– O que será que aconteceu com ele?!
– Eu não sei... Quando cheguei, já estava caído no chão, inconsciente...
– Onde está Renesmee afinal?!
– Alice, dá pra parar de me fazer tantas perguntas?! Eu não sou o vidente aqui!
– Ele está tão pálido... deve estar exausto, o coitadinho!
– Pode ser Esme, mas é mais provável que seja por outros motivos também...
– Edward, ele está respirando?!
– Está meu amor, não se preocupe, Carlisle já está trazendo o álcool e o algodão.
Um cheiro horrível penetrou minhas narinas, queimando minhas alucinações enquanto eu ainda escutava burburinhos distantes em minha cabeça. Meus olhos ardiam muito quando eu, finalmente, os abri. Estava, por algum motivo, deitado no sofá da sala, Carlisle me examinando com os olhos a uma proximidade desconfortável. Gemi.
– Ele está bem! Foi só um susto, não é garotão?! – ele disse aos outros, me dando um tapinha leve no ombro, ainda dormente.
Não me importei em entender como tinha ido parar ali. Fiz menção de me levantar, mas fui barrado por suas mãos cautelosas.
– Wow, calma aí Jake, vá devagar! Você desmaiou, precisa ter paciência. O mundo pode girar um pouco ao seu redor – ele riu de minha afobação.
Mas não tinha como o mundo ao meu redor girar mais do que já estava... Parecia mais que ele havia sido atingido por um meteoro, que se espatifou na crosta, dando inicio a uma destruição desenfreada que vinha a toda na minha direção, fazendo tudo tremer. Não havia escapatória. O chão começava a se desfazer debaixo dos meus pés e a terra se preparava para me tragar. Eu tentava gritar por socorro, mas minha voz ficava presa em minha boca, como quando a gente tenta falar de dentro de um copo de vidro. O oxigênio não conseguia entrar nem sair de meus pulmões... era apenas o desespero me consumindo. Eu me debatia com as lembranças de um belo rosto. Um rosto que eu conhecia bem, mas que parecia não mais me reconhecer como antes. Em meus pensamentos ecoava o um último pedido, sua voz tão suave me apelando em agonia: “Me perdoe!”, enquanto eu era finalmente consumido pela escuridão. Gemi outra vez, involuntariamente.
– Jake, você está sentindo dor em algum lugar?! – Bella perguntou, sua voz aflita interrompendo minha consumição insistente – Na cabeça, talvez?!
Notei que eu comprimia a têmpora com minha mão fechada
Inspirei duas vezes, depois olhei para Carlisle, um aviso prévio de que já estava bem o suficiente para me sentar, pelo menos. Ele consentiu, logo em seguida me amparando enquanto eu me posicionava verticalmente no sofá. Recostei e esfreguei os olhos, que ainda protestavam por causa da luz. Jasper percebeu meu desconforto e tratou de pedir ao pessoal que voltassem para o jardim, indo junto com eles após isso. Alice, Emmett e Rosalie também seguiram a multidão. Carlisle ainda checou meus pulsos uma última vez, então começou a guardar seus utensílios médicos na maleta. Esme me trouxe um chá de alguma coisa horrorosa que eu engoli de uma vez só, seguindo seu conselho. Até dava pra pensar que ela tinha alguma experiência em situações daquele tipo... Mas eu confiei. Bella permanecia sentada no chão, praticamente aos meus pés, enquanto ansiava que eu esboçasse algum sinal satisfatório de melhora, e Edward estava próximo à janela, acompanhando o movimento no jardim com uma cara sombria. Quando, por fim, eu pronunciei alguma coisa, minha voz saiu tão mórbida que me fez parecer um zumbi:
– Quanto tempo eu fiquei apagado?!
– Uns 5 minutos... isso depois que Edward te encontrou caído e nos chamou – Carlisle me respondeu com aquela expressão de médico quando dá uma má notícia – Não sabemos há quanto tempo você já estava desacordado antes dele chegar...
– Você se lembra do que aconteceu?! – Esme me perguntou, enquanto sentava no braço do sofá, achegando-se ao esposo.
