E Se Jasper Não Se Transformasse... - Capítulo 10: Minha Vez

[Jasper]

Eu já nem posso mais acreditar em tudo pelo que passei. Todas as risadas que eu dei, todas as lágrimas que derramei, todos os abraços que não me envergonhei em dar.

Segui muitos conselhos enquanto tive amigos para me dar. Fiquei bravo e irritado, às vezes, é verdade, não nego, mas creio que em muitas vezes aquela foi a reação mais adequada.

Passei muito nervoso algumas vezes, chegando a suar toda uma pequenina toalha de mão.

Tive inúmeras dores de cabeça... Algumas foram necessárias por conta de meus parentes, outras desnecessárias, por conta do negócio da família.

Enfim... Muitas coisas aconteceram sem o meu consentimento, mas eu aprovo as suas existências... É necessário sofrer para dizer que finalmente, eu vivi!

E eu posso afirmar que, durante todo esse tempo em que vivi, procurei fazer sempre o que era o melhor para mim e minha família.

Já estava começando a ficar difícil respirar. O ar que entrava queimava por todo o caminho que ele percorria.

Na realidade, tudo doía. Mas esses fatos continuariam às escuras... Afinal, todos já estão sofrendo comigo, por que então eu teria de deixá-los mais preocupados ainda?

Não era justo!

A enfermeira entrou no cômodo.

- Senhor, está na hora do almoço!

Almoço... Eu estava sem fome, mas se eu não comesse, meus pitocos ficariam preocupados...

- Obrigado, mas traga-me pouco, por favor!

- Mas, senhor...

- Estou sem fome!

- Está com dor onde? – enfermeiras sempre sabem que dói sem você falar sequer uma palavra... E eu tinha medo de enfermeiras por causa disso!

- Estou bem!

- Não precisa esconder as coisas de mim, senhor...

- Só está me incomodando aqui – depositei minha mão sobre meu tronco que subia e descia com fraqueza... Era o meu pulmão o que doía mais...

- O senhor prefere que eu faça uma massagem antes que o senhor se alimente?

- Não, muito obrigado. Apenas pegue a comida...

- Então, antes de ir, ajudarei o senhor a se levantar, ok?!

Ela me ajudou a me pôr sentado. Essa era um sensação estranha, pois assim eu tinha a visão total de meu quarto.

Tudo o que eu já havia feito, passado ou sentido naquele quarto, estava em minha mente... E eu estava justamente no cômodo que, muitas vezes, eu fiquei horas e horas com minha mulher, Duffy.

- Voltarei em breve!

A moça saiu, e então fiquei a sós com minha nostalgia do quarto.

Os sentimentos e os segundos aqui vividos começaram a arranhar a fina pele de meu consciente. Tudo se passava por mim agora...

De repente, tudo começou a se tornar fácil de lembrar. Eu podia lembrar tudo agora!

Eu não sabia se isso era uma coisa boa ou ruim, eu só sabia que meus olhos já estavam transbordando de lágrimas...

Era muita coisa para apenas uma pessoa...

E eu não sabia por mais quanto tempo eu conseguiria aguentar... Essa era a pior parte!

A enfermeira voltou com uma bandeja com a sopa batida e água.

Ela ajeitou a bandeja em uma das cômodas, e então trouxe até mim a banqueta de comer em cima da cama... Ela pegou a bandeja e a depositou em minha frente.

Ela encheu uma colher com aquele líquido e foi o trazendo em direção a minha boca. Ergui uma mão para tentar pegar a colher – eu não gostava de ser tratado como uma criança...

Minha mão tremeu e quase caiu – já que eu estava sem força – na sopa. A enfermeira não gostaria que isso acontecesse, tenho certeza disso!

Tentei recolhê-la, mas foi sem sucesso... A paciente enfermeira voltou a colher ao prato, e então me ajudou com meu membro.

Fiquei envergonhado pelo meu ato irresponsável.

