Singularity - Capítulo 28: De Cães E Cachorro-Quente

Eu desenhei algumas imagens para Emily e seus irmãos e tirei fotos para mim de todo lugar que fomos. As cartas para a humana alta me ajudaram a ficar focada o suficiente para que ninguém mais na América do Sul morresse por minha causa. Por sete meses, nós exploramos as matas, os desertos, as montanhas e as ruínas do continente do Sul. Eu aprendi umas cem danças diferentes, tão exóticas e eróticas que elas provavelmente seriam proibidas em casa. Eu nadei pela extremidade Sul do continente durante o inverno do hemisfério Sul, e montei em uma geleira. Eu até experimentei um pingüim – horrível. O sangue era quente, mas tinha gosto de peixe.

O único grande problema que eu tive foi que eu tinha prometido ligar para o Sr. Trudel todos os meses, e haviam muitos poucos telefones na América do Sul. Divertiu e aborreceu profundamente os outros, que eu tivesse que encontrar um telefone onde não havia nenhum.

Eu mandei mais de trinta cartas à família da Emily a essa altura, tanto para compartilhar a beleza com eles como para manter a vampira sob controle. Minhas companhias pareciam não precisar se controlar. Eles comeram mais de trezentos humanos.

Quando chegou em Fevereiro de 1945, eu estava pronta para deixar a companhia deles. Ivan persuadiu Paolo à tentar se firmar no Rio de Janeiro e fazer de lá, domínio dele. A discussão era que Paolo podia controlar lá honestamente e manter a paz como Paul tinha feito, mas nós todos sabíamos que isso era apenas uma mentira para permitir que eles comessem à qualquer momento que quisessem.

Eu não faria parte disso, então eu me despedi de meus amigos e rumei para Los Angeles e então para Las Vegas. Eu estava cansada de viajar como uma vampira e queria um hotel com uma grande banheira e um lugar para fazer compras.

Eu tive que ser paciente por quase duas semanas antes que as chuvas chegassem a L.A., mas então, eu vivi como eu queria. Eu passei horas em um banho de espumas e me mimei com produtos de cabelo comprados na Rodeo Drive. Eu troquei minhas velhas e acabadas roupas de viagem por novas, que serviam melhor, e felizmente atravessei o deserto rumo à Las Vegas.

A cidade não soube o que a atingiu.

Eu saí com mais de vinte e cinco mil dólares na minha mochila, enquanto fazia meu caminho de volta para New Hampshire, e para a minha própria casa. Aquele dinheiro iria para um novo carro no ano que vem – alguma coisa importada e insanamente rápida. Março é um bom período acinzentado, então não tinha necessidade de me apressar pelas montanhas do Norte. Eu cheguei à cabana em New Hampshire no dia 2 de Abril e relaxei em casa por quase duas semanas inteiras antes de ficar entediada e solitária de novo. Então eu aproveitei outra corrida despreocupada para New York, comendo com a freqüência que eu queria pelo caminho.

Eu teria feito compras em New York em Abril, mas os estilos e épocas estavam se tornando radicalmente diferentes. Essa era a razão de eu estar indo em direção à cidade grande que por tanto tempo foi minha casa, eu queria estar aqui e esperar pelo fim da guerra e pela celebração que eu podia ver claramente na minha mente.

Mais importante ainda, essa foi a vez que minha visão mostrou eu me encontrando com Jasper no restaurante desconhecido, onde eu iria pedir a miserável coca de cereja, por alguma razão sem sentido. O restaurante estava cheio de jovens homens que tinham cicatrizes de uma guerra recente. Eu sabia que eu o encontraria em algum momento nos próximos cinco anos em um restaurante onde os homens machucados tinham sotaque da Pennsylvania.

Eu tinha prometido a mim mesma que eu não iria procurar pelo restaurante, mas era tudo o que eu podia fazer para me conter. Eu dancei e rodopiei alegremente enquanto fazia meu caminho para a cidade brilhante e a promessa de um futuro melhor.

Minha primeira meta era encontrar um apartamento, de preferência um moderno e alto. Assim, eu poderia ir e voltar quando eu quisesse. Eu escolhi Manhattan porque era próximo às lojas e teatros que eu queria visitar. Dois dias depois que eu cheguei, eu encontrei exatamente o que eu precisava em um pequeno flat com três quartos, com eletrodomésticos muito modernos e totalmente desnecessários, no último andar de um complexo bem alto. Eu ainda tinha uma varanda legal. No último andar, o cheiro dos humanos ao meu redor não era tão potente. O apartamento era convenientemente mobiliado para que eu não precisasse comprar muitos móveis. Dois dias depois de me mudar, estava nublado o suficiente para que eu pudesse passar o dia todo na Wall Street ajustando meu considerável arquivo de ações e investir minha fortuna para o próximo estouro pós-guerra que eu via chegando. Eu iria estar muito ocupada com minhas ações no próximo ano, com o mundo emergindo da economia da guerra e começando a produzir coisas em um ritmo nunca visto.

Na última sexta-feira de Abril, eu fui para a Lowe e Associados para checar minha vida ausente.
“Senhorita Stoker,” arfou a secretária quando eu entrei. “É tão bom te ver novamente.” Ela estava mentindo, mas ela mentia razoavelmente bem.

“Eu provavelmente deveria ter ligado, mas eu decidi vir em um impulso,” eu expliquei. Era sempre bom aparecer inesperadamente quando as pessoas controlavam seu dinheiro.

“Por favor, sente-se. Eu vou chamar o Sr. Trudel. Eu suponho que você também queira sua correspondência,” ela disse sem ar enquanto se mexia para pegar minhas coisas.

Eu me sentei no escritório luxuoso e respirei várias dolorosas vezes. Eu estive perto da minha própria espécie por tempo demais, e estar aqui, provava isso. Eu podia ouvir cada batida de coração e sentir a diferença sutil de seus cheiros de onde eu estava, e me incomodava tanto que eu desejava muito o sangue dele mesmo quando eu estava saciada. Eu precisava praticar antes de ir ver a Emily.

A secretária voltou tropeçando com uma caixa enorme cheia de cartas e documentos. Eu gentilmente peguei a caixa dela e coloquei facilmente no chão para inspecionar depois. A maioria das cartas eram da Emily, é claro. Quem mais escreveria?

