Coração Inquieto - Capítulo 41

Eu congelei quando as mãos do garoto envolveram minha cintura. Ele achava que eu estava atraída por ele. Ele tinha uma vida, amigos, família, e eu ia ser aquela que iria acabar com tudo isso. Mas eu estava com tanta fome… tanta sede.

“Você é muito cheirosa,” o garoto suspirou profundamente. “Eu nunca imaginei que uma garota bonita como você gostaria de mim.”

“Por favor,” eu sussurrei. “Não fale.” Eu pressionei meu dedo indicador contra seus lábios, e ele tremeu por causa do meu toque. Ouvir sua voz estava dificultando ainda mais o processo.

Alguém atrás de mim pigarreou. Já sabia quem era, então nem tive que me virar. Eu estava deixando Joham impaciente. Eu estava me deixando impaciente, eu tinha que acabar logo com isso. Isso não era nada para qualquer outro vampiro. Os Cullens eram uns dos poucos que escolheram viver de uma forma diferente. Isso não era algo que eu estivesse fazendo de errado. Eu era uma vampira que tinha sede de sangue. Joham pigarreou mais uma vez.

“Venha até aqui!” Ele sibilou baixo demais para o garoto ouvir.

“Com licença, eu acho que esqueci algo,” Me aproximei, apesar da queimação na minha garganta, e passei meus lábios em sua mandíbula. Só a ideia de fazer isso me deixava enjoada, mas eu sabia que tinha que fazê-lo ficar onde estava.

“Sim, eu espero.” Ele estava tendo dificuldade para manter a voz firme.

Saí de perto dele e andei até Joham. Fahima e Daray não estavam com ele. Elas provavelmente estavam se alimentando. Joham esticou as mãos e agarrou a parte de cima dos meus braços. “O que diabos você está esperando?”

“Me desculpe, eu sou nova nisso! Me dê um tempo!” Cuspi. Eu não estava acostumada a ser pressionada para fazer algo.

“Bem, eu preciso caçar, então a não ser que você queira que eu me alimente dele e você possa ir para casa sem beber -”

“Está bem,” eu sibilei. “Eu farei!”

“Rápido,” ele rosnou.

Eu rosnei de volta.

Suas mãos apertaram mais forte meus braços. “Não seja mal-educada, mocinha. Eu a recebi, lembre-se disso.”

“Me desculpe,” eu sussurrei. Ele me empurrou em direção ao garoto mais uma vez.

Eu tinha muita raiva dentro de mim agora para ir devagar. Eu precisava matar. Marchei em direção ao garoto e ele se encostou em uma árvore. Ele ergueu as mãos para se defender.

Eu puxei meus lábios, expondo meus dentes, e fui para a veia pulsando em seu pescoço.

“Não!” Eu ouvi alguém rosnar. Braços fortes me agarraram e nós caímos no chão. “Vá embora!” Ele gritou e eu vi minha presa correr de volta para as multidões.

“Saia de cima de mim!” Eu resmunguei.

“Renesmee, você não quer fazer isso!”

“Edward?” Eu me virei para ver o homem que me queria morta, agora de joelhos sobre mim – me mantendo no chão.

“Me solte!” Eu gritei. As lágrimas automaticamente começaram a cair.

“Não, eu não vou deixá-la fazer algo do qual se arrependerá.”

“Meu lugar não é mais com você! Me solte!” Onde estava Joham? Por que ele não o estava impedindo? Por que ele não me avisou que ele estava vindo?

“Seu lugar é, sim, comigo. Eu sou seu-”

“Você não é meu pai! Volte para casa, onde é o seu lugar.”

“Solte a minha filha.” Eu ouvi a voz de Joham.

Edward desviou seu olhar de mim para Joham, seus olhos estreitos. “Sua filha?” Ele sibilou e levantou-se, me soltando.

“Sim, ela é minha agora.”

“Você não é o pai dela!” Edward gritou. Eu notei que Jasper estava agachado para pular caso Joham se movesse, mas eu não vi nenhum dos outros por perto – não que eu estivesse procurando por alguém. Eu fiquei no chão, mas saí do caminho.

“Ela veio até mim. Ela pertence aqui. Ela mesma disse isso!” Joham gritou.

“Você não sabe nada sobre ela! Qual é o prato preferido dela? Qual era a única coisa que a mãe dela comia durante sua gravidez? Qual é sua a história de ninar preferida? Você estava lá para levantá-la quando ela caía? E para reconfortá-la quando ela estava com medo de algo? Foi para você que ela olhou quando disse ‘Pai’ pela primeira vez? Eu não me lembro de você entrando no quarto dela quando ela mechamava quando tinha um pesadelo! Ela é minha!” A expressão de Edward se transformou em uma de pura maldade. Eles estavam rosnando um para o outro. Jasper moveu e agora estava parado entre eu e eles.

“Nada disso importa!” Joham gritou. “Você a queria morta desde o começo! Que tipo de pai iria querer isso para sua própria filha? Você deveria amar seus filhos independente de tudo.”

Edward soltou um rosnado que eu nunca tinha ouvido antes. Soava como leões enquanto se preparavam para uma batalha. Em segundos, ele voou para cima de Joham.

