Olhos Vermelhos: Errado

Fazia duas horas desde eu já tinha me decidido. Minha decisão estava tomada e eu, pateticamente, pensava em como fazê-la. Deveria esperar meus olhos esfriarem? Como eu chegaria? “Oi, me desculpe por ter sido um idiota. Posso entrar?” Ridículo.

Antes eu guardava um rancor, sem sentido, mas verdadeiro, por Carlisle restringir minha sede. E agora eu percebia que ele só queria evitar isso, esse remorso, esse peso. Eu matei pessoas. Pessoas que matariam outras, mas ainda assim eram pessoas. Eu não podia fugir da realidade, eu era um demônio. Os olhos não me deixavam mentir. Os meus olhos.

Esme sentira minha falta? Carlisle? Minha família. Pensar neles me fazia bem, eu lembrava que nem sempre fui assim e isso me fez ir até o porto para achar um navio com destino aos EUA. Se não houvesse eu seria capaz de nadar o Atlântico, mas não foi preciso. Naquela hora acabava que chegar o navio. Sorte? Ou, talvez, destino? Como se Deus (pensar Nele era cômico, tendo em vista que eu era, agora, um demônio) soubesse e quisesse que eu reencontrasse Carlisle.

Durante toda a viagem eu me mantive longe o máximo possível das pessoas. E durante esse tempo pensei sobre o que Carlisle me disse uma vez, sobre religião. Eu não acreditava muito que nós iríamos para o céu, mas ele pensava que, no mínimo, não deveríamos ir para o inferno apenas por tentar. Ele tentou e conseguiu. E eu também, mas voltei atrás. Olhos vermelhos. De novo. E levara tanto tempo para deixa-los dourados! Bom, eu teria de conseguir de novo. E iria. Era uma promessa, eu seria como Carlisle; ou quase.

A viagem não foi longa, não muito. Mas foi difícil, no começo eu tentei me alimentar dos animais a bordo, bodes, galinhas. E quase deu certo, mas o sangue deles era péssimo, eles eram pequenos. E havia um clandestino no navio… Um que roubou uma moça e fez, de todas as coisas terríveis, a mais terrível com ela. Bom, ninguém sentiria falta dele. Eu sabia que era errado, mas apesar de tudo eu conseguia ver lógica no que eu estava fazendo. E só. Era a última pessoa que eu mataria. Mesmo.

E então, finalmente, a chegada. Fiquei mais uns dias na floresta. Pensando. Caçando. Mas os olhos, ainda vermelhos, não mudariam. Corri para eles como uma criança que se perdeu dos pais. Eles correram para a porta. Esme sequer conseguia pensar tal a dúvida, tal o desejo de me ter de volta. Eu não merecia. Eles estavam na porta, me esperando. Eu estava em casa.

Autora: Laryssinha Arruda

3 comentários:

Beatriz cs disse...

muito escreve mais

Laryfamilia disse...

LAGAL! ;)

Mari disse...

gostei na verdade amei muito legal

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