Solitário - Capítulo 27: O Plano

“Você disse algo sobre veneno. O que é isso?” lhe questionei me submergindo em curiosidade.

“Bem, é o que transforma os meros mortais em nós imortais. A queimação é provinda dele, e ele é o responsável por mudar todos os seus sentidos até parar por completo seu coração” ela me explicou calmamente.

“Como eu sei que é veneno? Ele é perigoso para os que já são vampiros?” – eu queria saber mais, eu tinha de saber mais... muito mais...

“Não, não faz mal para os que já são vampiros. E veneno é o líquido que você provavelmente sentiu na boca quando sentiu o cheiro de sangue fresco perto de você. Aquela sensação de necessidade, de posse daquele líquido vem por conta do veneno que se junta na sua boca. Se comparado aos humanos, podemos dizer que é como estar com água na boca por alguma comida, que, aliás, se tornam repugnantes agora quando vampiros. Quando humanos nos maravilhamos com a comida, quando vampiros, repulsamos a mesma. Engraçado, não!?”

Franzi o cenho com a sua diversão em relação ao caso, eu não estava me divertindo tanto quanto ela, afinal. “Depende da sua definição de engraçado” retruquei rindo. “O que o veneno de outro vampiro pode causar no corpo de outro vampiro?”

“Nada, apenas outra cicatriz onde foi mordido. Cada vampiro já tem seu veneno, mas receber mais de outro vampiro é meio que... não sei... uma ajudazinha, mais veneno para morder os outros...” ela contrapôs.

“E se o sangue que algum vampiro chupou estiver doente? Se a pessoa estiver doente? Ele também fica doente ou passa a doença?”

“Não, o veneno acaba com todo tipo de doença que haja no sangue do infeliz. E não tem como um vampiro ficar doente, ele já está morto... é difícil deixar um morto ficar doente, sabe... quem conseguir realizar esta proeza merece ser condecorado com uma medalha dos Volturi!!!” ela me disse aos risos, o que me fez rir também.

“Hmm.. você disse em Volturi. Quem são eles?” quis saber.

“Você tem alguma pergunta antes de eu lhe responder esta?”

“Alguma entre as milhares ou alguma entre a totalidade existente?” tentei lhe responder.

“Bem, então me faça as outras antes desta. Esta é mais importante e junta dela eu explicarei a razão de ter lhe transformado” ela me propôs.

“Ok, então lá vai: se, por acaso nós comermos alguma coisa de quando éramos humanos, o que acontece?”

“Pra falar a verdade, duvido que você se aproxime de qualquer coisa que lhe lembre comida humana, mas se algum dia alguém lhe forçar a fazer isto... bem, eu lhe aconselho a dar algum jeito de pôr para fora o quanto antes... sabe, não é a melhor das sensações...”

“Você já comeu?”

“Sim, e não foi fácil de pôr para fora. Para minha sorte era pão, e como eu havia mastigado bem, eu bebi um pouco de água e tive de ficar pendurada de ponta cabeça em uma árvore... Não é das melhores sensações, e muito menos das imagens que você gostaria de ver por aí... Acredite em mim...” ela explicou, e eu logicamente que iria acreditar – eu fui criando a imagem dela lá virada com as coisas saindo, não deve ter sido algo espetacular mesmo.

“Bem, eu acredito em você!”

“Obrigada!”

Rimos por mais um período de tempo, ela por alguma razão e eu por ficar imaginando a cena dela de ponta cabeça tentando fazer as coisas subirem. Apesar de nojento, deve ter sido hilário.

“Hmmm... Você disse que eu tenho uma habilidade... outros também tem?” lhe indaguei, eu queria saber de tudo, detalhe por detalhe, minuciosamente.

“Não, como eu disse, cada um tem como habilidade o que tinha de melhor na vida humana” Maria me respondeu com a maior paciência.

“A sua é a felicidade e paciência?” brinquei.

“Não, a minha é de enxergar o que os outros tem de melhor. Creio que ela é excelente em enxergar habilidades. Acertei com a sua, eu vi a sua, por isto te escolhi” ela me respondeu rindo, mas não pude rir – se cada um tinha sua habilidade, poderia haver alguma que eu fosse nulo?

“Calma Jasper, não é todo mundo que tem esse dom. Influenciar no que os outros sentem é importante, pode salvar e matar muitas pessoas.”

“Ok, o que mais fazemos?” – eu ainda queria saber mais.