- Desculpe-me!

- Está tudo bem, senhor. Esta tudo bem!

- Não, não está!

- É tudo por conta da doença, senhor... O senhor não tem motivos para pedir desculpas...

- Mas eu quis fazer isso... Meu braço não se moveu sem que eu quisesse...

- Mas eu acredito que o senhor tenha feito isso de boa fé, não por maldade!

- Eu só queria... queria pegar a colher!

Ela olhou carinhosamente para mim, e então fez o meu desejo. Pegou minha mão e ajeitou a colher entre meus dedos.

Como eu estava sem força, ela segurou meu braço e meus dedos para que a colher não se soltasse de lá e eu ficasse completamente sujo.

Consegui levar a colher em minha boca. Engoli a sopa de frango morna, e então ela me ajudou a buscar por mais líquido.

E assim foi...

Após o almoço desastroso – afinal me sujei todo mesmo com ajuda – a enfermeira veio me limpar.

Ela pôs um paninho seco logo abaixo da camisa suja, e então pegou outro pano úmido e começou a tirar as maiores manchas amareladas.

Mesmo não querendo, eu ainda me sentia como se fosse uma criança. Vendo-a me limpar, eu me lembrava de minha amada mãe limpando a minha camisa após derrubar suco de toranja, ou então depois de derrubar arroz com creme.

Ela sempre havia sido tão querida, tão... Adorada!

Sempre procurei demonstrar tudo o que eu já tinha sentido por ela! Eu errei com ela, mas graças a Deus tive tempo o suficiente para me redimir.

E quando eu pensava que ela me ignoraria, viraria as costas, ela fez justamente o contrário! Ela abriu a porta com um sorriso e lágrimas nos olhos. Assim que conseguiu sair de seu transe, ela apenas veio correndo até mim e me abraçou.

Agora essa realidade parecia tão distante!

Tanta coisa mudou desde aquele tempo!

Após me limpar, a enfermeira deu um jeitinho e começou a tirar a camisa suja. Ela a amontoou em um canto do quarto, e então pegou outra limpa.

Ela deu outro jeitinho e me pôs a camisa.

Isso ainda me lembrava a minha mãe.

Sem ter noção do que estava me acontecendo, senti o líquido quente e salgado escorrer e pausar em meus lábios.

A enfermeira parou e então pôs a mão em meu ombro.

- Está tudo bem?

- Sim, é só que... Me traz lembranças ver tudo o que a senhorita faz!

- Eu... eu... Desculpe-me!

- A senhorita não tem culpa! Ninguém tem...

Ela percebeu o tom sombrio em minha voz e então veio se sentar ao meu lado. Ela me abraçou. Aquilo foi demais para mim.

Caí no choro. E deixar que ela me visse daquele jeito era vergonhoso! Sempre aprendi a não chorar de frente a uma mulher, mas eu acreditava que agora, na situação em que me encontrava, eu poderia fazer sem me recriminar.

Não me policiei.

Liberei meus sentimentos e, então, as lágrimas aproveitaram.

Pouco tempo depois, eu já me encontrava aos soluços.

Isso fez com que ficasse mais difícil ainda de respirar.

Comecei a tossir... Nada era pior do que não conseguir respirar diariamente, e para piorar, eu ainda estar todo acumulado pelo choro.

Isso dificultou e muito a minha vida.

Comecei a respirar com muita dificuldade.

Eu quase não sentia mais o ar entrando.

Vi a enfermeira se desesperar e tirar a mesinha de cama correndo, sem se preocupar com a bandeja acima. Ela a depositou no chão mesmo, e então correu para me deitar.

Deitado, a situação continuou piorando.

Para falar a verdade, eu estava cansado. Eu estava cansado de ver meu pulmão trabalhando insistentemente desde quando eu era pequeno. Eu estava cansado de sentir o meu coração bombear todo o meu sangue.

E eles estavam cansados também.

