Solitário - Capítulo 54: Discussão

1945

A depressão continuava em mim.

Sempre que eu tentava alguma alternativa para fazer com que as coisas melhorassem, elas simplesmente aparentavam piorar três vezes mais. Eu estava cansado de lutar por esta batalha perdida. Não valia a pena...

Eu estava cansado desta vida, para falar a verdade...

Eu sentia aversão a isso, a matar pessoas, a beber o sangue delas... Não era algo que pessoas comuns deveriam fazer. Sempre tentamos nos passar por pessoas normais, mas nós não somos! Então por que mentir?

Peter e Charlotte, apesar de terem ficado chateados quando perceberam que meu caso não tinha diagnóstico, ainda continuam me mandando falsas esperanças. Eles sabem disso, mas continuam comigo.

Eles, apesar de civilizados, porém, não sentem a mesma aversão que eu estava sentindo. Éramos um grupo com indivíduos tão diferentes. Um grupo deve ter a ideia de conjunto, de unidade. E isso, literalmente, não era o que estava acontecendo...

Eles só querem a paz, sem lutas, brigas, mortes em vão... Essas coisas... Mas, a paz para eles significava outro tipo de paz para mim. Eles não queriam mais brigar, lutar, enquanto a minha paz consistia em parar de matar, qualquer um que fosse. Vampiro ou humano.

Eu não queria mais isso!

Eu não queria mais matar humanos! Eu não era assim! Nunca fui! Não posso ter me transformado tão rápido e ter perdido o pouco que tinha de compaixão para com o próximo.

Eu estava sendo contra a me alimentar, e isto piorava um pouco a minha relação com Peter e Charlotte. Cada dia que passava, nós ficávamos mais distantes.

Eles tentavam fazer algo contra isso, mas nunca deu certo. Algo faltava em mim, e isso estava me deixando louco.

“Jasper, você tem de se alimentar!” Peter concluiu.

“Não, estou bem assim!”

“Não, não está, e não discuta comigo!”

“Por que não? Você é meu pai, por acaso? Meu dono?”

“Jasper, sou seu amigo!”

“Então aja como um!”

“Estou agindo! Quero o seu bem!”

“Então pare, por favor!”

“Não posso, caso contrário você vai morrer de fome!”

“Vampiros não morrem de fome!”

“Como sabe? Não sabia de tantas coisas antes! Descobriu agora? Do nada?” – ele estava sendo sarcástico, e eu odiava quando ele agia desta forma comigo.

“Eu só sei!”

“Não, você não sabe, Jasper! Você não sabe o que está fazendo!”

“E você sabe?”

“Sim!”

“E o que estou fazendo, por acaso? Qual meu erro?”

“Você não está se alimentando! Pelo amor de tudo o que é sagrado, Jasper, você tem de se alimentar!”

“Mas alimentar implica em morte!”

“Nem sempre! Se você conseguir se dominar, se auto controlar...”

“SE, Peter, se!”

“Ok, mas você não pode simplesmente entregar o jogo!”

“Eu não estou fazendo isso!”

“E está fazendo o quê? O bem para a humanidade?”

“Sim!”

“A humanidade não sabe que você existe, Jasper. Mas nós sabemos, Charlotte e eu sabemos!”

“E por que eu deveria fazer o que VOCÊS acham ser melhor?”

“Porque é o resultado mais racional que existe?”

“Agora é racional se entregar aos instintos? Ao emocional? Ao irracional? Legal, não sabia disso!”

“Não seja irônico!”

“O mesmo serve para você!”

“Meninos, por favor, parem, ok?!” Charlotte disse já ao meu lado. Ela sentou-se e pôs uma mão em meu ombro. “Eu entendo que você está passando por maus bocados, querido. Mas você tem de entender que nós apenas queremos o que é melhor para você! E ficar sem sangue não é a melhor das alternativas!”

“Desculpe-me Charlotte, eu não quero chateá-los, mas acontece que, às vezes, a impressão que eu tenho é que vocês não acreditam em mim! Somos tão diferentes!”

“Eu acredito em você, Jasper, independentemente do que Peter diz ou faz.”

“Obrigado” respondi acanhado.

“E é por isso que eu quero, então, que você me diga o que você acha melhor para si mesmo!”

“Eu... eu...” tentei buscar por palavras que pudessem interpretar o real significado de tudo o que eu sentia, mas as palavras apenas ficavam em minha mente, elas não conseguiam sair...

“Peter, meu amor, por que não vai dar uma volta?”

“Tem certeza, querida?”

“Tenho!” – eles trocaram um beijinho e então Peter partiu ao Sul, desaparecendo por entre o verde das matas da Flórida. “Jasper, você quer conversar sobre o que você sente?”

“É difícil de explicar!”

“Eu sou uma vampira e tenho a eternidade. Não se preocupe!”

“É que... Peter e você são tão diferentes de mim! Vocês tem um ao outro quando precisam, podem sempre contar um com o outro, vocês se completam...”

“Nós três temos um ao outro neste grupo, Jasper. Peter e eu somos um casal, mas você é parte de nós também. Você é nossa família!”

“Mas não é a mesma coisa! Vocês... não sei, são diferentes quando estão comigo!”

“Em que sentido?”

“Vocês tem as suas preocupações... Eu não quero atrapalhar vocês...”

“Mas nunca atrapalho, Jasper!”

“Como não? E quando tentei me matar e fiz com que viajássemos novamente? E quando eu saí na luz do dia e algumas senhoritas me viram? E quando destruí objetos, casas...”

“Jasper, isso não nos importa!”

“Pois deveria importar!”

“Há outras coisas que nos preocupamos mais!”

“Como o quê, por exemplo?”

“Você!”

“Perca de tempo!”

Ela bufou, havia perdido a paciência. E as esperanças...

“Jasper, tem algo a me falar ainda? Algo profundo?”

“Obrigado por vocês me apoiarem tanto, mas sinto que estamos sendo separados... Agradeço muito a vocês, por tudo o que passaram por minha causa!”

“Não agradeça, Jasper. Fazemos isso porque te amamos!”

“Também amo muito vocês dois, Charlotte” suspirei, e ela se jogou em meus braços em um forte e amigável abraço, “mas uma hora, a minha situação ficará fora do controle!”

“Então ficarei contigo para verificar que não saia do controle!”

“Aham... Obrigado!” – impossível, mas... obrigado!

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