Ressurreição - Capítulo 07: Pedaços

[Edward]

A viagem até Volterra foi irritantemente tranquila. Jasper fazia questão de mexer com a apreensão e ansiedade que eu estava sentindo.

“ Logo estaremos com elas “ – pensava ele.

Aquiesci com a cabeça, sem falar nada. Eu queria muito acreditar nisso. Mas eu sabia que Bella havia tido uma premonição ruim, então talvez – talvez eu precisasse me preparar para lutar.

Na melhor das hipóteses isso tudo seria um mal entendido. Mas foi de maus entendidos que os grandes clássicos, como Romeu e Julieta foram feitos.

Engoli seco.

Apesar da tristeza camuflada, eu estava incoerentemente feliz.

Feliz, porque Bella nunca duvidou do que sentia por mim. Ela me amava – tanto quanto eu a amava. Eu podia entender sua atitude estupidamente infantil de me proteger – afinal eu havia feito o mesmo anos atrás. A dor que eu sentia agora teria sido a mesma dor que ela sentiu? Se fosse a mesma dor, então eu era mesmo um monstro. Na ânsia de protegê-la, eu a machuquei ainda mais.

Então eu merecia essa dor, pois eu podia entendê-la. Através do meu sofrimento eu podia ler a mente de Bella, ler sua expressão ao revolver as memórias do passado.

“ Nunca mais a deixarei.” – Prometi para mim mesmo.

Então finalmente chegamos em Volterra, a cidade das Artes. Corremos como loucos, eu e Jasper, procurando um carro que fosse veloz o suficiente. O melhor que encontramos foi um Audi vermelho. Tudo bem. Na falta de uma Ferrari, um Audi quebrava o galho.

Sentei na direção e Jasper sentou ao lado, ainda emanando vibrações irritantes de paz. O carro protestou quando acelerei ao máximo, cantando os pneus e assustando quem quer estivesse na calçada.

O que eu faria quando tivesse Bella de novo em meus braços? Ah sim. Eu casaria com ela novamente, e então a acorrentaria aos meus pés. Essa idéia me parecia razoável – Bella que não gostaria muito. Ri sozinho ao pensar nisso. Jasper arqueou uma sobrancelha para mim.

“ Ele deve estar louco. “ – pensou ele, tentando não pensar. Como se fosse possível.

Resmunguei uma série de palavrões ininteligíveis.

Bella tinha uma mente impressionantemente errada, que funcionava ao avesso.

Então o celular de Jasper tocou estridentemente. Uma vozinha de criança elétrica gritava do outro lado.

- Jasper, Sigam diretamente à mansão de Aro. Bella seguiu para lá.

- Mas como você não a deteve? Não previu isso? – Jasper arfou. Para

mim não era surpresa nenhuma. Bella tinha seus meios, certamente.

- Ela teve o atrevimento de me congelar. Conto isso pessoalmente depois. Não tenho certeza se posso contar sem fazer o hotel desabar. – Ela rosnava, feroz.

Eu senti uma onda de prazer por dentro. Congelar Alice! Bella era mesmo uma criatura de outro mundo. Nem eu, com meus 150 anos havia conseguido vencer Alice em uma luta. E Bella a congelou! Burlou a visão dela!

Gah!

Um estalo me ocorreu. Jacob era um lobisomem, não era?E ele estava com Nessie em lua-de-mel pela Itália. Ele poderia encontrar-se com Bella e então causar um hiato nas visões de Alice, não poderia?

Só havia um jeito de saber.

Peguei o celular e liguei para meu – genro. Argh. Eu ainda não tinha acostumado com essa idéia de Jacob ser meu genro, por mais que estivesse intimamente ligado a ele.

- Jacob?

Ele não esperou eu falar. Despejou tudo o que pode, em uma velocidade que faria um ser humano normal tropeçar nas palavras.

- Edward, agora mesmo a Bella saiu daqui. Ela só pode ter ido atrás de encrenca, isso é tão Bella, você sabe. Claro que antes de ela sair ela congelou eu e Nessie junto.. Ficamos 15 minutos parecendo estátuas de pedir esmolas aqui. E ainda ganhamos uns trocados. – resmungou ele.

- Então faça assim – instruí – siga o rastro de Bella até onde ela entrou e espere-nos lá. Logo eu, Alice e Jasper estaremos chegando aí. Nessie está com você?

- Sim, está – ele vacilou.

- Ok. Em dois minutos chegaremos aí.