– Mais ou menos... – menti descaradamente, eu me lembrava de cada minucioso detalhe. Mas era óbvio que eu não iria dizer o que realmente havia acontecido, embora alguém ali já soubesse muito bem. “Por favor Edward, vá lá pra fora com os outros!” Eu supliquei com toda a força em meu pensamento. Ele se virou para mim, uma das sobrancelhas erguida, e se curvou sarcástico, se encaminhando à saída do cômodo em seguida. Ninguém pareceu entender nada, por sorte. Antes de sair, porém, ele se dirigiu a Bella:
– Meu bem, seria bom que você fosse dar uma olhada em Nessie lá no chalé! Eu acredito que ela esteja precisando da mãe.
“Obrigado, seu cretino!” eu fiz questão de formar esse último pensamento antes que ele saísse, o que o fez dar um sorrisinho malicioso de contentamento. Eu já estava me cansando daquela atitude dele. Era até compreensível que ele estivesse com raiva de mim... Mas ficar dando esses golpes baixos não fazia seu estilo. Bella olhou pra mim com a expressão confusa e, na seqüência, se levantou e foi atender ao pedido do marido, prometendo não se demorar muito por lá.
– Seria bom que você descansasse mais uns minutos, antes de ir lá pra fora! – Carlisle me deu o parecer final, então se levantou e foi colocar suas coisas de volta ao gabinete. Esme endossou o conselho, me lançando um olhar maternal em concordância com o marido, então o seguiu. Eu não tinha nenhuma intenção de voltar para lá, muito pelo contrário. A festa havia acabado para mim! Fiquei sozinho no imenso cômodo decorado. Fechei meus olhos e larguei a cabeça para trás, mergulhando outra vez na depressão.
As lembranças ainda custavam a fazer sentido. Repassava mentalmente cada detalhe do confronto emocional ocorrido à pouco... Não, eu não conseguia entender como eu pude ser tão cego a ponto de deixar as coisas chegarem àquele estágio. Tudo havia se tornado tão claro na hora, mas agora nada parecia se encaixar de uma maneira aceitável. As coisas que eu pensava serem fruto de um engenho descabido se confirmaram como sendo realidade. Quanto tempo mais eu conseguiria suportar aquele aperto no meu peito?! Quanto tempo mais eu agüentaria aquele afastamento?! O que será que teria acontecido se eu apenas tivesse retribuído o beijo, ao invés de tê-lo renunciado?! Qual seria o próximo passo?! Uma avalanche de indagações desmoronou em mim, sempre introduzidas pelo famoso “e se...”! Precisava dar um fim àquilo imediatamente.
Não havia mais nada que me prendesse ali, então decidi ir para casa. Desci pelas escadas internas que davam acesso à garagem, driblando o local onde todos se reuniam. Meu rabbit estava estacionado do outro lado da casa, pra minha sorte. Acho que Emmett o havia deslocado, para que o jardim principal ficasse livre. Dei graças a Deus por meu desligamento, que sempre me fazia esquecer a chave no painel do carro. Dessa vez acabou sendo muito conveniente! Não me incomodei em avisar a ninguém sobre minha partida, mas todos provavelmente se dariam conta de um jeito ou de outro, então... Apenas fiquei sentido por sair daquele jeito, sem me despedir, principalmente por que alguns dos vampiros iriam partir logo pela manhã e ninguém sabia quando nos encontraríamos assim outra vez. Billy e a pequena Claire estavam de carona com Sue, e Leah e os garotos iriam voltar para a reserva somente durante a manhã, após a típica ronda da madrugada.
Dei a partida no carro. O motor roncou alto demais, como de costume! Torci para que não chamasse a atenção de ninguém. Do outro lado eu podia escutar a música tecno que Emmett havia colocado agora pra tocar, num volume alto o suficiente para abafar qualquer outro som nas redondezas. A sorte estava mesmo do meu lado {se é que eu podia pensar assim, àquela altura dos acontecimentos...}.
Dirigi mecanicamente o tempo inteiro, sem sequer prestar atenção na estrada adiante dos meus olhos. Com o corpo ainda em pane, eu não conseguia me concentrar em nada por mais de três segundos... Os flashbacks do incidente no hall iam e vinham com ferocidade em minha cabeça. Apesar de serem tão nítidos, de vez em quando eu ainda ficava em dúvida se aquilo realmente havia acontecido. Foi tão... surreal. O imenso respeito que eu tinha por Renesmee era a única coisa que me impedia de me atirar de vez ao prazer das memórias. Essa atitude causou em mim um efeito torturante.
