Paradise Spring - Capítulo 06: Coração De Gelo

Nota: Para quem não se lembra ou não leu Winter, Ella Drown é uma vampira de um clã de vampiros "vegetarianos" franceses, e Enya é a dona da academia de ballet em que a Nessie estuda.

[Ella]

- Spend all your time waiting for that second chance. - Cantarolei, dançando pelas escadarias da casa francesa.

Mary caminhava nervosamente pelo salão principal da mansão havia horas; eu estava começando a me questionar como é que este piso aguentava com ela gastando-o tanto assim; mas, bem, francamente, não importa muito. Ela faz isso sempre. Sempre que está preocupada; mas agora eu não estava com nem um pouco de cabeça para preocupações: Nick e eu estávamos planejando uma 5ª lua-de-mel na Holanda, e eu estava feliz com isso. Afinal, como não estar, sendo eu casada com o melhor vampiro que eu poderia encontrar? Encontrar, literalmente.

- Como é que ele está fazendo isso? - Mary rodopiava no tapete agora. - Como ele pôde?

- Que há, irmã? - Perguntei a Mary, cansando-me de vê-la gastar a resina da madeira. - Parece inquieta. Algo a perturba?

- Inquieta? - Ela indagou. - Francamente, Ella! Inquieta!, pelos Deuses! - Mary deu um risinho nervoso. - Está tudo bem... por enquanto...

- Por enquanto? - Ergui uma sobrancelha. - Deixe-me adivinhar... Seu irmão tem algo haver com isso, certamente, não é?

- É tão obvio assim?

Concordei com a cabeça, e Mary, finalmente, sentou-se na poltrona vermelha, levando as mãos a cabeça, enquanto resmungava.

- De certo não sou nenhuma adivinha, mas estou pressentindo algo. Algo terrível, minha irmã! Ele está aprontando algo, e temo que Angelique também não ficará muito quieta neste verão. - Ela murmurava, ainda mais perturbada. - Estou com receio; ele não poderia fazer nada muito irresponsável, poderia?

Ri de sua proteção abundante com o irmão, e ela me fitou, severa.

- Que há? O que ele poderia fazer? - Deu uma risadinha. - Engravidar uma humana, ou qualquer coisa assim? Por favor, Mary, você está exagerando!

- Não... - Ela respirou profundamente -, não duvido de nada que venha dele. E não duvido disto também, mas eu não apostaria em uma humana completa.

Franzi a testa, sem entender; onde é que ela queria chegar? Mary não deixou muito mais a entender, e tratou de desconversar comigo, agora com um brilhante sorriso nos lábios vermelhos, e um par de olhos dourados me encarando maternalmente.

- Como anda seus preparativos com Nick? Soube que vão viajar, não apostaria em algo diferente disto... São tantos anos de casamento... Quase 50, estou certa? Mas, acho que para nós o tempo não exerce tanta influência assim, e aprendemos a conviver com ele, da maneira como devemos... Mas, ainda assim, não nego que sinto falta da minha época de humana... Era bom... - Mary mantinha um olhar inexpressivo, os olhos voltados para alguma lembrança distante, mas, como da outra vez, ela eliminou toda e qualquer prova de que estava pensativa, e voltou-se novamente para mim. - Espero ver vocês dois felizes juntos, sabe, ter um tipo de chance que eu nunca tive...

- Ah, Mary, minha irmã, não pense assim. - Lancei-lhe um sorriso encorajador. - Você é tão nova!

- Bem - ela riu -, se considerar que estou muito bem conservada para uma mulher de mais de 600 anos...

- Claro que sim. - Ri de sua expressão aliviada. - Mary, acho que estou precisando caçar um pouco - senti a garganta queimar. - Me dê licença, por favor...

- Certamente, Ella. Ah, leve Ang com você. Ela precisa esfriar os nervos, para variar...

Assenti com o olhar, e segui para uma caçada tranquila.

A minha garganta queimava loucamente.

[Enya]

Eu andava feliz por estes dias; realmente feliz. O meu "trabalho" estava correndo aparentemente bem, e Nessie evoluia a cada dia de seu treinamento, e eu estava profundamente satisfeita com ela; mal podia esperar para irmos para Rússia... Ah, o Balé Russo! Perfeito! Magnífico!

Mas, mesmo em tempos de alegria, algo martela em meu peito com veemência; que haveria de ser? Tudo estava indo bem. Bem até demais...

Dei um sorriso amarelo para os meus pensamentos tolos, e voltei o olhar para a Torre de Parri e os pensamentos para focos indesejados. De novo. Lembrava-me de anos antes, quando Renesmee havia estado aqui comigo e com a tia... Ela não se lembrava de nada, certamente, mas até quando haveria de manter-se sigilo? Hora ou outra ficaria sabendo, é claro. Mas eu achava que talvez esse tipo de decisão coubesse inteiramente aos pais da garota, Bella e Edward Cullen; afinal, por mais adulta que aparente, Renesmee ainda é uma menina, e seus pais devem protegê-la - coisa que duvido que Bella e seu marido não façam com rigidez. A menina deve andar na linha.

Mas eu ando com maus pressentimentos com relação a ela... Uma visita a sua familia, pouco antes de irmos para Moscou, a faria bem? Me faria bem? De certo que sim. Precisava acalmar o meu coração.

O meu coração de gelo.