Solitário - Capítulo 28: Arrebatados

19 de junho de 1861

Uma semana após tomar conhecimento de minha nova vida, eu estava bem acostumado. Era como se eu sempre tivesse sido assim, nascido assim, isto sendo uma maldição ou uma benção – por mais insano que isto pareça ser...

Eu estava bem alimentado, no melhor jeito animalesco, e totalmente descansado. Ansioso também, confesso, pois nós iríamos fazer uma breve visitinha a alguma outra cidade.

E eu sei, melhor que os outros, que eu não era o único...

Gregory Cassidy, o louro com a cara cheia de cicatrizes e um corte transpassando um olho que fazia os objetos metálicos flutuarem – ele explicou que devia ser algo relacionado à química e íons – já conseguiu estraçalhar dois vampiros recém criados por brigas inconsequentes – ele estava querendo apenas mais sangue, e eu até entendia o que ele queria, mas Maria e as outras duas lá não gostaram nem um pouco.

Bem, pelo menos ele ainda continua vivo.

Quer dizer, morto... Ah, não sei, meio morto, meio vivo... Meio... alguém que vive entre nós ainda!!!

E tinha ainda Helen Sebastian, um soldado anglicano que também lutava na Guerra, mas na parte dos Nortistas – o que, diga-se de passagem, me rendeu algumas desavenças e uma linda e pálida cicatriz brilhante em seu rosto.

E Lulick Grace, um rapazinho que conseguia fazer com que a cor de seus cabelos e pelos se mudassem (totalmente inútil – e só para constar, foi Lucy quem o trouxe...). Ele me deu muito trabalho por se achar melhor do que os outros. Eu pedi desculpas à Maria, mas... simplesmente não deu, eu tive de dar um “jeito” nele... E antes que se pensem coisas erradas de nós, nosso grupo, ou apenas eu... bem, pelo menos da minha parte, eu estava sendo apenas justo e correto, e se ele se achava melhor por que ainda diabos ele continuava me enchendo as paciências?

E tinha Gabriel Hopkins e Raffael Fiske, dois hispânicos que, aparentemente, tinham apenas barro seco ou mato dentro da cabeça, apenas para preencher o espaço, sabe como é... Só brutos – aliás, que brutalidade... vamos dizer que eram altos tais como pinheiros perto da vegetação rasteira e fortes tais como ursos pardos recém acordados esperando para vingar seu salmão roubado.

Preciso deixar claro que com eles eu preferi dar trégua, nada de implicância... Imagina, alguém como eu brigando com alguém como eles... não iria dar certo – e não ouse dizer que, por ser mais baixo e magro, seria facilmente derrotado, amassado feito uma bola de neve fofa, e cair feito uma leve folha seca ao cair com os ventos de outono...

Mas é claro que havia uma lógica para isto: eu não iria desperdiçar minha força física e mental com eles... Até estava me dando bem com eles, afinal, quem manipulava as emoções aqui era eu. Não havia o que temer, apesar de um deles ser extremamente forte, de pele rígida, até para nós mesmo vampiros – e explico por que, apesar de sabermos que nossa pele é rígida ao toque dos humanos, entre nós mesmo, a sentimos parcialmente fofa, maleável.

Estes eram os cinco que entraram para o grupo para reconquistar a antiga cidade de Maria, Monterrey. E antes desta, digamos que iremos treinar um pouco com pequenas cidades nos alimentando e lutando da melhor forma para que ninguém – e este entende-se como humanos – nos veja em ação.

Estamos ainda em algumas terras daqui do Texas, pela região central e oeste.

Após a entrada dos cinco no grupo junto a mim, nas duas semanas seguintes, ficamos apenas sentados inúteis por algumas horas esperando que o ponteiro do relógio corresse o quanto mais ele pudesse, mesmo que conosco não houvesse relógio algum para saber que horas estávamos no dia.

O Sol era o nosso único amigo, o único que podia nos dizer se era manhã, meio-dia ou tarde... Mas não tão bom amigo assim, ele não era preciso em números... assim como eu, que gostava mais de ensinos relacionados a área humana.

E esperávamos, e esperávamos, e esperávamos até que as três voltassem de sabe-se lá onde para o meio do mato – literalmente – para que pudéssemos ser treinados durante o dia e a noite, ser alimentado sem chamar a atenção ou então ajudar na busca por prováveis novos soldados – obviamente que isto apenas cabia a mim, o mais próximo de Maria.

Conseguimos arranjar mais quatro, e quanto mais tempo passava esperando que eles acordassem, nós íamos treinando... e quando acordavam, os incluíamos em nossas vidas, ensinávamos tudo e falávamos sobre tudo – preciso dizer que era eu o responsável por ajudar a explicar as coisas? Comigo as coisas se tornavam bem mais sutis, mais simples ou talvez a palavra correta fosse mesmo tranquilas.