- Senhor, senhor... Por favor, olhe para mim! Olhe para mim!

Fiz o que ela quis.

- Senhorita Dursty, a senhora é uma boa moça!

- Senhor, por favor, não fale muito! Isso só vai...

Chegou a hora! Eu sabia disso!

- Senhorita, pegue um papel e uma caneta!

- Mas...

- Um papel e uma caneta, por favor!

- Ok – e então ela saiu correndo. Ela abriu todas as gavetas das cômodas de meu quarto e começou a revirá-las. Por fim, ela conseguiu encontrá-los.

Ela veio até mim.

- Senhorita, sabe escrever?

- Sim, senhor!

- Então escreva, por favor: “Eu, Jasper Whitlock, deixo todos os meus bens para meus descendentes. Que as minhas propriedades e as terras sejam divididas entre meus queridos filhos, e que, se meus filhos permitirem, meus objetos sejam doados às instituições que precisem!”

- Mas, senhor, não acha que...

- Continue, por favor.

- Sim.

- “Meus netos poderão decidir com o que ficar de menor valor, mas meus filhos deverão ficar com tudo o que eu tenha de mais valioso. As casas, as terras, as plantações, as cabeças de gado... Tudo!”

- Senhor...

- Estou acabando. “Sempre amarei os que estiveram comigo! E não importa o que acontecerá ou para onde irei, sempre amá-los-ei! Agora, sinto que minha amada mulher, Duffy, me espera! Não posso deixá-la por mais tempo sozinha. Meu lugar é o mesmo em que ela está, e é por isso que peço a todos para que não se sintam chateados, pois eu não estarei!

“Com amor, Jasper Whitlock!”

A enfermeira ficou apenas me olhando.

- Posso assinar?

- Sim.

Ela estendeu o papel e me entregou a caneta. Risquei a superfície, e a entreguei de volta a caneta.

- Agora sele esta carta e mande alguém levá-la até Dean, meu filho mais velho!

Ela obedeceu de primeira, mas ao passar pela porta, parou e voltou alguns passos...

- Senhor, o senhor ficará bem?!

- Eu já estou bem, minha querida! Vá, pois não quero que me veja ir com minha mulher!

Ela pausou e, por fim, compreendeu o que eu estava querendo dizer. Uma lágrima riscou suas bochechas, mas então aceitou lentamente.

Ela abaixou a cabeça e partiu.

Agora seria a minha vez...

Fechei os olhos, e então senti Duffy perto de mim. Sua beleza continuava a mesma. Ela estendeu a mão para mim, que eu tentei a pegar.

Assim que consegui alcançar sua mão, senti a escuridão me envolver.

Agora eu estava saindo da minha solidão e estava voltando para o lugar onde sempre pertenci: o lugar onde minha mulher estava, sem me importar qual fosse!

FIM.

5 comentários:

Andreza Sega disse...

Muito triste, eu chorei no último capítulo!!!

Driih disse...

Ah,muito triste mesmo.

Maria B.S. disse...

Chorei no final! Muito triste, se o Jasper tivesse virado vampiro ele não teria morrido, mas também não teria conhecido a Duffy... =/ Amei a fic

Yasmin disse...

Triste mas é uma historia bonita mas como falou Maria B.S ele não morreria e conheceria a pequena Alice que não dever ter nem nascido ainda mas tbm ele não seria este homem que a autora descreveu sim um homem que ao logo das décadas se auto destruir de uma forma macabra e depois com o pouco que lhe restava tentar ressurgir do inferno literalmente mas nunca totalmente curado

Paula disse...

Gostei muito da fic. O final foi realmente emocionante. É sempre triste quando existe um fim, principalmente quando alguém morre.... Mas foi lindo... Só achei falta de alguns detalhes, como por exemplo a lua de mel, ou o nascimento dos filhos. A autora poderia ter feito um capítulo extra resumindo esses momentos. Ia ser perfeito. Mas foi lindo realmente. Amei as fics.

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