“Não!” Eu gritei. “Pare com isso!” Eu levantei minhas mão para cobrir meus olhos, mas Jasper entrou na frente.

“Edward,” Jasper rapidamente se inclinou para frente e os dois pareceram se acalmar. “Tem algo um pouco mais importante,” ele olhou para mim e eu rapidamente enxuguei minhas lágrimas. “Ela está apavorada.” Ele olhou para mim como quem pede desculpas antes de voltar sua atenção para Edward.

Joham começou a andar em minha direção, mas Edward o empurrou do caminho. “Mantenha suas mãos longe da minha filha!” Ele rosnou.

Eu me levantei e vi Edward andando até mim. “Não,” eu engasguei. “Por favor!” Eu andei para trás para me afastar dele. “Me deixe em paz!” Eu solucei.

“Eu não posso fazer isso.” Ele disse calmamente.

“Jasper, vá e ajude Emmett e Jacob com as irmãs.”

“Ja-Jacob está aqui?” Eu tropecei para frente quando o buraco em meu peito se abriu. Edward estendeu sua mão para me ajudar, mas eu desviei de seus braços. “Eu disse para você me deixar em paz!”

“Renesmee,” Edward começou, mas eu o interrompi.

“É Nessie! Renesmee não existe mais. Você queria ela morta, não é? Bem, agora ela está. Não existe mais nenhuma Renesmee Cullen!”

“Existe sim,” Edward deu um passo em minha direção novamente. “Ela está na minha frente.”

“Não,” eu rosnei. “Você me queria morta!” Eu andei para frente e o empurrei. Ele não se mexeu. Eu tentei novamente, quanto mais eu ficava furiosa mais eu o empurrava, e mais rápido as lágrimas caiam. Ele me deixou gritar e bater nele até eu cansar. Meus joelhos fraquejaram e ele segurou meus cotovelos. “Você me queria morta,” eu sussurrei novamente. Meus socos viraram tapas fracos. Parecia que todos os meus ossos tinham virado gelatina. Ele me deixou cair no chão, mas manteve seus braços em minha volta.

“Eu não sabia quem você era. Eu tinha medo de você. De quem você seria. Você estava machucando sua mãe. Ela não era forte o bastante para estar grávida de você. Eu juro Renesmee, que se eu soubesse exatamente o quão incrível você seria, o quando você me lembraria sua mãe, eu nunca teria pensado daquela forma. Mas você tem que entender. No momento em que eu te peguei nos braços, quando vi que você era essa linda bebezinha, eu te amei. Então quando eu sentava e esperava pela sua mãe acordar você sentava comigo algumas vezes – quando você estava com muitas saudades. Enquanto nós a esperávamos, juntos, você era essa coisinha que se encaixava tão perfeitamente em meus braços, eu te amei ainda mais. Você é uma pessoa incrível e eu daria minha própria vida por você. Agora mesmo, aqui mesmo. Eu o faria. O fato de você me odiar tanto já está me matando por dentro.” Edward mudou minha posição, fazendo com que eu me encaixasse em seu colo. Dessa vez eu o deixei.

Para ser completamente honesta, se eu estivesse em seu lugar, eu provavelmente teria feito a mesma coisa. Eu fui idiota de agir exagerado desse jeito. Eu deveria ter conversado com eles antes. A dor em seus olhos era uma que eu já conhecia. Ele tinha esse mesmo olhar quando estava esperando minha mãe acordar depois que eu nasci. E novamente quando foi me buscar depois que os Volturi me levaram.

Eu notei sua expressão de dor quando Loretta ainda estava com a minha mãe e Carlisle estava tratando dos meus ferimentos. Eu estiquei minhas mãos e as coloquei em seu rosto – da forma que eu costumava compartilhar meus pensamentos com ele. Eu o deixei entender que estava entendendo o que ele estava sentindo.

“Sabe,” ele suspirou e colocou suas mãos sobre as minhas para mantê-las onde estavam. “Sua mãe tem tentado me dizer isso há anos, mas eu nunca acreditei nela.” Ele me segurou mais forte contra seu peito e eu o senti beijar minha cabeça.

“Ela sempre me disse que eu iria para o céu quando fosse a hora de eu… fazer o que quer que seja que os vampiros fazem…”

“Aonde você quer chegar, pai?” Eu suspirei aliviada. Eu mal conseguia acreditar o quanto era bom dizer aquilo. Poder chamá-lo de pai. O sorriso em seu rosto me disse que ele também gostou.

“O que eu quero dizer é que, eu nunca acreditei em céu até olhar em seus olhos. Ver essa incrível garotinha crescer e se tornar uma bela mulher. Foi então que percebi que não havia como eu estar destinado para o inferno e criar alguém que foi mandada do céu – alguém tão especial quanto você.”

“Você acha isso mesmo?” Eu perguntei.

Meu pai balançou a cabeça. “Não acho, eu sei.”

“Me desculpe,” eu comecei a dizer, mas ele me segurou ainda mais apertado contra si.

“Shh… Está tudo bem. Nós estamos bem.”

“Ei, pai?” Eu perguntei. Depois de alguns momentos de silêncio.

“O que, querida?”

“Me leve para casa.”

O ar ao nosso redor pareceu ficar mais leve. Eu quase podia sentir o sorriso que estava em seu rosto.

“Como você quiser.”