No Mundo Dos Volturi: Vermelho No Cinza

Em meu interior não havia nada. Todas as emoções que flutuavam em minha mente, dançando sob meus olhos, não eram minhas. Todas pertenciam aos outros. Mesmo que eu pudesse ler cada uma delas, eu jamais poderia deixar-me enganar, nem mesmo se esta fosse minha intenção, de que aquelas emoções de alguma maneira pertencessem a mim. Eu as sentia, eu apenas via. Podia reconhecê-las e qualificá-las, até mesmo quantificá-las, mas o destino havia sido cruel, e junto com Didyme levara consigo toda e qualquer capacidade que eu pudesse possuir em sentir o teor de sentimentos.

Sentimentos – eu os via como cores. Entre uma infinidade deles, cada um era único, tanto em seu tom quanto em sua intensidade. Haviam emoções, que como as cores, eram vibrantes, intensas e chamativas – estas atraíam minha especial atenção, de uma maneira automática e irrefreável. Era surpreendente o modo como emoções assim aconteciam até meso em casos improváveis e inesperados.

Haviam emoções escuras, e geralmente eram estas definiam o caráter de uma pessoa. Haviam as discretas e contidas; e haviam as opacas. Nestas, a indiferença era minha companheira constante. Descrevia-me como a sinopse descrevia um livro.

Eu via a indiferença como cinza. Não era escura como as ruins, nem clara ou alva como as boas, mas cinza – um meio termo plausível. Eu gostava deste cinza.

Já o vermelho, era, de todas as cores, a que possuía minha maior repulsa. Eu o odiava com todas as forças possíveis, pois este sentimento tão absoluto perseguia-me, e era o único do qual eu jamais conseguia ser indiferente. Era essa cor que feria-me como ácido, que queimava como fogo.

Doía recordar momentos em que este fogo havia sido para mim uma grande fonte de felicidade. De quando eu via em Didyme um poço deste mesmo vermelho. Eu odiava este vermelho, porque era ele que havia me ferido de uma maneira irremediável.

Porém, e acima de tudo, eu o odiava porque ele era única das emoções que jamais pertencer-me-ia novamente – amor.

Autora: Belle Almeida

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