mas ela nem desanimou. Ficou ali, parada, batendo o pé, impaciente.

Ok. Não poderia ser nada terrível, poderia?

Olhei-me no espelho. Eu estava horrível. Parecia mais humana que vampira. Meu cabelo estava todo armado - de feno, como diria Edward. Não havia tido tempo para penteá-los, e com a chuva...

Meus olhos estavam escuros, e abaixo deles manchas roxas se sobressaíam. Eu estava com sede. A queimação na minha garganta doía até os ossos. Mas não era nada - comparado a estar separada de Edward.

Suspirei. Fora necessário.

Abri o embrulho, cheia de coragem. Mas fechei a cara quando vi o que Alice havia me dado para vestir.

Era um vestido justíssimo, vermelho, decotado, de cetim. Chocante. Não, não. Chocante era pouco. Não se adequava àquilo. Provocante, essa era a palavra.

Coloquei o vestido - eu não tinha alternativas. O restante das malas já estavam no compartimento de bagagens do avião. Foi uma transformação radical. De menina desarrumada à mulher fatal. Eu iria parar o mundo desse jeito.

Abri a porta da forma mais teatral e grosseira que pude.

Alice ria, ria encantada, como um bebê. Pulava e aplaudia, atraindo olhares para nós, dando gritinhos de aprovação.

- Estou de mal com você - afirmei.

- Só até o fim da viagem - musicou ela, me desafiando. E estendeu suas mãos para mim, e um par de sapatos vermelhos tão berrantes quanto o vestido estavam ali. - Vai precisar, vista-os - emendou.

Coloquei o salto, furiosa, e fui pisando duro, em direção ao nossos assentos, enquanto todos os passageiros viravam-se para me olhar, boquiabertos, a vampira que Alice vestiu.

Quando sentei no banco finalmente, ignorei -a. Olhei para a janela. A comissária começara a anunciar os procedimentos de decolagem. Apertei os cintos, enquanto pensava.

Mas eu não enxergava nada a não ser minhas lembranças.

Eu voltava no tempo, retrocendendo, anos atrás.

Distante, muito distante, nos pensamentos, um grito ecoou.

" Por favor, mãe! - Gritava, minha linda preciosidade, fruto de minha união com Edward, Reneesme.

Eu quase morrera para dar a vida a ela. Eu a vi crescer com uma rapidez espantosa. Aos 7 anos de idade ela já era uma mulher. Eu não tive tempo de aceitar isso - sua precoce independência.

Para falar a verdade, eu não queria aceitar esse imprinting de Jacob com Reneesme. Minha Reneesme. " Suspirei, relembrando.

" Jacob, o meu Jacob, que um dia fora meu sol em minha noite mais escura, que um dia para não vê-lo morrer, o beijei, esse mesmo Jacob já não mais me pertencia.

Ele era agora o Jacob de Reneesme. Ele era dela.

Nessie, como Jacob a chamava, havia se tornado uma linda mulher. Seus cabelos encaracolados meio de bronze, seus olhos castanhos-chocolate, suas coxas perfeitas, faziam qualquer ser vivo ficar atônito diante de tanta beleza. Meia humana, meia imortal. Ela era o melhor dos dois mundos. E já não era mais minha! Agora ali estava ela, implorando para que eu aceitasse a idéia apavorante de casamento.

Ela queria casar-se com Jacob.

- Ô Bells, vamos superar esse negócio de preconceito. Você mesma foi uma pessoa que superou isso ao se casar com o sanguessuga! - riu, ele. Decididamente, mesmo com a proximidade forçada com os vampiros por causa de Nessie-Reneesme, Jacob não mudara sua forma grosseira de se referir a vampiros.

- Isso seria perfeitamente válido - redargui, furiosa - se o lobo um dia não tivesse se apaixonado pela mãe da namorada! - Grunhi, feroz.

- Bella, Bella, aquilo foi uma paixonite, poderia ter sido com qualquer um - falou, dando aquele sorriso, sem o qual, um dia, eu não teria podido viver.

- Mas foi COMIGO! CO-MI-GO!! Isso é no mínimo doentio, Jacob!! - e rosnei furiosamente.

Reneeme avançou para a frente, interpondo-se entre nós dois. alta, escultural, perfeita, com seus cachos de bronze caindo na cintura ela me deixava pasma de orgulho. Não. Ela me deixava com orgulho de Edward. Ela era minha filha. Minha filha com meu serafim imortal.

Edward apenas observava, imóvel como uma estátua entalhada de mármore no jardim. Ele estava deixando sua opinião para o final.

Em um movimento gracioso e rápido, Reneesme segurou a minha mão e a de Jacob. Ela me fez ver.

Um mundo de cores surgiu.

Uma lembrança de Reneesme.

Uma lembrança que eu havia vivido.