“Alice, é bom ver você,” me cumprimentou o Sr. Trudel. Eu rapidamente apertei a mão dele desejando que eu tivesse me lembrado das luvas. Ele meramente estremeceu quando nossas mãos se tocaram, mas não a puxou.

“Eu também estou feliz em te ver,” eu disse educadamente. “Eu vou ficar em Nova York por um tempo e aluguei um apartamento. Eu pensei que poderia passar aqui e pegar minha correspondência.”

“Você tem um apartamento aqui? Excelente. Eu gostaria de falar com você sobre suas finanças e outros problemas por alguns minutos, se você não se importa. Nós também podemos mandar a sua correspondência para o seu novo endereço.” Ele era muito profissional, como de costume. Ele precisava de um hobby.

“Eu gostaria que a correspondência continuasse vindo para cá. Eu ainda planejo fazer algumas viagens,” eu disse me encolhendo um pouco enquanto percebia que eu provavelmente sairia para procurar o restaurante novamente. “Então seria mais fácil para você receber minhas cartas e pagar minhas contas. Contudo, eu vou cuidar das minhas finanças, começando imediatamente.”
“É claro,” assentiu o Sr. Trudel, enquanto começava a fazer anotações em um pequeno livro. “Há mais alguma coisa que eu posso pegar para você? Você precisa de alguns novos documentos?”

“Há uma coisa,” eu comecei enquanto um sorriso se espalhava pelo meu rosto. “Eu gostaria de aprender como forjar os documentos que você faz aqui. Eu acho que eu gastei dinheiro suficiente neles, para que você esteja disposto a me deixar ver como você os faz.” Isso seria um aprendizado útil.

Sr. Trudel pareceu razoavelmente confuso. “Bem, hun, nós não costumamos deixar ninguém ver nossos trabalhos manuais. Nosso trabalho é um pouco particular, e nossos artistas não gostam de ser assistidos,” ele gaguejou e então limpou a garganta.

Oh. Eles não queriam ser pêgos.

“Não se preocupe, eu realmente não quero ser descoberta,” eu o lembrei. Uau, esses caras realmente não sabiam o que eu era?

“Eu vou ver o que posso fazer, mas não posso te prometer nada,” ele disse cautelosamente.
As cartas da Emily eram encantadoras e divertidas de se ler. Seus problemas comuns, tão breves e passageiros eram super importantes para a sua mente humana, e era divertido ler sobre eles. Ela amou minhas cartas e desenhos, e seus irmãos os colocaram em um livro para levar para a escola. As aulas dela acabaram todas nesse ano escolar, e ela estava agora fazendo turnos e praticando em ser enfermeira. Ela estava se saindo bem nisso, mas ela odiava quase todos os médicos, porque eles eram todos muito presunçosos. Os planos para o baile estavam indo bem, mas ele continuava se preocupando com todas as decisões que tomava. Eu estava feliz de não estar lá esse ano, porque eu teria batido nela sem ver, em frustração. Eu estava feliz, ainda assim, que ela estivesse se dando bem.

Eu escrevi rapidamente uma resposta para ela antes do cair da noite, e saí para enviá-la enquanto os últimos raios de sol desapareciam da cidade. Eu iria fazer o que eu me prometi não fazer, eu iria procurar pelo restaurante que eu sabia que eu só encontraria durante o dia. Eu tinha apenas alguns dias para procurar antes de ir para Pittsburgh para a formatura da Emily, e ver a festa dela, e eu devia estar trabalhando nas minha finanças ou vendo um show da Broadway, mas estava tão perto que eu não podia fazer nada além de procurar. Com um suspiro, eu me embrulhei em um casaco escuro e comecei a correr pelas ruas de Nova York procurando pelo que eu não encontraria.

Eu tinha uma programação muito apertada, mesmo para uma vampira. Emily se formaria na sexta-feira, 4 de Maio, daria o baile de noite, e então eu teria que estar de volta à Nova York para o anúncio de que a guerra da Europa estaria acabada, no dia 8 de Maio. As celebrações seriam de uma magnitude além de tudo o que eu vi na minha vida. Eu podia ver que o anúncio de que o Japão perderia causaria uma celebração ainda maior, mas isso não aconteceria antes de alguns meses. Eu acho que em algum momento durante o verão. Eu tinha idéia do porque, mas cogumelos estavam envolvidos de alguma forma. Muito estranho.

Eu fui para Pittsburgh em 2 de Maio, e prontamente comecei a procurar pelo restaurante nos meus sonhos. Isso era estúpido, e eu me sentia culpada por fazer isso, mas eu simplesmente tinha que encontrar Jasper. O restaurante não era em Pittsburgh, mas procurar me mantinha longe de problemas até que eu me encontrasse com a Emily no dia 4 de Maio.

Estava abençoadamente nublado. Eu fui direto para a casa dela e bati na porta com um sorriso levemente abafado e com um presente de um novo, muito moderno e estiloso sobretudo. Por tanto tempo em que eu estive na cidade, procurando pelo restaurante, eu não pude me impedir de fazer algumas compras nas butiques de Nova York.

O irmão da Emily abriu a porta e imediatamente me cumprimentou.

“Olá Alice! Ei Em, Alice está aqui pra ver você,” o garoto gritou. Ele parecia quase quinze centímetros mais alto do que eu me lembrava. Ele estará mais alto do que seu pai de um metro e noventa, em breve.

“Quando você decidiu crescer?” Eu brinquei.

“Não foi idéia minha, acredite, mas eu estou realmente feliz que tenha acontecido,” ele riu, enrugando seu nariz sardento. Ele tinha a mesma característica infantil que o rosto da Emily tinha. “Eu finalmente posso vencer meu pai quando nos lutamos. Obrigada por esses desenhos super legais, eu os usei como meu projeto de ciência para a feira esse ano. Foi tão legal, e eu nem tive que fazer nada.”

“Alice!” Gritou uma voz familiar e acolhedora. Meu sorriso ficou ainda maior e o irmão da Emily recuou dois passos em alerta enquanto ela passava por ele correndo para me abraçar. Meu rosto ficou de repente sufocado contra seu abdômen em um abraço muito desajeitado.

