[Joe]
Alguns dias se passaram desde que Jasper finalmente retornou para casa. Desde então, paz e felicidade reinam em nossa morada.
E está sendo uma benção tê-lo bem por perto. Estou com alguns problemas com o gado, e como nosso quintal é amplo, o que se torna impossível alguém ver quem está lá atrás, aproveitei para pedir para que ele me ajude.
Aproveitei também para lhe ensinar coisas sobre o cultivo de milho e cuidado com o gado, que já é tradição na família.
Ele está se tornando um ótimo vaqueiro, e se dá muito com os animais.
Já com a plantação... Bem, ele não pode ser perfeito em tudo, não é?!
Quatro dias após Jasper aparecer em casa, um tenente pôs uma nota no jornal a sua procura. Enviei outra nota afirmando que ele estava enfermo, e em péssimas condições, mas não sei se acreditaram realmente.
Por isso mesmo, estou aqui em frente a base militar de Houston, na beira da estrada para entregar ao tenente ou a quem quer que seja a receita médica de meu filho.
Eu esperava firmemente que eles acreditassem e nunca mais fossem atrás de meu filho, mas eu sabia que ainda havia chances de ele ser obrigado a voltar...
Mas, aconteça o que acontecer, ele não voltaria! Eu não deixaria que meu moleque se fosse novamente! Eu pagaria o quanto fosse preciso para que ele não volte nunca mais!
Mary, pobre coitada, ficou tão nervosa pela manhã ao saber que eu iria entregar a receita médica na base, que se molhou toda de café... Ela tremia tanto... A última vez que a vi daquele jeito foi quando ela havia terminado de ler a carta de Jasper...
Mas desta vez eu não permitiria que ele voltasse... Não mesmo!
Dois homens estavam guardando uma porta grande.
- Bom dia, cavalheiros!
- Bom dia, senhor! – ambos me responderam.
- Bom, eu gostaria de saber com quem é que eu posso falar sobre o estado de saúde de um soldado?
O mais alto respondeu inflexível.
- O senhor não pode entrar!
Ah, eu iria entrar sim, senhor!
- Você sabe com quem está falando, seu moleque mau criado?! – ele abaixou a cabeça em respeito.
- Não, senhor!
- Pois então saiba que eu sou um Whitlock. Uma das famílias mais ricas de Houston. Fui eu quem doou dinheiro para construção de bases, porque eu sabia que meu filho estava na guerra! Portanto, se você está aqui no bem-bom, é porque eu deixei que ficasse! Então, se eu quiser entrar, eu vou entrar!
Os dois ficaram encarando o chão envergonhados, mas não responderam nada.
- E então? Posso ou não entrar?
- Trucker, acompanhe o cavalheiro até a sala do tenente Radiers, por favor! – o mais alto mandou.
- Sim, senhor... – ele respondeu enquanto o mais alto abria o portão gigantesco. – Por favor, me acompanhe!
Fui junto dele até uma pequena salinha. O soldado bateu na porta duas vezes, e então ela se abriu.
- O que é desta vez?
- O senhor...
- Whitlock – completei – o homem de dentro da sala se assustou.
- O senhor Whitlock veio tratar do assunto da saúde de um soldado, tenente!
- Ok, pode voltar ao serviço soldado. – O soldadinho voltou para a entrada. – Entre, por favor!
Entrei em sua sala, e percebi que ela era ainda menor por dentro do que vista por fora.
- Senhor Whitlock, a que devo as honras?!
- Você sabe muito bem!
- Bem... – ele pareceu ficar confuso.
- Meu filho, Jasper Whitlock, é Major na base de Galveston, mas está severamente enfermo, e não pode mais voltar ao serviço militar!
- Bem, poderíamos então mandar médicos e enfermeiros para cuidar dele para que ele se cure o quanto antes!
- Ele não tem como voltar!
- Como não? O que aconteceu?!
- Pegou pneumonia, e está realmente muito enfermo. O coitado não pode nem sair do quarto!
- Nossa, mas ele não estava assim quando saiu daqui... Pelo menos, quando eu conversei com os soldados que vieram com ele, eles me disseram que ele estava bem...
- Só aparentava estar bem...
- É, deve ser... Um soldado que se dizia ser amigo dele disse que ele estava realmente estranho, mas nada de enfermidade, doença...
- É como eu disse, senhor, ele só aparentava estar bem, mas na verdade não estava!
- Ele está com o senhor?!
- Sim, está em nossa residência!
- Ele esteve perdido por um tempo, não?! Não tivemos nenhuma notícia de seu paradeiro até que o tenente de Galveston mandou uma nota a procura dele, e então o senhor a respondeu.
- É, bem... Ele diz que se perdeu no caminho e que até foi atacado pelos inimigos, mas conseguiu vencê-los! – é óbvio que eu não taxaria meu filho de covarde!
- Verdade? Onde foi que isso aconteceu?!
- Ele não se lembra ao certo, mas disse que foi no caminho a Galveston... Quase chegando lá...
- Quantos foram?
- Ele me contou que era de noite e estava muito escuro, e que ele utilizou isso a seu favor, mas que conseguiu enfrentar pelo menos cinco e vencê-los!
- Se o senhor me permite, eu gostaria de enviar as notícias para o tenente de Galveston...
