Coração Inquieto - Capítulo 55

Eu não sei quanto tempo eu estive presa no carro, mas a minha cabeça latejava e eu não podia ignorar a dor aguda na minha mão esquerda sempre que eu tentava movê-la. Foi ficando mais difícil respirar com o que seja que estava sendo pressionado contra meu peito. Eu nem mesmo podia dizer se eu estava mais sentada. Eu sabia que eu ainda estava no carro, mas também sabia que não estávamos sentados eretos.

Qual o ângulo que o carro estava? Eu não podia dizer. O murmúrio abafado de Derek ficou mais lento, acho que cerca de uma hora atrás. Eu já não podia dizer se ele ainda estava respirando. Eu me concentrei em meus pensamentos, debatendo se deveria ou não colocá-los na cabeça de meu pai. A escuridão me puxou mais ainda.

O som das sirenes me trouxe mais perto da realidade. Eu tentei mais uma vez avisar o meu pai, mas eu não podia fazer a minha mente funcionar corretamente.

“Olá! Alguém pode me ouvir?” Alguém estava gritando.

Abri a boca para responder, mas nada saiu. A pressão no meu peito doía muito. Apesar da dor, movi a minha mão esquerda e procurei por Derek na teia emaranhada de metal e vidro. Encontrei a sua mão e segurei nela. Um sorriso leve espalhou em meus lábios quando sua mão se contraiu embaixo da minha.

“Quantas pessoas estão no veículo?” A voz falou novamente. Eu podia ouví-lo ao lado de Derek no carro. Ao mesmo tempo, ouvi alguém ao meu lado.

“Eu tenho uma aqui, sexo feminino. Ela está presa contra o painel. Eu não acho que posso tirá-la.” O homem perto de mim falou com preocupação.

“Motorista homem, ninguém atrás. Se havia, eles não sobreviveram. Precisamos nos concentrar nos dois na frente agora.”

“Querida, você pode me dizer o seu nome?”

Abri a boca novamente e forcei meus olhos a se abrirem. A luz era muito brilhante. Eu apertei meus olhos fechados. “Desculpe”, disse o homem e o brilho desapareceu.

“Eu sou Jerry, vamos te tirar daqui. Agüente firme.”

Balancei a cabeça da melhor forma que pude.

“O menino não está muito bem. Precisamos tirá-lo agora.”

Uma mão tocou o meu braço direito. “Este é Kevin, nós vamos ter que ajudar o seu amigo primeiro, mas não vamos deixar você aqui sozinha. Você entendeu?” Jerry me perguntou.

“Ajude…” Eu resmunguei. Aquela única palavra tomou muita energia. “Ele”. Eu estava cansada demais para ficar acordada. Derek estava sendo ajudado e isso é tudo o que importava.

“Chame por reforços! Eu não vou sair do lado dela. Ela não está estável o suficiente.” A voz de Jerry soou distante. “Espera, ela está tentando dizer algo.” Ele estava falando de mim? Eu não pude sentir meus lábios se movendo.

“Nessie, eu acho que ela está nos dizendo o nome dela. Cullen?” A voz de Jerry estava mais perto agora. “Cullen…” Ele parou enquanto ele pensava sobre isso. “Oh,” Jerry ofegou. “Kevin, ligue para o hospital agora! Chame um dos Cullens, e deixe que eles saibam que temos uma Nessie aqui.” Só depois outra ambulância se aproximou. Eu estava perdida na escuridão mais uma vez.

O ar fresco batendo em meu rosto me trouxe de volta à realidade. Abri meus olhos e olhei para o céu. Apertei minha mão esquerda, mas não foi a mão de Derek que eu agarrei. Meu braço estava em uma cinta. Eu não podia mover minha cabeça para olhar ao redor, ela estava presa em um colar cervical.

“Derek,” sussurrei na escuridão.

“Ele está na ambulância, eles estão levando ele para o hospital agora. Você é a próxima.” Eu tentei sentar, mas algo estava me segurando. “Calma, Nessie. Você está em uma prancha de imobilização.”

“Deixe-me levantar! Eu estou bem.”

“Temo que não, querida.”

“Está bem, quando eu chegar ao hospital vou deixar a minha irmã, cunhado ou meu tio me examinar. Por favor, eu estou realmente bem.” Eu insisti.

“Eles já foram notificados. Nós estamos saindo agora.” Mais mãos cercaram-me e fui levantada no ar. A viagem de ambulância foi rápida e eu relaxei logo que ouvi a voz do meu pai e avô.

“Abra essas malditas portas!” Meu pai cuspiu.

“Mulher, dezessete anos de idade, acidente de carro, ela era o passageiro.” Jerry estava informando à eles.