“Estou tão feliz que você veio. Venha e me veja vestindo meu capelo e a beca. Está tão legal. Eu simplesmente não posso acreditar que eu estou finalmente me formando, especialmente depois de tudo o que aconteceu…” E então o ano que passamos separadas não era nada, enquanto ela me levava para seu quarto cheio de presentes e caixas de todos os tipos. Ela quase não respirou enquanto falava. “… então essas coisas vieram da minha tia em D.C., e, olhe, meu pai me deu esse corpete maravilhoso. Os pais do Tom compraram para mim essa bolsa e sapatos de enfermeira combinando – eles são tão maravilhosos – e eu mal posso esperar para abrir o seu presente.”

Eu entreguei à ela o presente sem falar nada e ela abriu a caixa com um gritinho de alegria. A garotinha não foi completamente perdida.

“Oh, Alice, isso deve ter custado uma fortuna. Você não devia ter gastado tanto comigo,” ela suspirou enquanto suas mãos acariciavam o casaco de pele branco. Ela abraçou o casaco e falou alegre para mim, “Eu adorei tanto.”

Era tão divertido presenteá-la. “Eu sabia que você iria adorar, é por isso que eu comprei pra você. Não se preocupe com o preço, eu tenho algumas fontes internas muito boas.” Eu tinha mesmo.

“Uau, você se divertiu muito nas suas viagens? Eu não posso acreditar quantos lugares você visitou em um ano. As fotos são maravilhosas. Você recebeu alguma das minhas cartas? Eu sei que elas eram muito chatas comparando com as suas,” ela adicionou corando. Isso me fez recuar. Eu tinha esquecido o quanto o sangue dela podia se juntar em suas bochechas e orelhas. Eu olhei para fora da janela para respirar ar fresco e limpar esse desejo da minha mente.

“Eu adorava ler sobre as coisas pelo que você passou,” eu disse honestamente. “Eu mal posso esperar para ver o que você arrumou para o baile essa noite. Então, para que todas essas caixas?” Eu perguntei para mudar de assunto. Eu não precisava me lembrar quanto sangue de pessoas eu havia consumido no último ano enquanto eu me sentava nessa casa de humanos com minha amiga humana. Eu me encolhi interiormente. Eu não estava planejando ser amiga dela por muito mais tempo. Eu não queria ela em nenhum lugar perto de mim quando os outros voltassem. Eu não a queria em perigo.

“Eu consegui um trabalho na Philadelphia, no Hospital Infantil de lá. Não é demais? Eu estou tão animada que mal consigo me conter. De qualquer forma, eu comprei um apartamento com duas outras enfermeiras e eu vou me mudar na próxima semana para iniciar minha nova vida.” Ela estava quase tremendo de excitação.

“Isso é maravilhoso Emily!” Eu podia sentir meu próprio sorriso respondendo à alegria dela. Esse seria o trabalho perfeito para ela, e eu estava muito animada por ela. Era refrescante sentir alegria por pela conquista pessoal de outra pessoa. Isso era uma coisa tão humana, e era estranhamente vivo para mim.

“Querida, nós precisamos sair em vinte minutos, se arrume,” chamou a mãe da Emily do fim da escada.

“Oh,” ela arfou. “Oh, Alice, me ajude com meu capelo e com a beca e com o capelo. Eu sei que você consegue me fazer ficar bem com eles.”

Eu ri enquanto ajudava ela a vestir a beca e ajeitar aquele capelo medonho no seu cabelo castanho. Fazer uma beca e um capelo ficarem bonitos estava além das minhas habilidades.

Nós dirigimos até a escola e deixamos a Emily para pegar informação na pequena sala da banda. A família reunida comigo ao lado, diminuída pelos humanos altos ao meu redor. Eu devia parecer uma criança perto dos irmãos esguios da Emily. Eu odiava muito aquilo.

Mesmo que eu não suportasse respirar, e que eu estivesse sentada cercada por humanos deliciosos que eu tinha que ignorar, eu estava feliz pelo tempo que eu podia passar com essa família humana e muito normal. Eu estava tão contente que estivesse nublado. Eu realmente não queria perder a formatura da Emily por causa do sol.

A formatura foi exatamente como a minha, e provavelmente como a de todos eles. Equipe, estudantes e graduados tentaram parecer distintos em roupas ridículas, e coisas fofinhas penduradas nos seus rostos. Eu quase ri durante o pequeno discurso feito pelo presidente da escola. Então uma menina fez um discurso que foi quase palavra por palavra igual ao que ofereci minha formatura. O orador convidado falou do dever ao país e da necessidade de lutar contra os opressores não importa o custo. Todas as formaturas iam por esse caminho? Provavelmente.

Setenta e oito minutos depois que começou, o último nome foi chamado e os formandos jogaram seus capelos no ar enquanto todos nós aplaudíamos e parabenizávamos. Eu olhei para cima para ver a marca de quinze centímetros que meu próprio capelo tinha deixado no teto. Provavelmente estaria lá até que o prédio fosse demolido. Eu senti um pouco de orgulho pela pequena marca que sempre lembraria à escola de que Alice, a vampira, esteve aqui.

De repente, estávamos todos sendo empurrados enquanto as famílias se dirigiam à seus formandos. A cabeça da Emily continuou aparecendo por cima da multidão enquanto ela pulava para ver a família dela. Irritantemente, ela não precisava pular para vê-los. Eles todos ficavam uma cabeça acima da multidão facilmente. Então, ela saiu do meio das pessoas e estava pulando enquanto abraçava sua mãe e seu pai. Seus irmãos olharam para ela, transmitindo a desaprovação conjunta de demonstrar qualquer tipo de afeição em público, pela sua irmã. Eles eram tão garotos.

“Você vem ao restaurante conosco, Alice?” Ela me perguntou sem ar. Seus patrões estavam dando um grande almoço para celebrar a conquista dela. Mesmo que eu quisesse muito passar meu tempinho final com ela – eu não poderia ir. Eu não iria a lugar nenhum que tivesse que comer ou beber.