“Bom, nós não podemos sair ao sol por que nossa pele brilha como se fossem pequenos brilhantes incrustados em nós. Nossos olhos são de um vermelho forte, quase que leitoso o suficiente para sentirmos a textura em nossas mãos, e os humanos não estão acostumados a isto. Se formos encontrados, seríamos expostos e então correríamos perigo de vida... ah sim, por que os únicos acima de nós são os Volturi” ela me disse explicando a minha expressão repleta de confusão, “e, acredite em mim, ter os Volturi atrás de nós não é um bom resultado para nossas ações, mas depois lhe explico melhor. E também, deixe-me ver, não sentimos muito o cansaço, não choramos... hmmm... nossa pele é fria e dura, forte para as pessoas normais, para os humanos, e até para nós vampiros, de vez em quando...”

“Nossa, fazemos mais alguma coisa que eu não sei ainda?” lhe respondi brincando com seu relatório geral.

“Bem, não dormimos também...” – oh ow, por essa eu também não esperava...

“Não dormimos?”

“Não.”

“Nunca?”

“Não.”

“Nem uma vezinha?”

“Não” – Wow...

“Nem um segundo?”

“Creio que eu já repeti vezes demais ‘não’ para você. E um segundo para nós não aparenta ser tão pouca coisa assim, como você já deve ter percebido por ter atacado aquelas pessoas tão rapidamente. Você demorou quanto? Cinco segundos para levantar, atacá-los e deixar todos os corpos no chão?”

“Hmmm... não contei...”

“Que bom, você estava mais preocupado em se alimentar do que contar mesmo.”

“Posso lhe fazer uma pergunta?” lhe questionei.

“Quantas você quiser... creio que o tempo que passarmos aqui será apenas o necessário para desvendar as suas dúvidas mais cruéis, as necessárias, acabando com estas, voltaremos para a pequena estrada... mas não é por isso que você não poderá me perguntar mais coisas, poderá me fazer todas as que quiser desde que seja as mais favoráveis para cada situação...” ela parou, olhou para baixo e depois retornou a me fitar nos olhos, “e mesmo que não seja, você saberá onde me encontrar” ela brincou – e me liberou para as perguntas, e eu iria aproveitar cada uma.

Respirei profundamente, e então a perguntei o que estava me incomodando. “Estamos mortos?”

“Sim, nosso coração não bate mais, ele para de bater quando a queimação cessa.”

“Temos... alma?”

“Se você preferir dizer que tem uma...”

“Se, por acaso, alguém de nós morrer, ele vai para onde?”

“Ele vira pó.”

“Não, quer dizer, céu ou inferno?”

“Vampiros não são anjos, apenas tem a imagem de um. Somos seres que se alimentam de humanos, não creio que tenhamos um lugarzinho no céu para nós, e mesmo se tivéssemos, não sei se seríamos bem vindos por aqueles que nos alimentamos...”

Entendi, mas ainda restavam perguntas. “Somos amaldiçoados, então?”

“Pense do jeito que lhe fizer bem, se gosta de pensar assim e isto não lhe afetar... por mim, tudo bem” Maria deu de ombros. “Tudo bem com você?”

“Bem, eu não tinha pensado em vampiros quando vi você ou quando eu acordei sabendo que eu era diferente. Para falar a verdade, ouvi pouquíssimas vezes sobre vampiros...”

“Sim, sei, são poucas as histórias, e quando há, são mais contos pequenos locais. Os mais famosos vem da Inglaterra e da Europa.”

“Se vampiros existem, você acredita que exista também lobisomens, fantasmas, zumbis... essas coisas?”

“Olha, se existem vampiros, por que não os outros?” ela me respondeu olhando nos olhos, mas em seguida o recuando em direção à lua, “eu só nunca tive a oportunidade de conhecê-los, mas também não tenho tempo para procurá-los por aí.”

“Você pode me explicar o quanto você está bolando? Quais seus planos?” – eu estava ficando impaciente com seu mistério a redor de seus planos.

“Sim, irei lhe contar, mas você tem mais o que saber por enquanto... fique calmo” – e eu soube que ela só disse isto por que eu estava lhe manipulando.

“Ok...” lhe respondi gargalhando.

Mas então parei subitamente. Ela me olhou e perguntou o que estava acontecendo, e então retornei com minha gargalhada.

“Bem, acho que o significado da palavra ‘vampiro’ mudou nas últimas horas para mim!”

Retornamos a risada e ficamos apenas nos maravilhando com a paisagem à nossa frente. Maria, depois de muito tempo em silêncio, retornou ao nosso diálogo.

“Então, mais alguma pergunta?”

