[Jasper]
Ficamos lá sentados, com a bagunça toda nos rodeando.
- Você estava muito ocupado, não é?!
- Bem... Mais ou menos...
- É, eu percebi...
- Eu estava tentando concertar essa lamparina, mas a saída do querosene não está sendo o suficiente...
- Então aumente o buraco!
- Não é tão simples assim... Se eu aumentar demais, a lamparina explode com o calor, se eu não aumentar muito o tamanho, o fogo não se acende!
- Então por que a vovó não compra um novo?
- É, bem, seria mais fácil, mas sua avó gosta de judiar de seu genro!
Rimos algum tempo juntos, e então arregacei as mangas. Quanto antes meu pai terminasse o serviço aqui, antes chegaríamos em casa.
Um troca-troca de ferramentas se iniciou. Enquanto eu pegava uma para desrosquear algo, ele pegava outra para abrir e mexer, e depois eu pegava outra para fechar. Assim foi até que terminamos com os objetos em pouco mais de meia hora!
- Ufa... Que bom que você veio aqui, heim filho!
- É, agora podemos ir embora o quanto antes... Se não mamãe irá nos matar por ter demorado!
- Ah, claro que não!
- Sim, matará sim, por que eu disse que voltaria e ela ficou preocupada pensando que eu não voltaria!
- Nossa...
- Aposto que ela não dormiu só para ver que você está voltando comigo!
- Deus, então por que não me disse isso antes... Assim teríamos adiantado o serviço!
- Bem, você não perguntou! – disse brincando. A relação pai-filho se fortificou hoje, e eu tinha certeza de que poderia brincar hoje... Pelo menos hoje, eu sabia que podia... Mas só hoje eu sabia...
- Ok, então pegue uma vassoura e limpe a bagunça no chão enquanto eu arrumo a bagunça de cima das mesas!
Peguei a vassoura e comecei a varrer desajeitadamente – esse negócio de varrer não era comigo!
Assim que eu terminava de varrer, eu olhava e via mais um monte de sujeira – eu era realmente ruim nessa coisa de varrer...
Após apanhar feio da vassoura e da sujeira insistente no chão, acabamos que por sair de fininho pela portinha lateral e ir em direção aos nossos cavalos.
Montamos e então partimos rumo à nossa casa.
Chegamos, e até dei a ideia de entrar sem fazer barulho, mas a delicadeza de meu pai era superior ao silêncio, e então ele subiu as escadas da frente de casa fazendo o maior tropé.
Antes mesmo que pudéssemos chegar ao último degrau, Mary já tinha escancarado a porta da frente de uma só vez. Ela estava assustada a primeira vista, mas quando me viu, relaxou – até suspirou.
- Acalme-se Mary... Você realmente achava que eu iria deixar nosso filho fugir de nós outra vez?
- Bem... Isso não depende você! Ele é muito capaz de sair, ele já é um homem adulto!
- Homem e Major...
- Sim, fiquei sabendo...
Mary e Joe estavam orgulhosos de mim... Eu até fiquei feliz com isso!
- Então, podemos entrar querida?!
- Claro, venham... Eu mesma preparei um maravilhoso café da manhã com café, suco e torradas!
- Hmmm... Você sempre adivinha a minha fome!
Entramos rindo e percebi que Cris não estava mais no sofá.
- Sim, levei Cris para o quarto. Ela está dormindo como um anjinho!
Sorri com isso, então preferi subir para dar uma olhadinha nela.
- Nem pense nisso, Jasper! Ela está dormindo, não vá incomodá-la!
- Mas nem uma olhadinha?!
- Não!
- Eu vou devagar!
- Nem pensar!
- Mas eu consigo chegar devagar sem fazer barulho! Joe é quem não consegue!
- Heiii!!! – ele se ofendeu...
- Jasper, vá para a cozinha e sem mais!
-Ok – desisti de ser teimoso – eu não era bom com isso. Desci o único degrau que eu tinha subido e fui em direção a cozinha.
Chegando lá...
Que café da manhã!
Torradas, manteiga caseira, pão quentinho, maçãs, laranjas, suco de abacaxi, doce de abóbora, doce de mamão, salada de frutas e café!
Que café!!!
Me empanturrei de tanto comer. Olhei para o lado, e vi que eu não era o único a virar uma bola de tanto comer! Joe sempre foi bom de garfo!
Deixamos a cozinha e então pude subir para o meu quarto. Só quando cheguei lá é que me lembrei que Cris estava em minha cama, então puxei o fino colchão que eu mantinha debaixo de minha cama.
Me acomodei. O colchãozinho estava todo empoeirado, mas eu estava tão cansado que acabei dormindo lá mesmo, sem edredom, sem lençol, sem nada!
Simplesmente, capotei...