Começou a chover e o limpador de pára-brisas se acionou automaticamente. Olhei no relógio do painel: 00:07 am. A previsão do tempo foi fiel até o último instante. Mas aquela calmaria do dia foi somente o silêncio que precede a tempestade. Eu devia saber, meu coração estava tentando me avisar o tempo todo e eu não lhe dei crédito.
Quando me dei conta, já estava estacionado em frente de casa. Incrível como meu subconsciente parecia trabalhar em meu favor, enquanto que meu consciente tentava me destruir... Desliguei o motor e fiquei algum tempo dentro do carro, olhando os grossos pingos de chuva que se suicidavam no vidro. O céu parecia prantear em uma agonia avassaladora. Estremeci, imaginando que Nessie agora devia estar inconsolável, e eu era responsável por esse imenso sofrimento. Não podia fazer nada a respeito, além de me mortificar. Fui, lentamente, sendo invadido por uma raiva tão grande, que foi preciso que eu saísse do carro pra não destruí-lo por completo!
A chuva regou meu corpo febril e o choque térmico ouriçou meus pelos. Minha respiração saia em vapor no ar, em meio a rugidos que se formavam no interior da garganta. Uma energia do tamanho do universo começou a querer sair de dentro de mim. Comprimi as mãos contra o peito, tentando contê-la, mas foi em vão: Dei um urro tão violento que quase rasguei meus pulmões! Descarreguei todo o meu ódio, frustração e impotência em minhas cordas vocais, até que meu fôlego se esvaiu por completo. Minha alma queria se aliviar também, mas o choro que seria natural naquele momento não surgiu. Eu havia desaprendido a chorar. Meu corpo se recusava a ser fraco outra vez. Com efeito, minhas células entraram em colapso, seguindo cada uma um desígnio diferente do cérebro. “Quanto tempo mais?! Quanto tempo mais?!” eu repetia, em desespero...
Os trovões me despertaram da convulsão e eu corri pra entrar em casa. Estava tudo escuro do lado de dentro, mas eu só liguei a luz da sacada e tranquei a porta, me atirando no chão
– Nessie, por favor, não me odeie! Não me odeie porque eu te... – eu supliquei para as paredes, mas fui interrompido pelo farol do carro de Sue penetrando a sala.
Corri para o quarto. Não queria ter que dar explicações agora... Não tinha condições de pronunciar nada coerente. Tirei a blusa apressado e me atirei na cama, para fingir já estar dormindo. Meus cabelos encharcados inundaram o travesseiro, mas eu me forcei a ignorar isso. Esperei...
Passados alguns minutos, a porta se abriu atrás de mim, a luz do corredor delineando a sombra de duas pessoas na parede a minha frente. Billy e Rachel, claro, já que Paul estava a essas horas junto a Sam e os outros de sua matilha.
– Será que é grave, pai?! Não seria melhor acordá-lo pra irmos a uma emergência?!
– Não Rachel, o Dr. Cullen já o examinou. Antes de sairmos, ele me disse que estava tudo bem com Jake. Disse que era só exaustão... – Billy não parecia acreditar muito nisso, mas não havia outro jeito. Ele sabia como eu era cheio de reservas...
A porta se fechou. Eles continuaram falando, mas suas vozes ficaram inaudíveis, abafadas pelas paredes. Permaneci deitado, prevendo que um deles poderia entrar novamente. Devo ter esperado umas duas horas, sem nem ao menos conseguir pregar o olho de verdade.
Enfim, vi pela fresta da porta a luz da sala ser apagada. Sentei na cama, ainda sem um vestígio de sono, e recostei na parede gelada. A janela estava aberta e as milhões de estrelas se exibiam pra mim no céu, agora sem nuvens. Nem parecia que a pouco uma tempestade havia derramado todo o seu furor sobre Forks... A luz do luar banhava o meu rosto e uma brisa balançava meus cabelos, como que numa tentativa de me consolar do meu desespero. Era inútil... Eu não tinha salvação!
Estava claro que eu não sentiria sono esta noite, mesmo minha mente estando tão abatida pelo desgaste emocional. Talvez fosse melhor assim, já que ultimamente minhas noites não vinham sendo nem um pouco revigorantes. Seria um alívio, diante do acontecido, não ser bombardeado por tantos sonhos atormentadores... Ficaria bem acordado, evitando assim afundar mais ainda naquela lama degradante que já me cobria até o pescoço. Precisava colocar meus sentimentos em ordem de uma vez por todas, e nada melhor do que uma madrugada em claro para meditar em cada detalhe.