“Ok, há mais algumas sim. Você disse... pó antes?”

“Hmmm, sim, outra coisa que esqueci de lhe dizer... Um vampiro é extremamente forte, e por isso são poucas as coisas que podem lhe destruir.”

“Como o quê, mais especificamente?”

“O fogo, outros vampiros mais fortes e os Volturi. Mas para um vampiro morrer mesmo de vez, antes do fogo ele deve ser esquartelado, ter sua cabeça e membros arrancados. É a única forma de matarmos a nós mesmos. Sozinho, um vampiro não consegue se matar.”

“E os Volturi?” a questionei tocando em assunto delicado pela vista de sua face, ela não deveria gostar deles, boa coisa eles não deveriam ser – se é que ser vampiro era coisa boa. Eu esperava que a hora de contar o motivo de minha transformação seja narrado agora, finalmente, sem evasivas e sem edições.

“Bem, os Volturi são... digamos, os nossos superiores. Eles mandam em nós apesar de morarmos aqui sem ninguém para nos bisbilhotar. Eles protegem a todos nós, a todos os vampiros. Eles não deixam que nossa raça seja exposta, ou que cometamos imprudências como houve ultimamente” ela me disse visualmente tremendo.

“Houve ultimamente?” tentei tocar em assuntos mais delicados ainda, eu teria o que eu queria... mais cedo, mais tarde.

“Bem, houve...”

“Por que você está assim nervosa?” – de súbito percebi o motivo de sua preocupação –, “você por acaso não está pensando em nos expor, está? Em... não sei, fazer o mesmo que os outros fizeram?” – agora eu estava preocupado, muito preocupado.

“Não, não irei cometer os mesmos erros” ela se explicou do modo que entendi como se fosse constituída por pura sinceridade. “Os Volturi são um grupo de vampiros muito fortes e muito poderosos, eles são formados por vampiros com todo tipo de habilidade, mas os mais importantes, os que podemos chamar de líderes, são Aro, Marcus e Caius. Eles também tem alguma habilidade, mas com a quantidade de submissos eles nem se preocupam em recorrer às suas habilidades. Para muitos de nós, é uma honra estar a serviço deles.

“Eles moram na Itália, em um local que pretendo nunca entrar ou chegar perto. Aro, o mais habilidoso dos três, costuma colecionar vampiros com habilidades que lhe interessa. E ele pega os que lhe proporcionam maior poder constantemente, e quando não lhe for mais útil, ele apenas manda que os outros acabem com ele.

“O que aconteceu, e que não irá acontecer de novo, foi que um vampiro chamado Benedito criou um exército de recém-formados no Sul para tomar conta de uma área aqui na América. Quanto maior o espaço que ele era ‘dono’, mais ‘diversão’ ele tinha para si mesmo. É aquela situação, quanto mais poder você tem, mais você quer ter. E foi nisso que ele pecou, não foi cuidadoso com o tamanho que seu exército poderia ficar e quais as consequências. Sabe, ter um recém-formado para se cuidar é muito perigoso, qualquer coisa pode lhe tirar do sério, pode lhe incomodar, e como ele é muito mais forte, ele pode agir irracionalmente e criar vários problemas para um grupo. Os Volturi se intrometeram exatamente quando as coisas saíram do controle, e as matanças, ou a limpeza como eles chegaram a chamar, demoraram um bom tempo.

“Os novos vampiros não são fáceis de conviver, mas estou disposta a correr este risco, pois eu também quero um espaço só para mim e meus submissos. Estou tomando cuidado com meus novos criados, meus novos bibelôs, e Nettie e Lucy estão me apoiando com o que for preciso. Elas me auxiliaram com treinamento em batalhas e domínio dos novatos...”

“Quem? Desculpe...” – eu não me lembrava quem pertencia estes nomes.

“Ok, são as duas vampiras que estão comigo nesta. As encontrei em estradas diferentes, cada uma estava tentando seguir sua vida depois da derrota de guerras anteriores. Convidei cada uma para que seguisse o caminho comigo e que me ajudasse a criar um novo exército, mas apenas as encontrei recentemente, não faz muito tempo que tenho este plano e elas comigo. Eu já tive um território antes, e o perdi, tive de fugir para continuar com minhas ambições, e estou certa que desta vez conseguirei manter minha área por mais tempo e a qualquer custo.

“Estou em busca de vingança, nada mais justo de recuperar minha área, minha real área por que eu sou de lá, nasci lá. E elas concordaram em estar comigo nesta, elas também querem um lugar para si mesmas, mesmo que isto signifique que dividamos o que conseguimos, mesmo que eu odeie cada segundo de dividir meu território com elas.

