“Quem são vocês?” Maria perguntou.
O mais velho e baixo resolveu responder, mesmo que confuso com a visita.
“Sou Edmundo, e este é Vincente” ele disse apontando com a mão esquerda para o velho vampiro – que nem era tão velho assim, por volta dos quarenta anos. “E este é o nosso clã. Pequenino, mas pelo menos é nosso!” ele disse rindo – esse cara tem problema... Se soubesse o motivo de nossa visita não ficaria rindo à toa...
“Hmmm...” Maria disse pensativa, “são só vocês dois e estes pirralhos?”
Um dos “pirralhos” se irritou e foi para cima de Maria. Eu não iria aceitar uma ofensa assim, portanto, logicamente que entrei na frente de Maria para que o infeliz não se atrevesse a fazer algo contra ela.
“Olha aqui sua vampira esquisita” ele disse em tom de ofensa fazendo questão de enfiar o dedo na cara de Maria – mas eu estava na frente, então estava com o dedo a poucos milímetros da minha cara –, “não somos pirralhos coisíssima nenhuma. E você não tem direito algum de nos chamar assim! E já vou lhe avisando, se disser mais uma vez eu juro...”
Ah nãao, por que deixá-lo terminar a frase quando eu podia naquele mesmo instante acabar com ele? Ele estava tão exposto ali na minha frente. Aquele pescocinho tão fino gritando: “me torça, me quebre!!!”
Eu não podia deixar que essas coisas passassem em branco assim na minha frente!
Em meio segundo, agarrei-o pelo pescoço e o torci em dois Sem dó, nem piedade. Jasper, o cruel! Mas ele era fraquinho, coitado! Caiu no chão e então apenas “endireitou” seu pescoço com umas leves massagens no local.
Ele se levantou, e percebi que ele estava bravo, realmente bravo. Furioso, eu diria. Mas a sorte ainda estava comigo. Antes que ele pudesse me atacar, manipulei suas emoções o deixando em, digamos, estado crítico.
A mais pura das melancolias internas de uma pessoa amaldiçoada veio-lhe à tona. Ele mal pode dar um passo. Apenas caiu novamente de joelhos no chão e começou a soluçar – já que chorar não tem como mesmo...
Olhei para os demais, e todos me olharam espantados. Ninguém falou ou sequer se mexeu um fio de cabelo. Edmundo não respeitou o minuto de calma e espanto, e retomou a fala.
“Meu caro rapaz, você é magnífico. Gostaria de se juntar a nós?” – havia luxúria em sua voz. E quanto mais eu me misturava com essas pessoas em batalhas, eu percebia que este era um sentimento extremamente presente. Quase que obrigatório.
Não gostei da proposta. Apenas balancei negativamente a cabeça.
“Jasper é meu transformado! Não venham pôr essas suas sujas mãos em cima dele!” Maria me protegeu como uma leoa protegendo seus filhotes. Saí de sua frente – ninguém gostaria de continuar na frente de alguém, como Maria, prestes a arrancar o olho da face do outro.
Ele se assustou com a força que suas palavras saíram de sua boca.
“Quer dizer então que você tem um clã também?”
“Não, meu querido, estes vampiros atrás de mim só estão aqui por que sou viajante e vim lhes mostrar o turismo da cidade!”
“Ahhh...” – sim, ele era realmente muuuuito burro. Esse deve ser o dom dele...
Olhei para Maria que o olhava com estranha expressão. Seus sentimentos passaram de raiva para confusão em um milésimo de segundo. Ela me olhou boquiaberta com “tamanha inteligência” do homem – ou falta dela, para ficar melhor...
“Alberto, levante-se do chão” Vincente disse para o que havia atacado Maria e a mim, “não se intrometa em assuntos que não são seus!”
Ele bem que tentou levantar, mas não conseguiu. Vincente se irritou. “Mas que diabos! Eu já disse para você se levan...”
“Sim, disse, mas eu não quero ele de pé!” lhe respondi antes que pudesse terminar.
“Ah, então você manipula o cérebro das pessoas?” Edmundo disse.
“Não, mas ele pode se quiser, não é Jasper?” Maria disse, primeiro ao Edmundo e, ao fim, para mim com um rápido piscar de olhos. Compreendi o que ela queria.
“Sim, posso!” conclui.
Todos se espantaram, e então, para terminar o primeiro bloco do show, deixei que Alberto se levantasse. Ele pestanejou no chão e então me olhou confuso. Pouco tempo depois foi se levantando lentamente, como se estivesse incerto se deveria fazer aquilo ou não.
Em pé, correu para trás de Vicente – novato! Ri com essa ideia.
“Não ria de meu Alberto!” Vincente o protegeu.
“Por que não?! Algum motivo em especial?” o provoquei.