“Eu acho que você deveria comemorar com a sua família agora, e eu vou celebrar com você de noite no baile,” eu disse sorrindo para ela. Ela nunca teve medo dos meus sorrisos como deveria.
Seu rosto caiu um pouco. “Eu pensei que você estaria lá para o almoço.”

“Há outras pessoas que preciso ver em Pittsburgh, enquanto estou aqui,” eu menti gentilmente “mas eu vou estar no ginásio às cinco para ajudar com as preparações finais.” Aquilo animou ela um pouco.

“Você promete que vai estar lá?”

“Eu estou esperando por esse baile há um ano,” eu disse totalmente convincente, “eu não perderia por nada no mundo.”

“Apenas cheque tudo para mim, ok?” Ela sussurrou. “Eu acho que tenho tudo, mas eu simplesmente não tenho certeza. Mamãe disse que está tudo pronto, mas eu realmente não sei.” Sua incerteza me fez rir.

“Não se preocupe com nada. Eu tenho certeza que está perfeito, mas eu vou checar de qualquer jeito.”

“Obrigada, Alice. Você é a melhor,” ela suspirou e me abraçou apertado novamente. Como ela conseguia fazer isso?

Eu acenei para a família que saía para comer e dei a volta no campus. Então fui para o ginásio para checar a festa.

Estava decorado do jeito típico humano; bandeirinhas de papel crepom e flores de papel barato. A comida envolvia sanduíches pequenos e secos, salada de batata, e os populares mini cachorros quentes ensopados por um molho de churrasco de cheiro doce. Tão típico. Emily arrumou as paredes com um toque criativo dos brinquedos favoritos dos formandos e lembranças das suas infâncias. O efeito era charmoso, mas muito reprimido. Eu teria coberto a superfície e transformado completamente o ginásio, e isso era tudo o que eu não poderia fazer, ir ajeitar comalgumas decorações próprias. Essa era a festa dela, eu me lembrei firmemente, e o toque da vampira não era nem necessário nem desejado.

Eu decidi que eu deveria tentar ver Jasper ou os outros. Os poucos vislumbres que eu tinha deles sempre melhoravam meu humor. Enquanto eu procurava, eu sadicamente esperava que Edward e Rosalie estivessem discutindo de novo. Eles eram hilários quando estavam bravos um com o outro. De fato, as brigas com Rosalie, tocar música, as lutas com Emmett, e as viagens de caça eram as únicas coisas que pareciam atrair o interesse dele. Ele parecia tão entediado com a vida. Eu esperava poder agitar um pouco a sua rotina.

Eu deixei minha mente vagar, pensando ligeiramente no que eu queria encontrar. Isso funcionou melhor se tratando das visões que eu queria. Assim como a vida, tentar forçar uma visão, raramente funcionava da maneira que eu queria. Então eu me sentei e simplesmente pensei e desejei a presença do Jasper.

De repente, ele preencheu minha mente. Meu corpo ficou tenso e então relaxou do uma maneira especial que sempre acontecia quando eu o via. Era tão estranho o quanto eu o desejava ferozmente e ainda tivesse o contentamento completamente obscurecido pelo desejo de vê-lo. Era uma visão calma dele sentado no que parecia ser uma biblioteca, simplesmente lendo uma pilha de livros. Ele estava absorto naquilo, e o olhar no seu rosto me lembrava de mim mesma quando eu aprendi a ler na velha escola, ou quando eu descobri a biblioteca de Nova York. A visão durou por um longo tempo, com Jasper simplesmente sentado lá, virando as páginas à cada poucos segundos e então escolhendo um novo livro, mas eu me divertia com a cena. Era quase como assisti-lo no quarto, silenciosamente observando-o.

E então a visão de foi. Eu estava totalmente e completamente contente, e, pela primeira vez em anos, eu não precisava de nada além de repetir a cena mais e mais até que seu rosto pacífico se gravasse na minha mente. Eu estava verdadeiramente entediada quando eu finalmente ouvi passos dos primeiros humanos que vieram terminar de arrumar tudo para a festa.

Eu suspirei e fiquei para ajudar quem quer que estivesse encarregado das preparações finais. Como uma precaução, eu parei no banheiro para checar meu rosto e trocar para o meu vestido de festa primeiro. Eu não precisava retocar nenhuma maquiagem porque eu não usava nada além do meu batom vermelho rubi, mas eu também não queria assustar o humano desavisado que iria preparar a festa com uma vampira, me parecendo muito com uma. Eu me ajeitei com meu olhar mais gracioso, e andei para o ginásio para ver no que eu poderia ajudar.

As quatro estudantes de enfermagem que tinham se voluntariado para ajudar a organizar o baile olharam para mim com olhares deslumbrados enquanto eu entrava. De início, os olhares eram de choque, então de inveja, então, ligeiramente temerosos. Essa era a forma que todas as humanas olhavam para mim. Exceto pela Emily, é claro, mas ela era estranha.

As quatro garotas se afastaram e esperaram que eu dissesse alguma coisa para elas, então, eu limpei minha garganta, dei um sorrisinho, e educadamente às cumprimentei.

“Oi, meu nome é Alice. Eu sou amiga da Emily e ela me pediu para vir e ajudar com a festa. Então, o que eu posso fazer?”

Elas todas ficaram lá por apenas um segundo e então uma delas disse trêmula, “Oi. Emily nos disse que você viria. Poderia nos ajudar a colocar as últimas bandeiras pelo palco onde a banda vai tocar? Nós estamos acabando de arrumar a comida.” Ela tentou sorrir de volta, mas ela apenas pareceu um pouco doente.

Bandeirinhas, ótimo. Eu sei que elas são marca registrada das festas humanas, mas sério, eu não ensinei direito à Emily?

“Quantas ela quer?” Eu perguntou por cima do ombro. Duas garotas pularam com o som da minha voz. Céus, nem mesmo estava escuro aqui. Como uma pequena vampira vestida em um vestido de seda poderia assustar tanto?

“Use o máximo do que sobrou que você puder,” falou uma corajosa, “e isso será toda a decoração que será preciso colocar.”

Oh não, eu pensei, há tão mais que poderia ser colocado, mas eu obedientemente andei e comecei a pendurar bandeirinhas desde a cesta de basquete até a beira do palco. Eu iria pendurar todas elas e usar todo o restante.