Joguei o celular por cima do ombro, dei a volta em uma praça, e olhei subitamente para Jasper.

- Jasper, pode fazer a gentileza de me deixar sentir o que preciso sentir?

“ Claro “.

Ótimo. Então as emoções me inundaram e o medo de perder Bella parecia ter sido injetado em minhas veias.

Estacionei o carro na esquina da agourenta praça, e então Alice se postou na frente do carro, os olhos pretos cintilando fúria.

“ Vamos de uma vez “. – Disse-me ela.

Saí do carro e nem esperei para chamá-los – corri em passos humanos. Era irritante ter que fingir se humano numa hora que você precisa ser vampiro.

Jasper e Alice correram, me seguindo. Pareciam uma dupla de maratonistas – embora a roupa não combinasse com a ocasião. Muito social. Fiz uma careta.

Então ouvi um pensamento doce.

“ Eu te amo, papai “.

Foi então que a vi – linda como um anjo reluzente, como uma deusa saída dos Céus. Ela não brilhava como os vampiros brilhavam – Mas era estonteante de um jeito único.

Seus olhos castanhos-chocolates compreendiam a minha dor.

Então ela me pegou pela mão, sem falar nada, pondo-se a correr comigo,

chegamos diante do que talvez seria uma caminhada pelo túnel da morte.

Jacob nos olhava com os olhos negros, negros como o medo.

Olhei para Alice, que estava atônita.

“ Edward, com Jacob aqui não consigo ver nem se sobreviveremos…”

Assenti silenciosamente para ela.

- Nessie – sussurrei, escolhendo bem as palavras. Segurei suas mãos quentes e frágeis para mim, minha filha, minha filha com Bella. – Talvez tenhamos de lutar e talvez venhamos a morrer.

Então ela me fez ver muito além das palavras, dos sentimentos que pulavam em fúria dentro de mim.

Ela me levou ao tempo em que ela não falava, em que era pequena demais, em que ela estava ainda escurecida dentro do inviolável ventre protetor de Bella. A primeira vez em que disse que nos amava. Que cuidou muito para não quebrar as costelas de Bella, e o parto difícil em que ao nascer toda a coluna vertebral de Bella foi separada, vértebra por vértebra. Outra imagem dançou por meus olhos. Nessie dormindo nos braços da mãe.

- Papai, a mamãe enfrentou a morte para que eu pudesse nascer, para que eu pudesse viver. Então como, agora, não morrerei por ela?Até que meu coração pare de bater. Pois ele só bate porque ela assim decidiu. Eu me posiciono para lutar. E para morrer, se for preciso.

Nessie suspirou, olhando para Jacob, seus olhos cheios de lágrimas e estendeu a mão para ele. Então Jacob me fitou intensamente.

- Bella me deu o centro do Universo, a pintura mais bela que existe. Bella pode escolher enfrentar tudo sozinha, mas ela não estará sozinha nunca, no que depender de mim. Eu lutarei também. “

Jacob estendeu sua palma direita espalmada à frente. Eu coloquei a minha em cima, comovido mais para falar alguma coisa.

Alice também colocou a dela em cima da minha e de Jacob.

- Que tipo de irmã seria eu, se deixasse Bella nessa sozinha? E ela ainda me deve. – Alice cantou, com sua voz triste, de sinos de prata.

Jasper apenas acenou com a cabeça, colocando a mão em cima das nossas.

Nessie olhou ardentemente para cada um de nós, e então disse uma coisa, que considerei o verdadeiro sentido da palavra “família “.

- Pelo amor que nunca morre.

Assim que ouvi isso, aquiesci, emocionado, e e me atirei no bueiro, caindo sem fazer muito estardalhaço.

Jacob me seguiu, fazendo um estrondo ao tocar o chão. Revirei os olhos. Jacob não tinha classe, como nós vampiros. Ele era um cão ….

Alice saltou, com Jasper e Nessie logo atrás.

Corremos pelo corredor, até que pensamentos conhecidos começaram a se tornar audíveis para mim.

Alec.

Não parei para pensar no que cada palavra não dita significava. Eu apenas corri, o desejo de correr superando o desejo de qualquer outra vontade primária.

Gritei.

- Bella!!

Como um louco que perde a razão, assim eu estava. Voei em direção à sala onde um dia Jane tentou torturar Bella. Foi aí que a vi. Não houve tempo para nada.

A visão foi agonizante, cruel e dolorosa. Nenhum ser vivo de boa vontade deveria ver algo assim.

O machado de Alec, cravejado de diamantes pendia em sua mão, já abaixado.

