E Se Jasper Não Se Transformasse... - Capítulo 03: Doutor

[Jasper]

Ficamos lá sentados, com a bagunça toda nos rodeando.

- Você estava muito ocupado, não é?!

- Bem... Mais ou menos...

- É, eu percebi...

- Eu estava tentando concertar essa lamparina, mas a saída do querosene não está sendo o suficiente...

- Então aumente o buraco!

- Não é tão simples assim... Se eu aumentar demais, a lamparina explode com o calor, se eu não aumentar muito o tamanho, o fogo não se acende!

- Então por que a vovó não compra um novo?

- É, bem, seria mais fácil, mas sua avó gosta de judiar de seu genro!

Rimos algum tempo juntos, e então arregacei as mangas. Quanto antes meu pai terminasse o serviço aqui, antes chegaríamos em casa.

Um troca-troca de ferramentas se iniciou. Enquanto eu pegava uma para desrosquear algo, ele pegava outra para abrir e mexer, e depois eu pegava outra para fechar. Assim foi até que terminamos com os objetos em pouco mais de meia hora!

- Ufa... Que bom que você veio aqui, heim filho!

- É, agora podemos ir embora o quanto antes... Se não mamãe irá nos matar por ter demorado!

- Ah, claro que não!

- Sim, matará sim, por que eu disse que voltaria e ela ficou preocupada pensando que eu não voltaria!

- Nossa...

- Aposto que ela não dormiu só para ver que você está voltando comigo!

- Deus, então por que não me disse isso antes... Assim teríamos adiantado o serviço!

- Bem, você não perguntou! – disse brincando. A relação pai-filho se fortificou hoje, e eu tinha certeza de que poderia brincar hoje... Pelo menos hoje, eu sabia que podia... Mas só hoje eu sabia...

- Ok, então pegue uma vassoura e limpe a bagunça no chão enquanto eu arrumo a bagunça de cima das mesas!

Peguei a vassoura e comecei a varrer desajeitadamente – esse negócio de varrer não era comigo!
Assim que eu terminava de varrer, eu olhava e via mais um monte de sujeira – eu era realmente ruim nessa coisa de varrer...

Após apanhar feio da vassoura e da sujeira insistente no chão, acabamos que por sair de fininho pela portinha lateral e ir em direção aos nossos cavalos.

Montamos e então partimos rumo à nossa casa.

Chegamos, e até dei a ideia de entrar sem fazer barulho, mas a delicadeza de meu pai era superior ao silêncio, e então ele subiu as escadas da frente de casa fazendo o maior tropé.

Antes mesmo que pudéssemos chegar ao último degrau, Mary já tinha escancarado a porta da frente de uma só vez. Ela estava assustada a primeira vista, mas quando me viu, relaxou – até suspirou.

- Acalme-se Mary... Você realmente achava que eu iria deixar nosso filho fugir de nós outra vez?

- Bem... Isso não depende você! Ele é muito capaz de sair, ele já é um homem adulto!

- Homem e Major...

- Sim, fiquei sabendo...

Mary e Joe estavam orgulhosos de mim... Eu até fiquei feliz com isso!

- Então, podemos entrar querida?!

- Claro, venham... Eu mesma preparei um maravilhoso café da manhã com café, suco e torradas!

- Hmmm... Você sempre adivinha a minha fome!

Entramos rindo e percebi que Cris não estava mais no sofá.

- Sim, levei Cris para o quarto. Ela está dormindo como um anjinho!

Sorri com isso, então preferi subir para dar uma olhadinha nela.

- Nem pense nisso, Jasper! Ela está dormindo, não vá incomodá-la!

- Mas nem uma olhadinha?!

- Não!

- Eu vou devagar!

- Nem pensar!

- Mas eu consigo chegar devagar sem fazer barulho! Joe é quem não consegue!

- Heiii!!! – ele se ofendeu...

- Jasper, vá para a cozinha e sem mais!

-Ok – desisti de ser teimoso – eu não era bom com isso. Desci o único degrau que eu tinha subido e fui em direção a cozinha.

Chegando lá...

Que café da manhã!

Torradas, manteiga caseira, pão quentinho, maçãs, laranjas, suco de abacaxi, doce de abóbora, doce de mamão, salada de frutas e café!

Que café!!!

Me empanturrei de tanto comer. Olhei para o lado, e vi que eu não era o único a virar uma bola de tanto comer! Joe sempre foi bom de garfo!

Deixamos a cozinha e então pude subir para o meu quarto. Só quando cheguei lá é que me lembrei que Cris estava em minha cama, então puxei o fino colchão que eu mantinha debaixo de minha cama.

Me acomodei. O colchãozinho estava todo empoeirado, mas eu estava tão cansado que acabei dormindo lá mesmo, sem edredom, sem lençol, sem nada!

Simplesmente, capotei...