Eu odiava essas bandeirinhas. Elas eram doentiamente simples e com cara de coisa barata, e frágeis demais para os dedos de uma vampira. Minhas mãos estavam acostumadas a ser gentis por causa da tendência dos tecidos de se desintegrarem sob pressão normal de um vampiro, mas essas coisas de crepom eram ridiculamente frágeis. Eu nunca nem considerei usá-las, mesmo elas sendo decorações normais para esse humanos. Quando eu terminei de deixar o palco parecendo uma floresta tropical pomposamente colorida, eu dei a volta e continuei pendurando bandeirinhas de papel crepom em toda superfície que não estava suficientemente coberta, e recolocando as flores de papel que tinham caído pelo ginásio. Os olhares das enfermeiras nunca saíram das minhas costas, e eu fiquei imaginando o quanto eu me tornei assustadora nos últimos meses que eu passei com minha própria espécie. Porque eu não conseguia encontrar um equilíbrio entre vampira e humana?

Para piorar muito o meu humor, eu conseguia ouvir as garotas conversando sobre mim, perto das comidas.

“Eu não sei porque todos os caras gostam dela…”

“… mais assustadora do que bonita se você quer saber…”

“Os caras gostam dela até realmente a conhecerem, e então, eles correm. Apenas observe essa noite…”

“… olha para nós com aquele sorriso, mas o sorriso mais parece fome como se nós somos hambúrgueres ou outras coisas…”

“Querem parar? Ela é uma amiga da Emily e a ajudou muito quando ela precisou. Olha, ela está fazendo o que nós pedimos sem nem mesmo reclamar. Vocês são tão invejosas que seus olhos estão ficando verdes, então simplesmente se calem e terminem a comida,” chiou a corajosa.

Eu estava muito grata pela tirada dela quando eu mesma já estava quase interrompendo, e a vampira em mim estava muito ansiosa para mostrá-las o quanto meu sorriso poderia parecer faminto. Se elas queriam medo, então eu poderia definitivamente ajudar.

Eu suspirei pesadamente. Eu posso estar certa na minha raiva, mas o fato de que a besta rosnando dentro de mim ter ficado tão poderosa rapidamente, me surpreendeu. A besta desejava matá-las por serem rudes e por falarem o óbvio sobre o quão perigosa eu era, e eu quase a deixei. Mesmo quando eu tentava acalmar a vampira com raiva, ela estava me lembrando o quanto aquelas jovens enfermeiras podiam ser deliciosas, e justificando os assassinatos matando apenas as perversas e deixando a boazinha viver.

Eu continuei mal disposta na minha auto-avaliação até que ouvi a voz agitada da Emily vindo do corredor. Eu me virei para ver que ela estava muito pálida e seus olhos muito arregalados enquanto ela observava cada detalhe do lugar.

“Alice,” ela me chamou com alívio na voz, “está perfeito? Eu fiz certo com tudo? O que mais tem? Eu simplesmente sei que esqueci de alguma coisa. Eu não sei quanto às cores também. Talvez…”

“Quer fazer o favor de relaxar?” Era quase um comando meio frustrado e não uma pergunta realmente. “Está perfeito. A comida está pronta, as decorações estão colocadas, e a banda está no corredor. Você fez muito bem.” Eu menti um pouco para fazê-la se sentir melhor. Era mais correto dizer que ela fez bem para uma humana, mas quem era eu para julgar.

“Está formidável, Em,” gritou uma das garotas da mesa de bebidas. “As cores estão perfeitas e todo mundo vai adorar.”

Havia algum humano por perto com um pouco de bom gosto?

Dada a situação, eu percebi que “gosto” era uma palavra que não deveria ser usada agora.

O impasse desconfortável entre mim e as enfermeiras se acalmou um pouco com a chegada da Emily e dos seus pais. O pai e a mãe dela iriam ficar para ajudar um pouco, mas os irmãos dela tinham sido despachados para a casa de um amigo para que eles não destruíssem o baile. Eles tinham sido escalados para ajudar Emily a se arrumar, mas, aparentemente, o pai deles encontrou várias bombas de fumaça feitas em casa, dois grandes estilingues, e um grande suprimento de tinta preta no quarto deles, e eles estavam agora banidos do baile. Uma pena, porque teria sido bem mais divertido para mim se eles viessem aqui sem serem vistos.

De repente, a banda apareceu, pessoas começaram a entrar pelas portas, e Emily estava cercada pelos simpatizantes e admiradores, e a garota alta e dolorosamente tímida que encontrou uma vampira para ser amiga simplesmente floresceu na minha frente. Ela continuou erguida, sorriu mais, e começou a conversar animadamente com as pessoas ao redor dela. Eu senti um pouco de orgulho pela transformação dela. Eu tinha viajado milhares de quilômetros e salvei várias vidas. Eu tinha me afastado da minha natureza assassina e vivido entre humanos sem os prejudicar. Eu tinha voltado das profundezas das lamentações e do pesar, e me tornado uma graduada na faculdade. Nada dessas coisas se comparava a isso. Forçar Emily a sair da concha que ela tinha se tornado, foi a coisa mais importante que eu já fiz.

Então, sem aviso das minhas visões inconstantes, a multidão que cercava Emily estava se aproximando de mim, com Emily os guiando.

“Essa é Alice, a maioria de vocês provavelmente se lembra dela,” ela disse sorrindo, “e eu nunca teria feito isso sem ela praticamente me forçando.”

Eu sorri para esse mar de rostos que me consideravam, com uma mistura de atração e de apreensão.

“Sério, foi apenas uma sugestão,” eu ri, tentando parecer graciosa. Não funcionou, mas de verdade, eu não esperava que funcionasse.

“De qualquer forma, como eu estava dizendo, Alice nunca, nem uma vez, experimentou a comida que o restaurante faz.” Ela sorriu perversamente enquanto eu congelei em perturbação. “Mas essa noite, eu vou fazê-la pelo menos experimentar o molho de churrasco do meu pai e os cachorros quentes, e a salada de batata da minha mãe.”