Jane ria, o riso da vitória, o riso mais torturante que se podia ouvir.

Senti que as minhas forças se iam, meus joelhos se dobraram ao chão.

Bella olhava fixamente para mim, seus olhos cintilando amor e consolo. Mas eu não podia ser consolado! Não havia como ir contra Jane e Alec.

Eu fiquei ali, imóvel, olhando a minha Bella, me recusando a tirar os olhos dela enquanto eu podia ver um fraco lampejo de vida.

O corpo dela estava em pedaços, a cabeça separada do corpo, os membros espalhados ao chão.

Os olhos então, separaram-se de sua alma.

Sim, agora eu via, Bella tinha uma alma. E sua alma apagava-se, escurecia, entregava-se nas névoas do desconhecido.

Isso era demais.

Alice e Jasper chegaram logo depois, e agacharam-se atrás de mim em posição de ataque, rosnando furiosamente para a dupla assassinos. O rosnado deles me tirou de meu torpor.

Levantei-me de imediato e preparei-me para lutar.

Jacob correu na sua forma lobisomem, e ao lançar-se no ar, Alec o deixou cego e surdo. Pude ouvir o baque surdo de seu imenso corpo caindo, impotente no chão.

Alec apenas ria, fazendo coro com Jane, seus olhos desafiando-nos a os atacar. Eu não queria perder essa briga.. Eu queria ganhar. Vasculhei a mente suja de Alec e Jane, na esperança de encontrar uma brecha.

Foi quando o inesperado aconteceu. Algo que eu nunca havia visto.

Algo que Alice jamais poderia prever.

Uma coisa que nem mesmo Jacob imaginaria ser possível.

Ali, diante de mim, um mito surgiu, uma lenda viva para rechear ainda mais os contos míticos imortais.

Renéesme saltou no ar por cima da formação que fizemos, caindo agachada, diante de Alec e Jane, à frente de Jacob.

Suas mãos se estenderam ao ar e tocaram uma cortina invisível.

Os olhos dela cintilaram reflexos azuis-violetas alternando em tons de verde. Tive essa perspectiva perscrutando a mente pasmada de Jane.

“ – É minha vez “ – Nessie transmitiu para mim.

Então eu pude ver que o sorriso de Jane, de repente, era apenas um sorriso inútil. A tortura não nos tocava, não nos alcançava. Jacob estava retomando o controle de si mesmo, um lobo gigante atordoado. Ele estava tentando entender o que aconteceu.

Fiquei pasmo. Virei-me na direção de Bella, percebendo que seus lábios repuxavam-se no que seria…um sorriso?

- Bella está projetando seu escudo sobre nós - murmurei, de queixo caído para Alice e Jasper, que estavam tão atônitos quanto eu estava.

- “ Temos uma chance ” – Alice sorriu ameaçadoramente.

- Temos, sim – respondi. Uma alegria imprópria tomou conta de cada fibra de

de meu ser. Esperança. Haveria esperança?

Nessie, à nossa frente, percebeu o que Bella fizera. Olhou tenebrosamente para Jane e Alec.

A batalha não aconteceu no plano normal – para Alice, Jasper e Jacob, Nessie continuava imóvel.

Mas eu via – eu podia ver, fazer sua mágica dentro da mente dos dois. Sacudi a cabeça, tentando absorver que minha filha era muito mais poderosa até mesmo que as armas mais letais da guarda de Aro. Com as mãos no Ar, ela penetrou o abismo da mente de Alec e Jane, fazendo os acreditar que estavam em um casebre abandonado. Nesse casebre, aranhas corriam por todos os lados… pelas paredes. Haviam baratas no chão. Muitas baratas.

“ – Querida, onde estamos? O que está acontecendo? - Alec perguntou apavorado para sua linda irmãzinha.

Mas Jane estava assombrada demais para responder. Ela arregou os olhos ao redor, e quando uma aranha e outra começaram a subir por ela, começou a chutar os pés em uma tentativa inútil de livrar-se delas. Os gritos dela pareciam um filme de terror. Quando uma aranha subiu por entre os lindos cabelos de Jane, ela não aguentou. Toda a fachada refinada foi por água abaixo. Começou a correr de um lado para o outro, esperneando e gritando. As aranhas não saíam …

Eles não conseguiam ver Nessie – Tudo que viam era esse abismo, essa prisão dentro deles mesmos. Entendi então porque os olhos de Nessie mudavam de cor – devido à força da projeção de imagens de sua mente, sua íris absorvia as cores que lançava.