Era óbvio que meu relacionamento com Renesmee nunca mais seria o mesmo depois desse dia. Minha felicidade estava
Será?! Será que meus sentimentos não eram nem nunca haviam sido genuínos? Será que tudo não passava de uma ilusão?! Seria possível que estivesse vivendo uma mentira e não houvesse meios de me libertar?! Eu não queria me libertar de meu afeto por ela, mas não suportava a idéia de que eu a amava apenas por causa de uma hipnose bizarra. Isso era cruel, injusto e a desmerecia totalmente. Queria crer que o simples fato de eu ter consciência disso já era uma comprovação mais do que suficiente do contrário! Eu a amava, porque sua existência era o complemento da minha. Eu a amava, por que sua voz costumava ser a canção que embalava meus sonhos. Eu a amava, por que seu sorriso dava sentido ao meu dia. Eu a amava, por que sua presença me enchia de contentamento. Eu a amava, por que seu olhar e atenção me faziam a pessoa mais feliz do mundo.
Sim. Eu a amava!
E agora já não restava nem mais uma dúvida sequer. Não mais como seu segundo pai, ou como seu irmão, ou como seu melhor amigo. Eu a amava como homem. Aquele beijo foi um divisor de águas... eu evolui de garoto para homem, ao mesmo tempo em que ela evoluiu de menina para mulher {muito embora sua idade sugerisse que ela ainda era muito jovem para ser adulta}. Mas ela nunca foi menos madura do que eu. Eu sempre fui mais dependente dela do que ela de mim. Minha vida orbitava ao seu redor, não como um satélite ao redor de um planeta {conveniência}, mas como um planeta ao redor do sol {necessidade}. Sim, eu a amava. A amaria eternamente.
Tudo agora estava nítido em minha cabeça, como um rio de águas cristalinas. O nevoeiro que havia se formado sobre mim se dissipou, abrindo caminho para que eu enxergasse um novo horizonte. Renesmee sempre me trouxe felicidade, mas agora ela era a própria felicidade para mim! E ela precisava saber disso!
Mas como?!
Eu não era tão presunçoso a ponto de esperar que ela fosse me corresponder logo de cara, nem poderia fazer dos meus sentimentos uma imposição. Iria agora começar a caminhar por um terreno totalmente desconhecido, sem um mapa ou sequer uma bússola para me apontar o norte. Ficaria a mercê do seu coração. Era um risco muito grande, mas eu precisava agir. O jeito seria mesmo esperar que o tempo fizesse sua parte, e que ela notasse a sutileza das minhas intenções, de uma maneira em que não houvesse mais mal entendidos.
Porém eu tinha que estar preparado para o pior, caso ele acontecesse. Precisava ter um plano “b”, se o “a” não funcionasse.
Não. Não havia um plano “b”. Ou era o “a”, ou nada feito... Game over pra mim! Ou eu seria feliz ao seu lado, ou não seria nada. Não sobreviveria a uma rejeição. A simples possibilidade disso acontecer já me deixava em pânico e me quase me fazia entrar em contradição, a ponto de pensar em desistir de vez de revelar meus sentimentos a ela.
Mas eu não podia desistir! Não agora, quando uma amostra de interesse tão clara me havia sido dada. Seu beijo foi envolvente, mesmo que um tanto inseguro. Seu coração disparou, como o meu, quando nossos lábios se tocaram. Ainda era cedo para ter certeza, mas não havia como negar que eu estava em seus pensamentos. Ela despertou o amor em mim.
Pouco a pouco, eu fui me acalmando. A agitação e as lembranças que antes me mortificavam já não me afetavam mais. Minhas mãos já não suavam e minha respiração fluía tranqüila. A natureza providenciou um ambiente perfeito para que eu colocasse minha cabeça de volta no lugar. Aquela foi a noite mais longa da minha vida e, muito provavelmente, a mais decisiva também. Precisei de muito tempo para entender que nosso amor era inevitável, um plano superior a todo o meu entendimento, e parar de me crucificar por causa de sonhos sem fundamento. Foram apenas sonhos, nunca passaram disso. Ela era a mais especial das mulheres e, no plano real, eu preservaria a sua virtude até o último momento. O Jacob dos sonhos não era eu, mais uma outra pessoa que eu abominaria pelo resto de minha vida. Eu não podia negar, claro, que alguns aspectos dos sonhos me agradavam {Ora, eu era humano, não uma rocha!}, mas o fato de eu antes não ter a clareza sobre meus sentimentos os tornavam irrelevantes.