Os nomes dos soldados – sim, Maria queria apenas soldados – e habilidades, algumas, eram preciosíssimas para nós: havia o Corey Ringer, que apesar de ser outro soldado nortista, tinha o dom de fazer com que as pessoas desaparecessem de um lugar e aparecerem de volta apenas um dia depois... Confesso que com ele me tornei amigo rapidamente – eu não queria saber para onde é que as pessoas iam parar neste um dia.

E tinha Robinson Peltz que se sugasse o sangue de outros vampiros, ele absorvia uma pequena quantia do que podia ser feito – nunca era o suficiente para um grande ataque, mas já dava para ele nos ajudar com investidas menores.

Jared Morris, um homem que aparentava estar perto dos quarenta anos, conseguia fazer com que os objetos que ele tocasse ficassem transponíveis temporariamente... – mas devo acrescentar que a sensação não era muito agradável, principalmente se você estivesse olhando para o objeto. Se eu cheguei a pensar que as três mulheres do grupo eram fantasmas, naquela hora eu poderia facilmente dizer que eu era um fantasma, ou estivesse agindo como um.

E por fim, meu primeiro arrebatado, o general sulista Granter Bower, extremamente inteligente e estrategista militar. Ah, como eu me orgulhava deste...

Esquivando-me do perfil de cada um que aqui estava conosco, aos poucos a lembrança do mais doce e fresco sangue preencheu a minha boca com saliva – ou veneno, como preferir – e a dor e queimação por falta de sangue voltou à minha garganta rapidamente. Ela chegou tão rápida, que cheguei a brincar comigo mesmo que ela tinha o dom da velocidade.

Impaciente, fui ao encontro de Maria para saber da nossa viagem e quantos de nós iríamos juntos – como eram três as nossas mestras, nós nos dividíamos em três para acompanhá-las.

Sabe, a mudança de ares alimentares, ao qual eu já deveria estar habituado, me deixava excitado com as probabilidades de encontrar alguém bem grande, cheio do líquido vital para minha vida. A sede apenas crescia incessantemente dentro de mim, e quanto eu lembrava de minhas vítimas anteriores, mais a quantia de veneno crescia em minha boca.

Quase cheguei a babar, por mais idiota que isto fosse.

Cheguei a Maria, que estava desembaraçando seus negros cabelos à beira de uma lagoa, e a perguntei.

“Bem, quando vamos? Já podemos ir?”

Ela me olhou incrédula com a agressividade que minhas palavras haviam saído de meus lábios.

“Por que tanta ansiedade assim, Jasper, meu querido?”

“Olha, é só que eu quero ir...”

“Ok” ela me respondeu se levantando e vindo se postar ao meu lado, “vamos já então, não quero você manipulando os outros também. Um ansioso impaciente pode me dar trabalho demais, vários assim será impossível de controlar. De qualquer jeito, vamos a Highlands.”

Assim que ela me respondeu, voltamos correndo em nossa super velocidade vampírica à pequena clareira onde estávamos alojados temporariamente.

A caminho, não pude repreender a corrente de meus pensamentos e idolatrar as ordens que ouvia vir de Maria, mesmo que destinado aos outros e não a mim.

Nossa viagem tomou início, mas não demoraríamos mais que meros dois minutos para chegar à cidade – na verdade, minha primeira cidade, pois não tínhamos a licença para ir a qualquer lugar deliberadamente assim. Precisávamos ir acompanhados para que os tão poderosos Volturi não possam interferir – e olha que eu estava realmente me esforçando para no mínimo pensar que eles eram importantes...

Highlands: esta era a nossa próxima parada, nosso novo destino. Apesar de ser uma pequena cidade, e eu estar perdendo a cabeça já para ir de encontro a uma grande cidade, seja lá qual for, eu ainda estava obedecendo as ordens pela qual eu estava sendo destinado.

Apenas se alimentar, não transformar. Isto já me estava claro, muito bem explicado por todos os menores.

Em pouco tempo, como eu já afirmei, chegamos e entramos sorrateiramente pelos bairros mais escuros. Seja quem fosse o infeliz que entrasse em minha frente... bem, como eu já o chamei de infeliz, creio que não preciso explicar detalhadamente o que há de acontecer com ele...

2 comentários:

Izinhabr disse...

Oi. Essa fik é bastante interessante. Porém acredito que a data de transformação de Jazz esteja equivocada. Segundo me consta, ele foi transformado aos 19 anos em 1863 e não aos 17 em 1861. Um pequeno erro mas que não afeta a qualidade da história de vcs, parabéns

Marcela disse...

Não foi com 20 anos?

Postar um comentário

blog comments powered by Disqus
Blog Design by AeroAngel e Alice Volturi