“Eu sei quem ela é! Você não precisa passar por toda a coisa.” As portas se abriram e meu pai estava dentro da ambulância inclinando-se sobre mim. Lágrimas caíram imediatamente dos meus olhos quando vi seu rosto. Eu sabia que ele estaria chorando também, se pudesse. “Órgãos Vitais?” ele perguntou por cima do ombro.

“Ela não nos deixou, ela insistiu em que você fizesse isso.”

Meu pai balançou a cabeça e tocou minha bochecha. “Boa menina”, ele sussurrou.

Meus olhos ficaram pesados mais uma vez, mas eu não queria parar de olhar para seu rosto. Meu pai deve ter notado, porque ele desamarrou a faixa fora do equipamento e inclinou-se olhando nos meus olhos.

“Fique comigo, Renesmee. Mantenha esses olhos abertos, querida”.

Eu assenti. Eu faria isso por ele. “Onde está Derek?”

“Lá dentro com Bella, ela está trabalhando nele.”

Pisquei e foi difícil abrir os olhos novamente. O movimento parou debaixo de mim.

“Renesmee, abra os olhos!” Meu pai disse desesperadamente.

Eu os abri e ele suspirou, aliviado. Continuamos sendo levados para uma sala de trauma. O colar cervical foi retirado e meu pai estava verificando para ter certeza que nada estava quebrado. Ele se recusou a trabalhar com qualquer outra enfermeira. Meu avô foi ajudar minha mãe com Derek. Eu estava sozinha no quarto com meu pai. Eu não queria olhar para baixo quando senti ele rasgando as minhas roupas.

“Eu quero a mamãe”. Eu choraminguei.

“Ela está um pouco ocupada agora, querida”. Suas mãos se moveram ao longo do meu corpo certificando que nada estava quebrado. Eu vacilei quando ele chegou às minhas costelas.

“Eu nem preciso tirar raio-x aqui. Há definitivamente algumas costelas quebradas.” Suas mãos deslizaram até sentir minha clavícula. Fiquei contente quando não doeu nada lá.

“Eu sinto tanto, papai.” Sussurrei.

“O importante é que você está bem.”

“O carro não está.”

Ele balançou a cabeça. “O carro não é grande coisa, ele pode ser substituído. Você não pode.”

Forcei um sorriso e acenei com a cabeça.

Ele pegou uma roupão de hospital e me ajudou a vestí-lo. Pedi por outro para me certificar que eu estava totalmente coberta. Ele me deixou tê-lo uma vez que ele tinha terminado de enfaixar minhas costelas.

“Você já ligou para os pais de Derek?” Eu perguntei, olhando para minhas mãos.

“Não, eles estão ocupados trabalhando nele.”

Eu escorreguei da cama, quando ouvi a voz da minha mãe no outro quarto.

“Ness fique aqui.” Os braços do meu pai se envolveram ao meu redor. Eu não tinha certeza se era para me manter onde eu estava, ou se era para me apoiar.

“Edward, eu preciso de você na sala de trauma quatro.” A enfermeira enfiou a cabeça no quarto.

“Fique nessa cama e não se mova. Carlisle estará aqui para checar você logo que possível.”

“Pai,” Eu chamei por ele. “Chame Jacob, por favor.”

Ele assentiu e saiu da sala.

Ouvi minha mãe falar mais uma vez, mas ela parecia desesperada. Eu tinha que ver como ele estava indo. Entrei na sala de trauma e congelei. Seu corpo estava coberto de sangue, minha mãe estava de pé em cima dele fazendo compressões, enquanto o meu avô trabalhava sobre seu corpo.

“Mamãe,” eu ofeguei.

A cabeça dela virou rapidamente para olhar para mim. “Você está de pé! Onde está Edward?”

“Ele tinha um outro trauma. Nem pense em me perguntar como eu estou. O que está acontecendo com ele?” Eu apontei para o corpo imóvel de Derek.

Ela se virou para continuar a trabalhar sobre ele. “Volte para seu quarto.”

“Não!” Eu gritei.

Ela olhou sobre a cama para meu avô e ele acenou com a cabeça, indo para tomar seu lugar.

“Ness, querida, eu não acho que há muito mais que possamos fazer. Seus ferimentos são muitos para seu corpo.”

“Não,” Eu rosnei. “Eu estou bem, ele deveria estar também! Salve ele! Isso é o que você faz!”

“Às vezes não há nada que eu possa fazer. Fizemos tudo o que podemos.”

Olhei para meu melhor amigo. “Como eu pude ter sido tão estúpida?! Isto é tudo culpa minha!” Eu chorei.

“Não é não. Agora, eu preciso chamar os pais dele…” A voz da minha mãe sumiu quando ela olhou para minha cara.