O galo cantou, me trazendo de volta ao planeta terra. Olhei no relógio de cabeceira: 5:00 am. É, eu havia batido um record pessoal. Foi a primeira vez que eu passei uma noite toda em claro, na forma humana. Como lobo, já havia passado várias. Mas eu não podia desconsiderar alguns benefícios extras da transformação, exemplo: Mais resistência. Quando eu passava muito tempo como lobo e me transformava de volta em humano, geralmente um cansaço severo me abatia. Mas agora, apesar de não ter dormido, eu me sentia completamente regenerado, como se tivesse acordado após mil noites de descanso. Eu era um novo Jacob. Mais forte, mais decidido, mais... apaixonado.
Ainda estava muito cedo, ninguém havia acordado ainda. Olhei para o canto do quarto e vi meu violão escorado na parede. Eu mesmo havia entalhado a madeira há uns anos atrás, quando vi um modelo em uma revista na casa dos Cullen. Emmett duvidou quando eu disse que faria um igualzinho e minha satisfação foi total quando lhe mostrei o instrumento pronto, dois dias depois. Eu adorava tocar para Renesmee, quando ela ia se deitar. Minha princesinha dormia ao som de canções Quileutes que Billy costumava tocar para mim, quando pequeno.
Engatinhei na cama e o alcancei, fazendo as cordas produzirem um som com o contato das minhas mãos. Tentei me recordar da música preferida dela. Já fazia muito tempo desde a última vez em que a toquei. Nessie também adorava quando tocávamos juntos. Ela me acompanhava maravilhosamente em seu violino Stradivarius, que ganhou de Alice quando completou três anos. Era uma musicista inata, tão talentosa que com certeza deveria ser um prodígio musical. Edward insistia em que ela tocasse piano como ele, mas ela se afeiçoou as cordas do violino tão logo seus dedinhos aprenderam a pressioná-las corretamente. Vez ou outra, nós três fazíamos um pequeno recital para os não-musicistas da família. Bons tempos...
Fiquei tocando baixinho por algum tempo. Um pouco mais tarde, Rachel abriu a porta do meu quarto, com uma cara amassada de sono:
– Que bom que você já melhorou... Mas não precisava me acordar com essa musiquinha melancólica, poxa! – ela protestou em meio a um longo bocejo, depois foi na direção da cozinha para preparar o café, esquecendo a porta aberta ao sair. Incrível como ela tinha conseguido escutar os acordes através da parede. Acho que ela não gostava muito da época em que papai tocava essa canção, porque fazia com que ela se lembrasse da mamãe.
Larguei o instrumento na cama e fui atrás dela. Estava me roendo de curiosidade sobre como terminou o aniversário.
– Rachel, er... – eu a alcancei ainda no corredor. Ela se virou para mim, já prevendo minhas intenções
– A festa foi ótima, Jacob! TODOS perguntaram por você! Você é tão mal educado às vezes... Que vergonha, nem parece que é meu irmão!
Eu abaixei a cabeça, arrependido. Ela não se deu por satisfeita.
– Papai e eu tivemos que inventar um monte de desculpas esfarrapadas por conta desse seu mau gênio!
– Me desculpe Rachel! É que eu estava meio...
– É, eu sei, transloucado como sempre – ela revirou os olhos e continuou seu trajeto até o outro cômodo – Qual é o seu problema afinal, hein?!
Ela estava visivelmente de mau humor, então resolvi não insistir. As garotas têm dessas coisas às vezes, a gente tem que ser compreensivo... Me atirei no sofá de má vontade. Teria de perguntar a Billy ou a Paul, e essas opções não me deixavam muito entusiasmado... Mas precisava saber se eles tiveram notícias de Nessie, se ela em algum ponto chegou a voltar para a festa. Queria ter certeza de que ela estava melhor, mas não teria coragem de ir averiguar pessoalmente. Credo, eu era tão covarde que me dava até raiva!