[Joe]
Eu estava cansado, mas tinha muitos afazeres. Tinha de ver a compra de mais terrenos e mais cabeças de gado, e isso já tomaria muito tempo de meu dia, mas o mais importante seria a visita ao médico!
Isso era essencial!
Jasper tinha subido para descansar. Ele estava tão cansado, podíamos ver isso em suas pálpebras caindo de cansaço. Mary também subiu para descansar.
O resto da casa estava trabalhando, inclusive eu!
Chamei um dos nossos escravos e pedi para que Le me levasse ao doutor Williams. Por segurança, estava levando alguns artefatos em ouro para ter a certeza de que sairia de lá com a certeza de que meu filho não retornaria de qualquer jeito ao exército!
Cheguei lá e então já fui entrando em seu consultório. A secretária pediu para que eu esperasse algum tempo até que o doutor terminasse a consulta de outro paciente.
Fiquei sentado em uma das cadeiras confortáveis na sala à espera do doutor.
Pouco tempo depois, a porta se abriu e um senhor saiu da sala. Levantei-me com a pressa de encontrá-lo, mas não foi preciso, pois ele já vinha ao meu encontro.
- Senhor Whitlock, a que devo a honra de sua presença?!
- Preciso de um favor!
- Sim, sim. Entre, por favor!
Em sua sala, fui direto ao assunto.
- Meu filho voltou da Guerra, e preciso de algo que faça com que o exército esqueça-se dele!
-Hmmm... Jasper está de volta? Mas que maravilha!
- Sim, é mesmo! Mary está tão feliz...
- E o senhor também, pelo que percebi!
- Sim, estou, e é por isso mesmo que estou procurando meios para fazer com que o exército se esqueça dele!
- Ok, e pretende fazer o que?
- Lepra? Pneumonia? Ataque do coração? Doença nos órgãos internos desconhecida? O que prefere?
- Acho que... E Jasper? O que ele acha?
- Só lepra que ele ficou com nojo...
- E o resto?!
- Ele não sabe do resto ainda... Só de pneumonia.
- Bem, então será pneumonia!
- O que é preciso para conseguir esta... receita?!
- Como o senhor é meu amigo, posso dizer que custará apenas quinhentos dólares.
- Ok, então isso paga!
Retirei da bolsinha uma Pedrita de ouro, que o doutor ficou encarando-a assustado. Ninguém aqui na região tinha ouro, mas eu tinha, pois foi esse o pagamento que recebi por algumas cabeças recentemente.
- Claro que paga, senhor Whitlock!
- Então comece a prescrever toda a receita médica, doutor.
Ele pegou a folhinha e começou a escrever rapidamente. Por fim, ele me entregou. Logo após dar uma conferida, o entreguei o ouro.
- O senhor não acha melhor que eu vá em sua casa, senhor?! Assim, podemos manter a farsa com maior credibilidade! Ninguém irá falar que é mentira, pois eles saberão que fui realmente visitá-lo!
- E quanto a esta visita?!
- Poderão pensar que o senhor veio pedir ajuda a seu filho!
- Bem, é uma ótima ideia – realmente é
- Sim, eu mesmo pedirei para que a senhorita Yank diga para os que perguntarem que seu filho está muito doente em casa...
- Sabe, esta é uma ótima ideia mesmo!
- Sim, ou então posso pedir para que ela finja que está escrevendo uma carta e não consegue escrever sem falar, sabe... Repetir o que escreve. E na carta ela escreve sobre o filho do senhor que está de volta em casa, mas está muito doente!
- E dará certo?!
- Bem, creio que sim. Todos que vem aqui são da alta sociedade, e o que é falado sempre percorre rápido na cidade, não?!
- Bem, é verdade. Então que tudo seja feito, por favor!
- Ok. Mas espere algum tempo, senhor, assim eles irão pensar que ele se perdeu e acabou se machucando. E quando eles souberem dele, ele já não poderá mais voltar!
- Sim, excelente doutor Williams! – o que um pouco de ouro não faz, não?!
- Obrigado. Mais alguma coisa, senhor Whitlock?!
- Não, por enquanto é só!
- Ok. Agradeço a sua preferência, senhor. Estou à disposição!
Nos cumprimentamos, peguei meu chapéu e então saí. Voltei à carroça e então partimos.
[Jasper]
Acordei mais tarde do que eu imaginava ser. Cris já estava acordada, e sua cama já estava toda arrumada.
Percebi ainda que o lençol de Cris, estava agora comigo. Ela deveria ter o posto em mim depois que ela acordou, ou então foi minha mãe...
Eu não ligava, só queria descansar mais um pouco. Estava tão bom aqui... E pensar que algum tempo atrás eu vivia em meio a tiras e explosões de bombas...
Ponto final nessa parte de minha vida. Eu ficaria aqui, com minha família, que era onde eu estava bem e tinha o tudo ao meu favor. Eu estava confortável aqui, e não renegaria nada!
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