“Eu sei!” Eu sibilei. “Eu sei o que mais você pode fazer.”

“Ness…” Minha mãe começou a balançar sua cabeça.

“Morda ele! Transforme-o! Ele é importante demais para perder, por favor, mãe! Salve ele do nosso jeito.”

Ela olhou para o meu avô e ele encolheu os ombros. “Não cabe a mim. Ela pediu para você.”

“Carlisle, eu nunca fiz nada assim antes! Eu poderia matá-lo.” Ela se virou para olhar para mim. “Não.” Seu tom era definitivo.

Eu caí de joelhos na frente dela e me joguei implorando para ela. “Por favor, por favor, salve ele! Não era para ele morrer assim. Por favor, mãe. E se isso fosse com Jacob, o que você iria querer para seu melhor amigo?” Eu olhei para ela, a dor atingindo seu rosto. Ela estava pensando nisso.

“Carlisle, nós podemos tirá-lo daqui?” Ela olhou para o meu avô e ele balançou a cabeça lentamente.

“Ness,” Meu pai invadiu a sala e me tirou de meus joelhos. “Eu te disse para ficar no seu quarto…” Sua voz parou enquanto ele via o rosto de Bella.

“Você chamou a hora de morte?” Ele perguntou para ela suavemente.

Ela olhou para mim e balançou a cabeça. “Nós vam-” ela limpou sua garganta. “Eu irei salvá-lo.”

“Não, você não vai.” Ele sibilou.

Eu entrei com força entre os dois e empurrei o peito do meu pai, apesar da dor que isso causou no meu pulso esquerdo.

“Deixe-a! Ele merece uma segunda chance. Ele está tão orgulhoso de ir para a faculdade, seus pais-” Eu sufoquei. O nó na garganta não me deixou continuar.

“Você realmente acha que pode fazer isso?” Ele olhou sobre minha cabeça para minha mãe.

“É o que ela quer.” Ela contornou a pergunta dele.

“Vou entrar no sistema do computador, você tem que manter o coração dele batendo. Não faça nada até que eu chega lá. Leve-o para a casa de Esme e Carlisle.”

“E quanto aos pais dele?” Minha mãe perguntou.

Meu pai deu de ombros. “Vamos torcer que ele seja tão calmo quanto você foi quando recém-nascida. Ele deveria estar partindo para a faculdade logo de qualquer maneira.”

Não pude deixar de sorrir entre as minhas lágrimas. Derek iria se juntar à família.

Nós o levamos para casa sem que ninguém percebesse. Logo que entrei na porta, eu estava nos braços de Jacob. Suas lágrimas encharcaram minha bochecha.

“Eu pensei que tivesse perdido você, eu estava indo para o hospital, mas eu estava apavorado de te ver. Eu não poderia vê-la ferida. Vi o carro, Ness. Eu fui correndo. Ninguém poderia sobreviver um acidente como aquele. Você é verdadeiramente um milagre, você escapou. Eu te amo.” Ele me segurou mais apertado, eu ignorei a dor em minhas costelas e desfrutei seus braços em volta de mim.

“Derek não escapou.” Eu solucei. Ele olhou para a minha mãe enquanto ela entrava na casa com Derek em seus braços. Sangue manchava suas roupas, Jacob me puxou para longe dela. Ela correu escada acima com Carlisle e Edward em seus calcanhares. Eu empurrei Jacob e segui com o resto da minha família.

“Bella vai fazer isso?” Tio Jasper ofegou.

“Ela é perfeitamente capaz.” Minha avó o respondeu.

Meu pai pairava sobre ela enquanto ela se inclinava na direção do pescoço de Derek. Suas mãos na frente dele, pronto para arrancá-la imediatamente se ela não conseguisse se controlar. Eu tinha total confiança nela. Seus lábios roçaram contra a garganta dele. Parecia que ela estava beijando ele, mas o fresco cheiro de sangue encheu o quarto. Eu recuei contra Jacob e ele me segurou forte contra ele. A língua dela lambeu o sangue novo e as marcas desapareceram. Ela continuou este movimento por todo o corpo.

Eu contei quatro batidas do coração de Jacob antes que Derek estivesse agonizando em dor. O som repentino me fez pular. Minhas pernas bambearam-se enquanto eu soluçava. Jacob me pegou ao mesmo tempo em que meu pai apareceu na minha frente.

“Leve-a daqui. Ela não precisa ver isso. Leve ela para casa e a mantenha lá.” Meu pai ficou em silêncio por um momento e eu olhei para Jacob enquanto ele olhava para o meu pai.

Meu pai olhou para mim e tocou minha bochecha. “Sim,” ele disse suavemente para algo que Jacob perguntou-lhe em silêncio.