Não demorou muito e Paul adentrou esbaforido pela porta, acenando de volta para os garotos lá fora antes de fechá-la. Ele me deu um “bom dia” apressado e correu até Rachel, agarrando-a pelas costas. Ela quase derrubou a frigideira de bacon com o susto. Reclamou com ele por tê-la suspendido daquele jeito, mas ele se desculpou com um beijo e ela se rendeu. “Está perdoado!” ela disse, quando teve a oportunidade de recuperar o fôlego outra vez.
Observá-los me fez sentir um estranho movimento no estômago, como borboletas batendo asas. Era incrível como ela parecia se iluminar por completo quando ele se aproximava. Parecia outra pessoa, tão meiga e carinhosa...
Ele foi se sentar à mesa, enquanto ela se voltou novamente para o fogão. Paul não conseguia desviar os olhos dela um segundo sequer, de queixo sobre as mãos, como um bobo apaixonado. Num dado momento, eu pude perceber que ela sorria, sentindo que estava sendo observada por ele. Aquela cena costumava me incomodar antes, mas agora eu sentia uma estranha... satisfação em ver como os dois se amavam tanto. Como aquilo não poderia ser genuíno?!
Billy acordou quando o café já estava pronto. Ele nos encontrou na mesa, a sua espera. O primeiro olhar que deu foi para mim e seu desapontamento era evidente. Como Rachel, ele não ficou muito satisfeito em ter que encobrir meus atos impensados com desculpas esfarrapadas. Deu um suspiro, como quem diz “não vale a pena discutir”, e posicionou a cadeira de rodas próxima ao móvel.
Começamos a comer. Só o que se escutava era o barulho dos talheres batendo na louça, a faca cortando o pão, o café sendo colocado na xícara, o bule chiando do fogão... uma sinfonia do desconforto. Aquilo estava começando a me incomodar, então aproveitei a oportunidade para dar início ao assunto que me interessava.
– Então, Paul – eu comecei, sem levantar os olhos do pires – o que você achou da festa?!
– Cara – ele falou de boca cheia, a ponto de se engasgar com o entusiasmo – essa festa foi o máximo! Se o cheiro não fosse tão ruim, teria sido ainda melhor! E aquele carro, hein?! Que máquina! Aquela garota tem muita sorte, eu morreria por um daqueles...
Ele não ia mais parar de tagarelar sobre o carro. Eu esperei um pouco, então o interrompi:
– E como foi o final da festa?! Eu não pude ficar, mas estou muito curioso...
– É mesmo, você sumiu de repente... O que foi que aconteceu mesmo com você?! Ah, deixa pra lá! O fim da festa foi normal, todos se despediram, a comida acabou, os convidados cumprimentaram a aniversariante...
– Ela voltou para a festa então?! – eu o cortei bruscamente. Ele fez cara de confuso
– Óbvio Jake, a festa era dela! Ela tinha que estar lá para receber os cumprimentos das pessoas... Nem todo mundo é igual a você!
Ela voltou para a festa...
Isso devia significar que ela ficou bem outra vez. O alívio me fez dar um suspiro e relaxar no banco. Ninguém entendeu minha reação.
– Você é estranho, Jacob Black! – Paul disse, balançando a cabeça
Eu nem liguei, estava muito satisfeito com a notícia. O que mais me preocupava até ali era o fato de que ela teria ficado machucada com o que aconteceu. Se ela voltou, então não ficou sofrendo como eu temia. Tinha que ter certeza.
– Como ela estava?! Estava alegre? Cansada?! Abatida?! E seus olhos?! Eles estavam inxad...
– Ela estava bem, Jacob! – meu pai interrompeu, impaciente, dando um tapa na mesa. Todos nos assustamos – O que quer que você tenha feito com ela não a impediu de estar presente. Ela é um poço de educação, diferente de certas pessoas...
Meu pai odiava rodeios. Era o tipo de pessoa que se inflamava pela dor dos outros, principalmente quando eu era o suposto agente causador dessa dor. Para ele, estava claro que alguma coisa eu tinha feito contra Nessie, por mais que ela não houvesse aparentado nada. Ele conhecia a minha natureza. Mas dessa vez estava errado... Talvez, se ele fosse capaz de entender o que eu estava passando, até se orgulhasse da minha atitude de ontem a noite. Eu me irritei contra sua desconfiança. Isso era tão típico... Meu erro foi ter esperado outra reação dele! Arrastei a cadeira e me levantei bruscamente, virando as costas para os três. “Tomara que ele tenha percebido minha raiva!” eu pensei, enquanto me dirigia de volta ao quarto. Bati a porta violentamente, uma atitude infantil que quase a destruiu.