- Sim, claro! Disponha!
Ele começou a escrever rapidamente, e então parou para me olhar novamente.
- E como foi que ele voltou a Houston?
- Ele ficou perdido no deserto, mas conseguiu sair de lá. Ele foi parando em cada cidade à noite mesmo para encontrar apoio, até que finalmente ele chegou em casa justamente na manhã seguinte!
- Deus, que viagem que ele fez!
- Sim, que viagem perigosa, isso sim! Ficar andando pela noite deve ter piorado em muito seu estado...
- Sim, deve ser... À noite pegamos sereno...
- Sim, e isso piorou seu estado. Agravou a sua doença...
- Concordo!
Ele retornou a escrever.
- Eu gostaria de vê-lo, se possível!
- Creio que não seja, me perdoe! Ele está muito enfermo mesmo, e o doutor pediu para que ninguém fosse atormentá-lo! Ele precisa de descanso completo, sem visitas ou interrupções em seu sono!
- O que ele tem?
- O doutor de nossa família disse que ele está com pneumonia, mas está com algo a mais, já que está com sintomas a mais do que simplesmente pneumonia!
- Deus, coitado!
- Sim, ele está realmente enfermo... Está tão fraco que mal consegue se levantar da cama!
- Ohhh... – se ele estava acreditando mesmo, eu não sabia, mas eu tinha certeza, pelo menos, de que ele estava morrendo de dó por meu filho!
- Imagine só, minha mulher e empregadas estão todas disponíveis apenas para ele! Elas estão se ocupando apenas em mantê-lo bem, e isso é o que importa!
- Sim, sim, com certeza, senhor Whitlock!
- Então eu gostaria de saber uma coisa, tenente...
- Radiers...
- Tenente Radiers, eu gostaria que o senhor me tirasse algumas dúvidas...
- Sim, pode dizer senhor Whitlock!
- Meu filho está livre do exército, então?!
- Bem, creio que sim... Se seu estado está tão ruim assim, como o senhor mesmo me detalhou, é melhor que ele não venha mesmo para o exército! Caso contrário, ele pode nos dar prejuízos, e neste momento, prejuízo é o que estamos tentando não ter!
Vitória!!!
- Bem, então lhe trouxe aqui a receita médica do doutor Williams, o médico de nossa família!
- Ah, ok, obrigado.
Ele pegou a folha e começou a ler.
- Bem, compreendo a sua situação, senhor Whitlock, e deu filho também! Se o senhor me permite, encaminharei esta minha carta a Galveston com esta receita. Tem problemas?
- Claro que não. Trouxe-a justamente para comprovar que meu filho está realmente impossibilitado de realizar qualquer tipo de atividade!
- Ok, então...
Ele dobrou o papel que estava escrevendo e colocou em um envelope. Em seguida, dobrou a receita do doutor e colocou junto de sua carta. Ele pingou algumas gotas de uma vela ali da mesa, e então pressionou com um selador.
A imagem ali gravada foi a do símbolo da Confederação, um pequeno quadrado com duas faixas cruzando cheia de estrelas, e uma grande faixa ao lado. Ele repetiu o mesmo processo para selar mais duas vezes.
Ele percebeu que eu o olhava, então resolveu se explicar.
- Selo três vezes para que nada escape daqui!
- Ah, sim... Proteção nunca é demais! – mas desta forma, ninguém mesmo vai ler o que está ali dentro... Inclusive o indivíduo que receberá a carta!
Ele chamou um dos soldados que estavam lá fora para pegar a carta, e então o mandou pegar um cavalo e ir direto a Galveston sem paradas, se possível!
- Bom, então que mais posso fazer pelo senhor?
- Creio que seja só isso mesmo. Muito obrigado, tenente Radiers!
- Eu é que agradeço por ter gasto seu tempo para nos explicar a situação, senhor Whitlock. Sou grato ao senhor por isso... Muitíssimo obrigado!
- Obrigado. Até mais!
- Até!
Nos cumprimentamos e então dei as costas para ele. Fui de volta a carroça, e então tomei rumo ao centro da cidade... Eu precisava estar em um leilão para a compra de mais algumas cabeças de gado para nossa fazenda!
[Jasper]
Meu pai estava demorando, mas isso só podia significar que ele tinha conseguido o que queria... E o que eu queria também: não sair de casa novamente!
Ainda hoje ele tinha de ir a um leilão para a compra de mais algumas cabeças de gado para nós, e eu até estava confiante... Eu queria ir junto dele, mas não podia por estar supostamente “enfermo” de pneumonia!
Enquanto esperava a sua volta, fiquei apenas sentado lendo um pouco de jornal.
O tempo que eu fiquei na guerra, eu tinha me desligado completamente do que acontecia no país ou no mundo. Pelo menos, agora com o jornal, eu poderia me reeducar a viver em sociedade novamente!
E por falar em educar, minha mãe estava ensinando Cris a costurar – ou seria bordar – alguns lencinhos de rosto. Ela estava adorando a ideia, e cada vez que terminava um desenho – um entre os milhões de rosas já terminadas – ela vinha me mostrar toda orgulhosa.
Até já fez um lencinho bordado para mim com as minhas iniciais “J” e “W”!
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