“Mas agora com elas, depois de nos três termos conhecimentos de guerras e da atuação dos Volturi, não iremos cometer os mesmos erros. Nós três iremos ensinar a você e aos nossos novos vampiros a batalhar da forma mais eficiente que há contra outros vampiros, se perder tempo e a ser rápido com o que faz, e depois, ensinaremos a serem cautelosos com o que fazem para que os Volturi não precisem interferir novamente. Vocês serão comandados, mas e forem bem sucedidos, terão recompensa... talvez, mais humanos para se alimentar a mais do que os outros ou então, quem sabe... algo mais...” ela me disse olhando com luxúria, mas destes tipos de coisa que ela estava falando eu era totalmente inocente, e o assunto que ela estava dando sentido a ser era algo desconhecido por mim.

“Estamos viajando, Nettie, Lucy e eu, para ver se conseguimos alguns homens fortes e habilidosos. Eu preciso de um exército muito forte e habilidoso, eu quero ter poderes incríveis... Isto implica em mais problemas, mas eu serei capaz de conter todos os rebeldes e liderar com facilidade os que pretendem seguir o meu caminho. Não há outro sentido para nossa vida, apenas vivemos de sangue... logo quanto mais sangue tivermos às nossas mãos, melhor para nós. O que acha? Me apoia?”

Desviei meu olhar de sua linda e angelical face, olhei para a lua e tentei ser racional. Eu não tinha outra ideia do que fazer, ela tinha todas as respostas que poderia haver em minha mente nesta nova vida. Que escolha tenho eu?

“Apoio, claro que apoio, e lhe ajudarei a... ajudarei com a liderança com minhas habilidades” lhe respondi, e percebi o quão aliviada ela ficou ao receber o prontuário. Ela estava nervosa por tudo, e creio que contar tudo para mim não foi fácil, abrir o jogo assim, de apenas uma vez...

“Bem, então está tudo bem, isso é o que eu mais estava me preocupando: a sua escolha.”

“Sim, eu sei disto, eu senti isso. Eu sinto estes tipos de coisas sabe!?” brinquei com ela para quebrar com aquele clima de nervosismo no ar – o que deu certo, apesar de saber que eu não precisaria falar nada para mudar o clima.

“Sei, creio que sei...” ela respondeu rindo – o clima pesado totalmente desvairado. “Mas então” ela retornou ao fim da risada e se levantando, “vamos voltar para encontrar as duas? Também preciso ver se os outros cinco que escolhi nestes dias já acordaram!”

Concordei com ela e me levantei, mas antes de partir, lhe fiz a última pergunta. “Últimos dias? Como assim?”

“É, bem... creio que ainda há coisas que esqueci de lhe dizer sobre nossa vida. A transformação demora um tempo. Você não ficou desacordado por apenas um dia, mas sim por três longos dias. Depois de transformar você, o trouxe até aquela pequena clareira ao lado da pequena estrada de terra que era pouco, quase nada, utilizada. Lhe deixei lá num canto e corri atrás das outras duas, e então retomamos a nossa caça aos homens habilidosos...”

“Apenas homens?” lhe questionei, curioso com sua preferência.

“Sim, eles são mais fortes do que mulheres, e como os Estados Unidos está em guerra, está sendo mais fácil de encontrar soldados que são mais fortes ainda que os outros homens comuns, os fazendeiros ou homens da cidade” ela me explicou.

Após ela ter dito o que disse, senti uma pequena onda de preocupação crescendo em mim, mas eu não pude explicar o motivo dela. Eu era soldado, mas não me lembro de ter alguém da família lá para me preocupar, talvez... não sei, talvez havia alguém em quem eu era próximo... realmente não sei...

“Está tudo bem? Estou me sentindo preocupada... o que você está fazendo ou pensando? Está se sentindo bem?” ela estava preocupada de fato, seja minha culpa ou não.

“Pode um vampiro passar mal?” lhe perguntei, outra dúvida entre as milhares em minha mente.

“Depende, se suas habilidades estão sendo reprimidas...”

“Ahn... vamos?” ofereci.

Ela aceitou e então voltamos de onde viemos, àquela pequena estrada. Tínhamos muito ainda a fazer: montar estratégias do local a ser tomado, ser treinado, conhecer nossos novos colegas... enfim, eu tinha tanto de aprender ainda, e por mais que tudo poderia parecer loucura ou assustador há algumas horas, eu estava ansioso e feliz pelo que me esperava pela frente.

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