“Emily, não!” Meu rosto e o rosnado na minha voz foram o suficiente para fazer os outros estudantes recuarem vários passos, mas Emily, é claro, estava imóvel. Depois de passar três horas tentando tirar a coca de cereja do meu estômago, eu não poderia imaginar o que cachorro quente como molho de churrasco faria comigo.

O rosto dela se tornou petulante, enquanto o meu se tornou mortal.

“Alice, por favor,” ela choramingou. “Minha mãe e meu pai passaram horas fazendo a comida, e eu quero compartilhar com você. Esse é a receita secreta de churrasco do meu pai e a famosa salada de batata da minha avó. Você precisa experimentar. Por favor? Como um presente especial para mim?”

A garota convincente estava tanto choramingando quanto implorando, cercada pelos rostos curiosos dos outros, e eu não podia pensar em uma desculpa boa suficiente para evitar a comida. A vampira me lembrou que eu poderia facilmente evitar se eu estivesse disposta a matar.

Então, induzida pela humana choramingando, e para manter o monstro contido, eu sorri, me encolhi e disse, “Bem, se isso te deixa feliz. Mas eu não estou com nem um pouco de fome, então só um pouco, por favor.” Minha voz soou áspera, enquanto os rosnados da vampira saíam.

Emily gritou em alegria e saiu para pegar minha “pequena” quantidade de comida enquanto as pessoas continuavam observando com curiosidade. Eles todos instintivamente sabiam o que Emily se recusava a ver, que essa cena estava de alguma forma, muito, muito errada.

Ela voltou com um prato cheio de cachorro quente e batatas lamacentas. Eu sabia que os humanos adoravam essas duas coisas, ela já tinha se vangloriado da receita do seu pai e da comida da sua avó antes, então eu tinha certeza que Emily não poderia imaginar porque eu não iria querer comer um prato cheio.

“Alice, pare de olhar desse jeito! Não vai te matar comer isso, você sabe. Talvez vá até colocar um pouco de carne nos seus ossos,” ela disse, como se estivesse conversando com uma criança.

Eu ri quase histericamente com o pensamento da comida me matar e colocar carne nos meus ossos. Então, olhando tudo em volta, eu simplesmente peguei o monte repulsivo de comida e olhei sem emoção para ele.

“Sério Alice, não há razão para parecer tão doente. Por Deus, você está ainda mais pálida do que o normal.” Ela estava ficando chateada agora. Eu tirei meu olhar do prato e olhei ao redor, para os rostos. As enfermeiras maldosas tinham olhar de vitória, como se elas soubessem que tinha algo seriamente errado comigo. Eu tentei ignorar o grito da vampira para remover a maldade delas da Terra. Então, eu tentei silenciar os terríveis gritos internos da vampira, enquanto colocava o cachorro quente doentiamente doce e pegajoso na minha boca, e engolia.

Era pior do que eu podia imaginar. Eu não conseguia sentir realmente o gosto da comida, mas meu olfato me disse mais do que eu precisava saber. A carne tinha cheiro e gosto de sal, e o molho era uma mistura de ácido e doce, que esmagaram meu olfato de vampiro. Eu sabia que eu não ia cheirar nada além de molho até eu me livrar disso. Eu nunca na minha vida quis tanto sair correndo e gritando de um lugar.

De repente, eu percebi que eu tinha desumanamente engolido a coisa toda, e que meu rosto estava contorcido em um olhar de puro nojo.

Eu forcei o olhar no meu rosto a mudar para alguma imitação de brincadeira, e disse, “Uau, Emily, isso é incrível.”

Ela riu e bateu palmas. “Por um minuto, eu pensei que você estava à ponto de vomitar tudo. Mamãe e papai vão ficar tão felizes que você tenha gostado. Agora, experimente a salada da mamãe enquanto eu pego algo para você beber.”

Eu quase avancei na garganta dela, mas a parte sã da minha mente, que se encolhia cada vez mais, de alguma forma manteve o controle para meramente colocar a salada pegajosa na minha boca e mastigar até deixá-la em estado líquido.

No segundo em que eu engoli, meu estômago inteiro começou a tentar fazer a coisa voltar. Não tinha gosto de nada, mas tinha uma textura grotesca que revoltou cada parte de mim. Eu travei meus músculos no lugar e tentei não me parecer com o monstro vomitando que eu era. Precisei de cada parte do controle que eu tinha conseguido nos últimos vinte e cinco anos para continuar comendo da coisa vil e sem gosto.

Um copo encontrou seu caminho até a minha mão e eu estava vagamente consciente durante meu sofrimento de que a Emily tinha me entregado um ponche vermelho nada natural. Eu coloquei de lado, e rapidamente, muito rapidamente, coloquei o resto da comida na minha boca e a pulverizei. Então, com o restinho da minha reserva de controle, eu agarrei a bebida e bebi em tempo recorde.

Meu interior completo estava gritando em protesto e pulsando uma tentativa de se livrar da massa de comida que estava lá dentro. A bebida apenas ajudou a fazer a comida descer mais ainda para o meu esôfago. Não aliviou nada, e apenas adicionou um cheiro e um gosto doentiamente doce. O corante vermelho tinha gosto de metal. Eu estava vacilante entre tremer de raiva e vomitar de nojo, mas eu abaixei a bebida gentilmente e me virei para Emily.

Precisei de todas as minhas forças para não matá-la e a todas as pessoas espantadas no salão.
“Obrigada,” eu sorri, “diga à sua mãe e ao seu pai que eles são ótimos cozinheiros, Emily. Não acredito que esperei tanto tempo para experimentar a comida deles.”

“Você quer mais?” Ela perguntou radiante.

Você quer que eu te mate agora ou mais tarde?

“Hum, não, obrigada, mas talvez um pouco mais tarde. Eu realmente não estou com muita fome.” Eu disse enquanto tentava comandar meu estômago para parar com a ânsia de vômito convulsiva.

“Você comeu como se estivesse faminta,” ela riu, e vários outros riram com ela.

Eu olhei em volta, parcialmente curiosa e parcialmente procurando vítimas, e descobri que os humanos estavam relaxando e sorrindo ao meu redor. O simples fato de comer uma pilha de comida me fez parecer muito mais humana, e agora eles estavam me aceitando. Era uma resposta inesperada, e uma que não valeu à pena o esforço.