Alec tentou acalmar a irmã, entendendo finalmente que estava dentro de uma ilusão, sem sucesso. Nessie olhou com olhos insondáveis para Alec, e projetou um abismo negro e silencioso para ele. Escureceu sua vista, deixando e cego e surdo. Ele não via – nem ouvia nada.

Nessie baixou as mãos virando-se teatralmente para nós.

- Sou mais forte que vocês – riu ela, graciosamente, suas pupilas dilatadas e

coloridas cintilando desafio.

Ninguém ousou duvidar, claro. Jacob, Alice e Jasper, perceberam ao ver Alec no

Chão, e Jane correndo pela minúscula sala como uma louca presa em um hospício que Nessie tinha feito “ algo “.

Jacob revirou os olhos para o convencimento de Reneesme.

- Ah que lindo, Nessie. Assim você nos deixa sem ter o que fazer – resmungou.

- Podem matá-los – ela sugeriu.

- Não – discordou Jasper.

- Definitivamente não – emendou Alice.

- Realmente não podemos – falei, decepcionado, meu corpo travado de raiva –

Não podemos ter uma guerra agora com Bella nesse estado. Não posso me arriscar a perdê-la. Precisamos remontá-la.

Então todos olhamos para os pedaços espalhados pelo chão.

- Não temos tempo a perder. Jacob, pegue os restos de Bella, não deixe nada para trás.

Alice e Jasper saíram correndo para buscar uma mala que fosse grande o suficiente para acomodar os restos de Bella.

Nessie sentou-se em uma cadeira que havia ali, olhando-nos e de vez em quando olhando para Alec e Jane, aumentando prazerosamente a tortura deles.

Suspirei.

Fui-me então, pegar cada resto de Bella. O resto daquela que é o amor de toda a minha existência. Alcancei suas mãos …suas pernas que tantas vezes impediram-me de sair, quando ela as enroscava nas minhas. Cada pedaço do corpo dela tinha uma história ligada ao meu.

Alice e Jasper retornaram em 10 minutos, com uma mala enorme. Coloquei os restos de Bella cuidadosamente, ali.

- Podemos ir de jatinho – Alice aplaudiu, quicando com a idéia de comprá-lo – de avião via aeroporto seria muito arriscado - explicou, os olhos bem inocentes fitando-me, pedindo permissão.

- Ok. Vamos comprar um Learjet …..Avise Carlisle. – Aprovei.

Andei em direção à Nessie.

- Querida, vamos voltar para Forks. Você virá?

- Papai, eu acho melhor eu e meu Jacob ficarmos aqui. Se formos, Alice não poderá cuidar do futuro de vocês.

Abracei meu bebê, sentindo seu cheiro quente, seu cheiro com Jacob, seu cheiro humano.

- Mesmo assim, você ainda está me devendo respostas. – exigi.

- Esse será sempre o meu segredo , papai. Vou cuidar para não revelá-lo

jamais. E piscou para mim de forma infantil, como fazia quando era pequena.

Nessie estendeu a mão para Jacob, que me fitava suplicando que lhe ligasse depois. Assenti, prometendo. Os dois foram-se, velozes, para a lua-de-mel, renovada diante da possibidade de morrerem.

Jane e Alec continuaram presos em sua mente… Quanto tempo será que esse efeito ficaria?

Peguei então a mala mais cara do mundo e a pus por sobre os ombros.

Estavamos alçando vôo. Alice e Jasper pilotavam o avião.

Quantas saudades eu tinha de Bella!

Lembrei-me de um poema de Camões, que retratava bem o que eu sentia.

Abri a mala, peguei a cabeça de Bella, e a abracei fortemente no meu peito, afagando seus cabelos…

Recitei em voz audível o que era a minha a dor.

“Se lá no céu, onde subiste,

Memória desta vida se consente,

Não te esqueças daquele amor ardente

Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te

Alguma coisa da dor que me ficou !

Da mágoa, sem remédio, de perder-te;

Roga a Deus que teus anos encurtou,

Que tão cedo de cá me leve a ver-te “

E eu chorei. Lágrimas de veneno, carregadas da minha tristeza, caíam abundantes, inundando o rosto sereno de Bella.

Nunca fui capaz de chorar – até agora. Chorei, aspirando o seu perfume, protegendo – a com minhas mãos.

3 comentários:

Jaami disse...

aaai que triste

Yasmin disse...

A mala + cara do mundo .....

Anônimo disse...

Chorei demais!!!

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