“Ele é meu filho caçula... e não se intrometa mais em meus assuntos!”
“Filho caçula? Ah que ridículo...” Nettie disse. Carlos Antônio, que estava a seu lado, tentou abafar uma risadinha – não conseguiu, é claro...
“Qual o problema disso?” Vincente disse, se irritando cada vez mais.
“O problema é que você é tão inseguro ao ponto de transformar seu próprio filho. Você é ridículo, sim!” Lucy, a destemida, disse.
De prontidão, Vincente já estava face a face com Lucy – talvez fosse desigual o enfrentar. Ele era pouco mais alto que ela...
“Não... repita... nunca... mais... isso... sua... vagabundinha...” ele disse pausadamente, como se ela estivesse com problemas de audição.
Daniel não gostou nada daquilo – nem todo o resto dos vampiros – e então atacou de frente Vincente.
Todos se afastaram para admirar aquele combate. Um tentava arrancar a cabeça do outro, talvez os membros. Cada estrondo que se ouvia, era um ataque desferido no outro.
Mas, com o maravilhoso ensino de combate que tivemos, Daniel não tinha como perder. Vincente era velho e não tinha treinamento algum. Ao fim de um minuto e treze segundos – sim, deu tempo de contar –, Vincente estava em pedaços no chão.
Daniel não pensou duas vezes, pegou um caixote de madeira em um canto da calçada e ateu fogo. De parte em parte, ele jogou Vincente inteiro naquele fogaréu.
Achei graça daquilo. Ele havia terminado tão rápido e sequer tinha se cansado.
Alberto não gostou do que viu, e creio que até chegou a pensar em ir vingar a morte de seu pai lutando contra Daniel, mas então olhou para mim e recuou. Edmundo, que apenas havia ficado mudo em sua posição de antes, olhou para Maria e então quis conversa séria.
“O que vocês querem?”
“Vocês mandam nesta cidade?” Maria o questionou.
“Sim, por quê?”
“Agora não mandam mais...” ela o respondeu olhando em seus olhos, mas então os desviou e foi em direção aos vampiros atrás de nós.
Todos saíram de direção aos cinco ali presentes. Isso não demoraria nada. Menos de meio segundo, talvez. Uns tentaram ganhar tempo fugindo, o que nem é preciso dizer que não deu certo. Éramos quase vinte contra cinco. Uma vantagem de quatro vezes maior para ter a cidade.
Nem me dei ao trabalho de capturá-los – o combinado no caminho tinha sido que, todos capturariam e então Maria mesmo iria os decepar.
Fiquei junto de Maria, Nettie e Lucy. Maria estava apreensiva, não queria que tudo demorasse muito ou causasse muito estrago à cidade, que em breve seria dela. Nettie e Lucy estavam se divertindo com aquela visão de caça, vendo os “pirralhos” correndo sem saber aonde ir.
Como disse, em pouquíssimo tempo estavam todos segurando os cinco vampiros com os braços presos nas costas. Maria se levantou – eu, Maria, Nettie e Lucy estávamos sentados na guia – e foi em direção a eles.
O primeiro, Alberto, a olhava com raiva e tristeza. Estava chateado porque não tinha mais o pai por perto – ow tadinhoo... (isso foi puro sarcasmo, ok?!) Ela parou e o encarou profundamente em seus olhos. Resolveu acariciar sua face, o que lhe deu nojo, apesar de, nela, dar o gostinho de vitória. Sua presa estava em suas mãos, por que não estaria feliz com a sua luxúria?
Passou-lhe a mão pelos negros e grossos cabelos. Ele estava assustado, ela estava feliz e o mundo continua agindo com os opostos no cotidiano – maravilha! (sarcasmo número dois). A sua mão que estava no cabelo escorregou e pousou em suas bochechas. A outra se levantou e foi em direção a bochecha.
Ele continuava assustado, apesar de tentar demonstrar coragem e orgulho. Boboca! Ele sabia que não conseguia mentir para mim – ou pelo menos sabia metade disso...
Suas mãos deslizaram levemente pelas bochechas e repousaram sob o maxilar. Ela tinha os movimentos tão leves que, se eu fosse qualquer um, diria que ela estava sendo realmente amigável e sensível com ele. Se eu fosse qualquer um...
Então, antes mesmo que fosse possível dizer “cucaracha”, ouve um forte estalado e um som abafado de um objeto pesado caindo no chão. A cabeça. Foi-se uma.
Ela caminhou em direção ao próximo.
“Qual seu nome?” ela disse carinhosamente. Ele balançou a cabeça negativamente, não diria uma palavra. Ok, isso parecia um trabalho para mim.
Fui até ele e pousei minha mão sobre seu ombro.
“Bernardo, senhora. Meu nome é Bernardo.” Sim, eu sou demais!!!