Andei de um lado para o outro, descontrolado, um turbilhão de imagens vindo na memória outra vez. Minhas mãos tremiam convulsivamente e meus olhos pareciam querer saltar das órbitas. Me debrucei sobre a cômoda, com os braços envolvendo a cabeça na tentativa de bloquear as lembranças.
– Foco, Jake! Mantenha o foco! – disse a mim mesmo, pondo o peso do corpo sobre o móvel, que rangeu – Você agiu bem! Ela estava confusa... Você não se aproveitou de nada... Pare de se culpar! Billy não sabe o que diz... Ele não entende como é difícil...
Esses dias foram dias em que minhas emoções oscilaram muito. Eu já havia superado isso ao longo dos anos, mas, por alguma razão, agora eu não conseguia evitar. Precisei empregar muito esforço para relaxar os músculos outra vez. O espelho na minha frente ficou embaçado por causa da minha respiração irregular. Inspirei fundo uma última vez e quando soltei o ar, já estava melhor. O corpo parou de tremer.
– Bom garoto!
Fui me sentar no parapeito da janela. O céu já se preparava para uma nova tempestade, com nuvens escuras por todos os lados e um vento gelado soprando. Aquele clima me impacientou. Eu precisava, de alguma maneira, ver Renesmee. Conversar com ela, pra mostrar que estava tudo bem. Conhecia seu modo de pensar {pelo menos costumava conhecer} e sabia que ela ainda devia estar remoendo aquela cena na mente assim como eu, por mais que, exteriormente, ela estivesse bem. Ninguém seria capaz de esquecer com tanta facilidade algo como o que aconteceu entre nós. Não podia deixar que ela mortificasse os sentimentos que a levaram a agir daquela maneira tão extrema. Se ela me amava, eu a amava também {muito mais até}. Era então meu dever agora dar o próximo passo!
Procurei pelo quarto um sinal do meu celular. Estava em baixo das roupas atiradas no chão. Corri até ele, digitando o número do chalé. Aguardei na linha, mas ninguém me atendeu do outro lado. Desliguei. Coloquei o aparelho na cama e caminhei em círculos novamente, porém agora eu só tentava me decidir sobre o que fazer. Eles estavam na mansão como de costume, eu pensei. Mas será que aquela era a melhor maneira de tratar desse assunto? Por telefone?! Era melhor que eu fosse lá, com tempestade e tudo.
Um relâmpago estourou, me fazendo voltar ao plano inicial.
– Eu vou ligar, mas somente para avisar que vou passar lá mais tarde. Não vou falar nada a respeito... Não vou nem sequer pedir para falar com ela, se outra pessoa atender... – falei sozinho. Eu estava começando a virar meu melhor amigo. Peguei o celular novamente e busquei na agenda o número. Disquei.
Chamou uma, duas, três, quatro vezes...
– Alô! – uma voz de mulher me atendeu, mas não era Nessie. Era a voz seca de Rosalie. Tive vontade de desligar e ligar de novo, mas não fiz isso. Ela insistiu impaciente do outro lado e eu respondi afoito.
– Alô Rosalie, sou eu... Jacob!
Ela permaneceu muda por uns segundos, depois seu tom ficou ríspido.
– Aham, o que você quer?!
– Eu estou ligando para... – engoli em seco – para avisar que vou passar aí mais tarde!
– Pra quê?! – sua pergunta foi incomum. Como “pra quê” ?!
– Preciso conversar com Nessie. Ontem eu sai meio apressado, não pude me despedir. Tenho muitas coisas pra dizer pra ela – respondi educadamente. Por que eu estava dando satisfação a Rosalie?
Suas palavras a seguir foram terminais:
– Eu lamento lhe informar que isso será impossível! Renesmee, Edward e Bella foram embora. Eles deixaram Forks ontem a noite, depois da festa!
... ... ...
{Alice} – Rosalie, me dê esse telefone ... Jacob?! ... Alô?! ... Alô?!
... ... ...
4 comentários:
Bem eu gosto desse fanfic e dos outros também(já li a maioria),mas não entendo por que Jacob se afastou de Nessie?!E além do mais eles são super,hiper,mega fofos juntos,vamos confessar,né?
to super curiosa pro proximo capítulo
Coitado do jake!
Ai meu Deus... Isso tá se complicando...
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