Olhos Vermelhos: Elissa

Eu olhei para o céu em súplica. Olhei para o céu, pedindo para voltar no tempo. Tudo aquilo parecia irreal, porém nada se comparava à sede. Uma sede insaciável, uma sede incontrolável. Eu precisava de mais sangue. Meus cabelos vermelhos e lisos eram facilmente confundidos com a coloração de minha boca. Boca que estava suja com a vida e alma de alguém, e por isso meus pensamentos latejavam em culpa. Nem esse fato me impedia de querer cegamente mais daquele veneno vermelho, que sem dúvida corroeria a ética de vida que eu sempre acreditei ser a certa. Porque afinal de contas, ela era a certa.

A pequena menina loira não tirava seus intensos olhos reprovatórios de minha figura encolhida, contra a suja parede. Isso só me deixava mais amedrontada e imprensada contra o concreto. Seu manto preto protegia-lhe do sol. Pensei em atacá-la novamente.

- Você não está pensando em tentar me atacar novamente, está? – A menina me olhava com um ar de sarcasmo, enquanto meus olhos recusavam a encarar seu pequeno corpo esguio. Como uma criatura tão pequena podia causar tanta dor, somente com um olhar? – Posso lhe garantir que esse seu dom é bem útil, novata. Mas não mais útil do que o meu…

E então, ela o fez. Encarou-me com aqueles enormes olhos vermelhos, e eu pude sentir seus atos. Ela usaria a dor para me torturar mais uma vez, e eu não estava pronta para isso.

- Pare de atormentar a menina, Jane. Só a sede que ela deve estar sentindo já é um grande castigo. – A voz masculina ecoou sobre o beco escuro. Novamente olhei para cima, pensando em um jeito de escalar todo aquele concreto. – Vamos levá-la à Aro, ele ficará feliz em conhecer a possível mais nova integrante da família Vol…

O garoto parou de falar no momento em que nossos olhos se encontraram.

- E você se chama? – O vampiro estendeu a mão, e eu como ato reflexo me empurrei para mais perto da parede. – Vamos, não precisa ter medo. Meu nome é Alec, eu não te tratarei como minha irmã o fez. – Jane o olhava com descrença, parecia não acreditar nas palavras pronunciadas pelo irmão. E sendo estranho ou não, eu acreditei nelas. Xinguei-me mentalmente pelo o que estava prestes a fazer, mas aqueles olhos rubis tinham algo a mais.

- Me chamo Elissa. – Peguei em sua mão igualmente gelada, e me levantei com rapidez. Em vez de soltá-las no momento em que me ergui, Alec continuou segurando minhas mãos com firmeza, quase com afeto. Olhei para seu rosto resplandecente. E pela primeira vez, sorri para alguém de olhos vermelhos.

Autora: Raíssa Velten