“Ótimo” Maria disse completamente feliz. Percebi que minha parte já tinha acabado, então voltei à guia com Nettie e Lucy.
Novamente, o mesmo processo. Cabelos – desta vez loiros –, bochechas e maxilar. Crack! Pouff... Mais uma cabeça.
Ela caminhou até o próximo. Oops... próxima!
“Qual seu nome querida?” Maria a perguntou.
Ela tremia de medo, e visivelmente vi que ela também não iria falar o nome de bom grado. Testei seu reflexo e fiz movimentos como se fosse levantar até ela. Ela congelou de medo de vez, e então resolveu abrir a boca.
“Estela, senhora. Estela Fuerza, senhora.”
“Hmm... poderoso nome, não?!” ela disse, ainda sem chegar no “cabelo, bochecha e maxilar”. Estela não respondeu. “Você é companheira de alguém daqui?”
“Não, senhora.”
“Está aqui por qual motivo então?”
“Porque Vincente me ensinou tudo o que sei e então fiquei com ele.” – Bem disso eu entendia...
“Mas você teve chances de sair daqui, não?!”
“Sim.”
“E não fez?”
“Não.”
“Por que?...”
“Porque ele me ensinou e quis ficar aqui. Não vi nenhum problema nisso naquele tempo e ainda não vejo agora!”
“Mesmo que Vincente tenha ido embora?”
“Sim.”
Maria suspirou – esta era mais teimosa que ela, e ela sabia disso. Não ia continuar a ir contra ela. Agora sim, o procedimento. Passou os dedos pelas mechas douradas e encaracoladas de seu cabelo – de longe pude sentir o cheiro agradável de camomila que seus cabelos tinham (e isso não é sarcasmo!)
E bochechas rosadas, e maxilar. Crack! Pouff... Próximo! (sempre quis dizer isso, mesmo que mentalmente...)
“Seu nome?”
“Esteban.” Este era rude – até demais.
“Hmm...”
Percebendo isso, Maria não se demorou muito nele. Cabelo, bochecha, maxilar, crack! E pouff... Rápido!
Por fim, ficou Edmundo, o que tem o dom de burrice – que, para mim, não é nenhum dom...
“Olha só quem sobrou...” Maria disse indo em sua direção. “Edmundo, não é?” – ele apenas assentiu com a cabeça. “Sabe que eu poderia te deixar livre? Você me parece tão inocente...”
Com aquilo, todos – realmente todos – olharam espantados para Maria. Era um verdadeiro milagre se ela livrasse algum da morte... E não estávamos acostumados com isso.
“Seria ótimo se me fizesse isso. Eu poderia ficar com vocês, e respeitaria tudo o que você me dissesse” ele disse, uma pontinha de esperança surgindo.
“Nãaaao... não quero você comigo, e se... pensando bem, se deixasse você vivo, você poderia começar tudo de novo! Nãaao...” Maria disse brincando – e acabando com toda a esperança do pobre ali em pé.
O mesmo procedimento – precisava repetir? Cabelo, bochecha, maxilar, crack! E pouff...
“Joguem todos no fogo! Esta cidade agora é minha... e suas também” ela acrescentou ao perceber o começo de um rosnado brotando na garganta de Nettie.
...
Passamos o fim da noite em Apodaca mesmo à luz da fogueira acendida.
Maria, de repente, veio se juntar a mim em um caixote. Ela sentou – no pouco pedaço que restava do caixote – e então percebi que ela estava realmente confiante com as vitórias dos últimos dias.
“Você está gostando de viajar?”
“Sim, pena que ficamos pouco tempo em cada lugar. E quando ficamos bastante tempo, é nesses lugares como esse: sem nada pra olhar...” – eu estava mesmo cansado dessa cidade, e olha que havíamos chegado há pouquíssimo tempo, no entardecer.
“Mais para frente conseguiremos um descanso, confie em mim!”
“Eu confio, mas queria que você não fosse tão maliciosa e tivesse tanta ganância. Eu sequer posso manipular você nessas horas que você ficar tão irritada!”
“Eu sei, esses dias estão sendo estressantes mesmo. Mas fique calmo, haverá uma hora que eu vou parar!”
“Eu só queria saber quando, ao certo. Você tem previsão?”
“Bem, só depois de um bom local do México, quem sabe do Texas...” ela disse pensativa. Felicidade crescendo nela novamente – a felicidade nela, e o cansaço em mim. “Olhe, realmente não sei... Desculpe-me!”
“Tudo bem... se um dia você parar mesmo e os Volturi não vier de novo, por mim tudo bem!”
“Um dia eu paro, mas por enquanto, só depois de Saltillo e Monclova.”
“Quem?”
“As duas próximas cidades que iremos fazer visitinhas aos nossos amigos de espécie...”
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