[Joe]

Eu estava cansado, mas tinha muitos afazeres. Tinha de ver a compra de mais terrenos e mais cabeças de gado, e isso já tomaria muito tempo de meu dia, mas o mais importante seria a visita ao médico!

Isso era essencial!

Jasper tinha subido para descansar. Ele estava tão cansado, podíamos ver isso em suas pálpebras caindo de cansaço. Mary também subiu para descansar.

O resto da casa estava trabalhando, inclusive eu!

Chamei um dos nossos escravos e pedi para que Le me levasse ao doutor Williams. Por segurança, estava levando alguns artefatos em ouro para ter a certeza de que sairia de lá com a certeza de que meu filho não retornaria de qualquer jeito ao exército!

Cheguei lá e então já fui entrando em seu consultório. A secretária pediu para que eu esperasse algum tempo até que o doutor terminasse a consulta de outro paciente.

Fiquei sentado em uma das cadeiras confortáveis na sala à espera do doutor.

Pouco tempo depois, a porta se abriu e um senhor saiu da sala. Levantei-me com a pressa de encontrá-lo, mas não foi preciso, pois ele já vinha ao meu encontro.

- Senhor Whitlock, a que devo a honra de sua presença?!

- Preciso de um favor!

- Sim, sim. Entre, por favor!

Em sua sala, fui direto ao assunto.

- Meu filho voltou da Guerra, e preciso de algo que faça com que o exército esqueça-se dele!

-Hmmm... Jasper está de volta? Mas que maravilha!

- Sim, é mesmo! Mary está tão feliz...

- E o senhor também, pelo que percebi!

- Sim, estou, e é por isso mesmo que estou procurando meios para fazer com que o exército se esqueça dele!

- Ok, e pretende fazer o que?

- Lepra? Pneumonia? Ataque do coração? Doença nos órgãos internos desconhecida? O que prefere?

- Acho que... E Jasper? O que ele acha?

- Só lepra que ele ficou com nojo...

- E o resto?!

- Ele não sabe do resto ainda... Só de pneumonia.

- Bem, então será pneumonia!

- O que é preciso para conseguir esta... receita?!

- Como o senhor é meu amigo, posso dizer que custará apenas quinhentos dólares.

- Ok, então isso paga!

Retirei da bolsinha uma Pedrita de ouro, que o doutor ficou encarando-a assustado. Ninguém aqui na região tinha ouro, mas eu tinha, pois foi esse o pagamento que recebi por algumas cabeças recentemente.

- Claro que paga, senhor Whitlock!

- Então comece a prescrever toda a receita médica, doutor.

Ele pegou a folhinha e começou a escrever rapidamente. Por fim, ele me entregou. Logo após dar uma conferida, o entreguei o ouro.

- O senhor não acha melhor que eu vá em sua casa, senhor?! Assim, podemos manter a farsa com maior credibilidade! Ninguém irá falar que é mentira, pois eles saberão que fui realmente visitá-lo!

- E quanto a esta visita?!

- Poderão pensar que o senhor veio pedir ajuda a seu filho!

- Bem, é uma ótima ideia – realmente é

- Sim, eu mesmo pedirei para que a senhorita Yank diga para os que perguntarem que seu filho está muito doente em casa...

- Sabe, esta é uma ótima ideia mesmo!

- Sim, ou então posso pedir para que ela finja que está escrevendo uma carta e não consegue escrever sem falar, sabe... Repetir o que escreve. E na carta ela escreve sobre o filho do senhor que está de volta em casa, mas está muito doente!

- E dará certo?!

- Bem, creio que sim. Todos que vem aqui são da alta sociedade, e o que é falado sempre percorre rápido na cidade, não?!

- Bem, é verdade. Então que tudo seja feito, por favor!

- Ok. Mas espere algum tempo, senhor, assim eles irão pensar que ele se perdeu e acabou se machucando. E quando eles souberem dele, ele já não poderá mais voltar!

- Sim, excelente doutor Williams! – o que um pouco de ouro não faz, não?!

- Obrigado. Mais alguma coisa, senhor Whitlock?!

- Não, por enquanto é só!

- Ok. Agradeço a sua preferência, senhor. Estou à disposição!

Nos cumprimentamos, peguei meu chapéu e então saí. Voltei à carroça e então partimos.


[Jasper]

Acordei mais tarde do que eu imaginava ser. Cris já estava acordada, e sua cama já estava toda arrumada.

Percebi ainda que o lençol de Cris, estava agora comigo. Ela deveria ter o posto em mim depois que ela acordou, ou então foi minha mãe...

Eu não ligava, só queria descansar mais um pouco. Estava tão bom aqui... E pensar que algum tempo atrás eu vivia em meio a tiras e explosões de bombas...

Ponto final nessa parte de minha vida. Eu ficaria aqui, com minha família, que era onde eu estava bem e tinha o tudo ao meu favor. Eu estava confortável aqui, e não renegaria nada!

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