Por sorte, nesse momento a banda tocou uma música muito animada. Rapidamente, a multidão foi diminuindo e as pessoas foram para a pista de dança. Emily ficou sorrindo para mim até que seu pai veio e a levou também para a pista. Eu estava vagamente consciente de tudo isso, porque eu estava tentando manter meu controle por tempo suficiente para chegar até as árvores.

Forçar a comida a sair era horrendo. Eu tentei vomitar, e tentei, e forcei meus músculos acostumados à beber líquido quente, à vomitar as massas sólidas e líquidas no meu estômago. Levou quase uma hora e meia para conseguir colocar pra fora os grandes pedaços e o líquido espesso. Era nojento. Eu não fazia idéia de como colocar para fora os pedaços e o líquido, mas eu não queria caçar até que tivesse saído tudo. Não era mais, entretanto, doloroso e não tão doentio, à ponto de que eu não conseguisse me juntar aos outros que agora, eles deveriam estar procurando por mim.

Dr. Hendricks estava certo, os únicos amigos de um vampiro eram os mortos e os que estavam morrendo, e eram muito tentador fazer os humanos inoportunos do ginásio uma coisa ou outra.

Eu suspirei profundamente e voltei para o salão cheio e barulhento. Eu não poderia desejar a morte para nenhum deles, exceto para as enfermeiras maldosas, e eu retornei como uma vampira razoavelmente feliz e contente.

Eu passei a noite toda observando Emily e também tentando evitar as tentativas dela de me alimentar ou rir das tentativas dela de tentar encontrar um parceiro de dança para mim. Duas vezes, em um curto espaço de tempo, ela conseguiu, e eu dancei algumas músicas com dois jovens muito infelizes, mas muito corajosos. Houveram algumas outras poucas interações sociais para mim, ainda assim; eu estive longe por muito tempo, e eu era uma vampira. Eu não era mais uma parte acolhedora do mundo deles.

O último casal vagou para fora do ginásio às 1:30, e Emily quase teve um colapso quando ela se sentou para tirar seus sapatos, de seus pés inchados.

“Eu consegui Alice! Não posso acreditar. Eles realmente se divertiram, e eles adoraram. Muito obrigada,” ela disse enquanto se inclinava e tocava levemente o meu braço. Mesmo com o cansaço, seu sorriso era radiante e muito grato. Eu quase brilhei por dentro.

“Eu apenas pendurei algumas decorações,” eu a lembrei modestamente, “então você não deveria me agradecer. Você fez todo o trabalho.”

“Mas se você não tivesse me forçado a aceitar o emprego, eu nunca teria vivido isso. Eu ainda não consigo acreditar que eu consegui. Eu organizei, e dei uma grande festa. Uau.”

Eu senti o brilho crescer com as palavras dela. Eu já sabia disso, é claro, mas foi legal ouvi-la admitir. Eu iria sentir falta dessa amiga humana estranha, mais do que eu queria aceitar. Eu conseguia ser tão normal perto dela.

“A banda estava ótima, não estava? E até você gostou da comida,” ela relembrou com uma risada na sua voz. Então seu olhar caiu, “eu queria muito que Tom pudesse ter visto isso. Ele nunca teria acreditado.”

Nós duas ficamos em silêncio por um momento. Sim, eu também queria que Jasper estivesse aqui, ainda que ele fosse muito perigoso para essa festa. Porém, eu estava feliz que ele não tivesse me visto vomitando nas árvores.

“Quando você vai embora?” Eu perguntei para mudar de assunto.

“Domingo à tarde. Você vai me ajudar a empacotar tudo e arrumar meu caminhão? Meu tio vai trazê-lo amanhã, e eu ainda não empacotei nada. Eu vou estar exausta!” Ela suspirou e deitou sua cabeça na minha. Eu podia sentir seu calor pela minha pele, mas ela parecia inconsciente do meu corpo frio e duro. Muito estranho, principalmente para uma enfermeira.

“Eu vou tentar ajudar,” eu disse honestamente. O tempo estava instável nessa época do ano e eu tinha certeza de que o dia iria vacilar entre nuvens e sol, mas se eu pudesse ficar no quarto dela, e empacotar lá, eu faria.

“Eu queria que você pudesse vir comigo para Philly. Seria tão legal ter você lá. Você vai embora e viver grandes aventuras, né?”

Eu tive que rir. Isso era de fato o que eu queria fazer.

“Provavelmente. Jasper não está em casa ainda, e não tem muita coisa pra eu fazer.” Eu estremeci com a verdade dessas palavras. “Além disso, eu tenho ótimas idéias para roupas e pinturas quando eu viajo.”

“Me prometa que você vai escrever,” ela comandou.

“Eu vou, além disso, eu ainda não estou indo. Deixe-me te dizer, você vai para casa, e eu vou terminar por aqui, e quando você acordar, nós começamos a empacotar. Fechado?”

Ela deu um grande bocejo, riu um pouco, e rumou para a porta, descalça e exausta. “Te vejo de manhã,” ela bocejou novamente.

“Te vejo ao meio dia,” eu ri de volta. Enquanto eu limpava o ginásio, eu imaginei como era estar cansada, e desejei conseguir me lembrar de como era dormir.

Quando Emily disse que ela não tinha terminado de empacotar, ela quis dizer que ela nem tinha começado direito. A maioria das caixas no quarto dela estavam enganosamente, e frustrantemente vazias. Ela era insanamente devagar, escolhendo o que levaria e esperando o caminhão, eu pude tomar algumas outras decisões por ela. Ela estava tão confusa com a mudança que se aproximava que ela nem notou quando ela entrou, depois de três minutos, para encontrar seu armário vazio e seis caixas cheias.

“Alice, eu acho que te amo,” suspirou o pai dela na sexta viagem. Os nervos dele estavam mais desgastados do que os meus. Ele esteve lidando com as tentativas de sua filha dispersa de se mudar há semanas.

“Faça um favor para todos nós, e leve-a para almoçar, ou alguma coisa do tipo. Eu vou ter carregado todas as coisas dela, quando você voltar,” eu sussurrei de volta.