E que Jacob havia partilhado. "

Ela me fez voltar ao passado, ao dia em que Jacob me beijou. Ele havia partilhado essa lembrança com ela, como a lhe pedir seu perdão. Ao que tudo indicava, ela o havia perdoado. Mas essa lembrança doeu.. pois esse foi o dia em que achei que Jacob iria morrer, naquela guerra em que lado a lado, vampiros e lobisomens lutaram em uma situação inédita da história sobrenatural.

Mas Renneesme não parou por aí. Ela foi mostrando outras lembranças, lembranças dela. Mostrou as vezes em que Jacob, vendo-a com sede, caçou um animal só para ela. As vezes que ela secretamente, chorou, e que Jacob - seu Jacob a consolou. Eles pularam do penhasco juntos, correram para ver quem era mais veloz. Contemplaram o por-do-sol, viram juntos o amanhecer. Contaram histórias um ao outro... E no meio das lembranças dela, uma me chocou...

Ela havia tentado beijá-lo. Mas ele a repelira, dizendo esperar a minha aprovação.

Era fácil ver, pelas lembranças dela, tão reais, do quanto Jacob siginificava. Ele era mais que um sol, mais que o ar, mais que uma droga e seu vício. Jacob era para ela o que o céu era para as estrelas. O que Edward era para mim.

Suspirei profundamente.

" Reneesme olhava-me com os olhos suplicantes.

- Mãe, certamente você pode entender, queremos fazer isso da maneira certa, mas com ou sem sua aprovaçao, Jacob me pertence.

Do alto de seus 1,75 m, com aquela beleza de cegar qualquer um, parecia ser impossível dizer-lhe não.

Olhei pela visão periférica e vi Jacob sorrindo, o convencimento brilhando em seu sorriso, dentes brancos à mostra.

Chamei Edward para perto de mim.

- Edward, o que você pensa? DISSO??

- Bella, eu mesmo, se pudesse, proibiria. Mas o que os dois sentem um pelo outro me faz lembrar de mim mesmo quando não podia viver sem você. Me faz lembrar de que não posso viver sem você. De que jamais pude e jamais poderia - suspirou ele, olhos ardentes de amor e paixão.

- Então isso é sua permissão? - Arfei, insatisfeita.

- Sim, é - disse ele, colocando a mão dele sobre meus cabelos - não só o meu consentimento, mas a certeza de que o amor é uma força impossível - explicou ele.

Uma voz alegre, festejante, e gritante como música no seu volume mais alto começou a dar gritinhos de alegria. Alice vinha na nossa direção. Levantei os braços para cima, e saí pisando duro, seguida de Edward.

Alice previra isso. eE queria fazer o casamento de Nessie-Reneesme.

- Ahh! Vou te deixar linda, se você me deixar fazer seu casamento!E você, cachorro, dá licença, que tenho muito a resolver! - Sibilou ela para Jacob.

E lá se foram as duas, felizes, lado a lado, tornar ímpar na história mítica um casamento entre imortal e lobisomem.

Um escândalo para os vampiros.

E eu iria ter que engolir essa. "

O Casamento de Nessie foi uma cerimônia simples, o que me deu muito prazer, eu não suportaria uma festa com os moldes de Alice. Reunindo todos os clãs de vampiros e lobisomens em um só lugar. Foi bonito, simples, ao seu próprio jeito. Reneesme não dera carta branca à Alice. Houve apenas uma troca de votos, um felizes para sempre à maneira do Infinito, de seres eternos.

E assim, a minha filha partiu com Jacob para uma lua de mel, que sabe-se lá quanto tempo iria durar.

Respirei fundo. Eu sentia saudades. Eu a queria perto de mim. Mas também a queria feliz.

E então me lembrei também de Charlie e Renné. Renné, após minha trasformação não poderia mais me ver. Ela era perceptiva demais. Então alguns dias depois de me tornar vampira, quando Charlie já tinha uma breve idéia - errada, é verdade - do que eu era, ele mesmo acobertou a morte de todos os Cullens, dizendo que morremos em um acidente de avião. Renné sofreu muito. Ela ainda estava viva, teve uma outra filha com Phil que lhe deu netos. Eu me sentia grata por isso. Ela havia sido consolada.

E Charlie... Acompanhou de perto cada passo meu e de Nessie, indo nos visitar quando nos mudamos para Darthmourt. Os anos passaram e as batidas de seu coração foram ficando cada vez mais fracas, e um dia cessaram. Eu sofri muito por sua morte. Esme, Carlisle, Jacob, Nessie, os lobisomens, todos ficamos inconsoláveis.

Charlie nunca se casou. Preferiu ficar sozinho e me acompanhar, guardar o segredo, que jamais poderia ser partilhado com alguém. Ele foi feliz assim.Ele foi feliz comigo, com sua filha que nunca o deixou.

Alice me cutucou de leve.

- Bella, Bella, Chegamos em Volterra!

2 comentários:

Luana_silva_46 disse...

hum
olha, é muito legal

BellaCullen disse...

Q pensamento longo de Bella '-'

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