“Alice, eu não posso fazer isso com você,” ele falou sem graça. “Você não merece isso, não depois de tudo o que você fez por ela. Nós devemos levar você para almoçar!”

“Alice, eu não posso fazer isso com você”, ele afirmou categoricamente. “Você não merece isso, não depois de tudo que você fez para ela. Nós devemos levar você para almoçar!”

“Eu não conseguo comer mais nada depois de ter me enchido na noite passada”, eu afirmei. Não era mesmo uma mentira. Eu estava bastante certa de que eu ainda tinha um pequeno pedaço de salsicha em algum lugar no meu estômago. Eu nunca deveria ter mastigado as coisas viscosas tão finamente. Eu esperava que o meu leve tremor no pensamento de forçar ainda mais comida na minha garganta não aparecesse. Eu não queria nunca mais comer comida enquanto eu vivesse.

“Eu não sei Alice,é terrivelmente injusto deixá-la com isso”, disse ele enquanto um leve vislumbre de esperança atravessava seu rosto.

“Eu posso fazer isso muito mais rápido sem ela aqui,” rapidamente sibilei enquanto Emily começou a subir as escadas. “Confie em mim, eu sou um especialista em fazer as malas, e esta tem que ser feita. Tirem-na daqui!” eu pedi assim que ela entrou no quarto.

Nós dois nos viramos e sorrimos para ela.

“O quê?”

“Hum, Alice e eu estávamos falando sobre os planos de almoço. Estou faminto, e sei que seus irmãos estão também, então por que não ir para comer?” Seu pai era um bom mentiroso.

“Eu acho que nós poderíamos fazer uma pausa”, Emily disse com incerteza enquanto ela verificava o atrapalhado caos de seu quarto. “O que você quer Alice?”

Eu quase rosnei para ela.

“Estou super cheia da dança na noite passada, acredite em mim, eu não poderia comer outra mordida. Vocês vão em frente e vou continuar a empacotar para que não demore muito.” Eu tentei sorrir para que o meu desconforto com o simples pensamento da comida não se mostrasse muito.

No segundo em que a porta fechou, eu comecei a classificar e embalar em velocidade vampírica. Depois de apenas dez minutos, eu tinha ordenado todos os itens no quarto para uma pilha “Levar” e uma pilha “Guardar”. Antes que eu pudesse começar a colocá-los em caixas apropriadas, ouvi o rugido fraco do animal mais irritante do mundo.

Bouncer, o cão, estava sozinho comigo em casa, e ele estava rosnando para mim. De repente, ajudar Emily a empacotar valia muito a pena.

Virei-me e comecei a chamar o pequeno cão com o temperamento desagradável com a minha voz mais doce de vampira. Ele respondeu rosnando alto e avançando.

Eu tinha que admitir, ele era ou muito corajoso ou insanamente estúpido, de qualquer forma, ele era o único animal que jamais rosnou para mim. Ele manteve sua posição enquanto eu docemente avançava, segurando a mão de uma forma não muito ameaçadora.

Assim como eu esperava, o cão que tinha arruinado minha saias e meias agarrou a minha mão. Eu ouvi o estalo dos dentes contra as minhas mãos de pedra, e ele chorou da dor e correu alguns metros para trás. Ele não havia perdido nenhum dente, mas eu aposto que eles estavam um pouco frouxos.

“Não se esqueça isso!” Eu o repreendi.

Surpreendentemente ou estupidamente, ele começou a rosnar baixo e em seguida começou a avançar com a sua grande coragem aumentada. Eu realmente queria matar o cão de Emily, mas seria tão duro para ela perdê-lo.

Virei para enfrentar o pequeno e vingativo vira-lata mostrando todas as partes do vampiro que eu era. Com dentes travados e prontos, eu deixei sair um rugido forte e impressionante que sacudiu as janelas.

O cão parou, fez xixi no chão, e caiu como uma pedra na bagunça molhada.

Eu não podia acreditar, eu o matei com um rosnado.

Não, eu podia perceber seu batimento cardíaco rápido. Então eu caí na gargalhada. Ele tinha desmaiado. Todas as vezes que havia mordiscado minhas pernas e rasgado minhas roupas, e ele tombou com apenas um rosnado.

Eu usei o seu pêlo para enxugar sua bagunça, o levei para embaixo e o atirei para fora da porta. Aquilo valeu a pena por toda a trabalheira de fazer as malas.

No momento que a família retornou do restaurante, todos os itens necessários estavam encaixotados e estavam no caminhão, e eu estava ocupadamente inspecionando todas as tralhas que tinham sobrado.

“Como você fez isso?” engasgou uma incrédula Emily de sua porta.

“Eu tenho morado longe de casa já há algum tempo, então eu tinha uma ideia bastante boa do que você precisava. Isso era para que?” Eu perguntei, queimando com curiosidade sobre os itens estranhos deixados no quarto. Eu estava segurando uma lata esfarrapada com uma alça de couro.

“Esse foi a minha primeira marmita de almoço. Você mal pode ver, mas minha avó pintou um retrato do meu ursinho de pelúcia sobre a lata para que eu não sentisse falta dele”, ela riu docemente. “Oh, aqui está Mona, minha boneca.” Ela levantou uma coisa sem uma vida, disforme, com um rosto pintado. “Minha mãe me ajudou a fazer isso quando eu tinha seis anos.”

Eu estava fascinada. Eu não tinha lembranças de brincar ou amar ou aproveitar de algo como um ser humano.

“E aquelas?” eu disse, apontando.

“Aquelas cobriam minhas fraldas,” Emily explodiu em risos. “E aqui está o meu mordedor, e aqui está o meu urso”.

“Me conte sobre eles”, implorei.

“Oh, você não quer ouvir falar de toda a tralha da minha infância, quer?

“Pode parecer estranho, mas eu realmente quero ouvir sobre elas. Elas são bastante interessantes.”

“Bem, ok. Hmm … Este é o gorro que minha tia fez para mim quando eu ia sair …”

Eu absorvi todas as suas palavras e talvez até um pouco de sua infância mágica e encantadora enquanto ela falava. Ouvi até a noite enquanto ela me contava histórias sobre a sua infância e vida, tocando cada item como se tivessem algum tipo de pista sobre quem eu costumava ser.

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